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A12 QUINTA-FEIRA, 26 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Metrópole
Mateus Vargas / BRASÍLIA
A covid-19 pode exigir R$ 410
bilhões a mais dos cofres pú-
blicos para que o Sistema Úni-
co de Saúde (SUS) consiga
atender a população infecta-
da. A projeção está registrada
em documento, obtido pelo
Estado, enviado na terça-fei-
ra pelo ministro da Saúde,
Luiz Henrique Mandetta, a
Paulo Guedes, da Economia.
Apesar do discurso do presi-
dente Jair Bolsonaro, que tenta
minimizar a gravidade da doen-
ça, o documento expõe a preo-
cupação do ministério com o au-
mento das despesas para tratar
um número cada vez maior de
pessoas infectadas.
Para chegar à cifra de R$ 410
bilhões, a equipe da Saúde proje-
ta, por exemplo, o custo de R$
9,31 bilhões para internações,
caso 10% da população seja con-
taminada. O valor é “conserva-
dor”, segundo o mesmo docu-
mento, “sendo necessário, as-
sim, um aporte maior de recur-
sos emergenciais”. O orçamen-
to do Ministério da Saúde pre-
visto para todas as ações da pas-
ta neste ano é de cerca de R$
125,5 bilhões. O documento en-
viado a Guedes afirma que, “co-
mo na maioria dos países”, os
números de infectados no Bra-
sil têm crescido de forma expo-
nencial. “E há indícios de que
estejam subestimados.”
A Saúde ainda alerta que a pre-
venção de uma epidemia se tor-
na mais desafiadora e cara quan-
do há falhas na prevenção de
surtos. “A mitigação da epide-
mia continua sendo a única op-
ção política. Atrasos na detec-
ção e controle são, em última
análise, muito caros, porque os
custos de contágio e mitigação
crescem exponencialmente.”
Depois de Mandetta afirmar
que o SUS poderia entrar em
“colapso” em abril pela covid-
19, o presidente Jair Bolsonaro
tem reforçado discursos em
que minimiza os riscos. Mesmo
integrando grupo de risco, por
ter mais de 60 anos, Bolsonaro
já afirmou que não teria proble-
mas com a doença pelo seu “his-
tórico de atleta” e disse que “de-
pois da facada, não vai ser uma
gripezinha” que o derrubaria.
Apesar de usar termos mais
leves, Mandetta tem modulado
seu discurso ao do chefe. “An-
tes de adotar o ‘fecha tudo’, exis-
te a possibilidade de fazer redu-
ção de mobilidade urbana, exis-
te uma série de medidas que vai
se tomando até que se tenha um
patamar”, disse o ministro nes-
ta quarta-feira. Mais cedo, em
reunião de Bolsonaro com go-
vernadores, Mandetta já havia
pedido “tranquilidade” e “cal-
ma” durante a crise.
Urgência. Os dados sobre o im-
pacto orçamentário da crise pe-
la covid-19 foram expostos co-
mo parte de justificativa para
elaborar um projeto com finan-
ciamento de US$ 100 milhões
(R$ 503 milhões, considerando
a atual taxa de câmbio) do Ban-
co Mundial para compra de tes-
tes de diagnóstico, custeio de
serviços “pré-clínicos” e contra-
tação de equipes de saúde para
atuarem emergencialmente.
Mandetta afirma a Guedes que
o apoio do Banco Mundial per-
mitirá dar “maior celeridade”
nos processos de compras e con-
tratações para combater a co-
vid-19. “Ressalto a necessidade
de urgência de apreciação do
pleito”, escreveu. Uma das
ideias do governo é usar a parce-
ria com o banco para adotar no
País serviço de telemedicina pa-
ra atendimentos de triagem de
pacientes com sintomas. Para
isso, seriam investidos US$ 10
milhões (R$ 50,3 milhões).
A Saúde também considera
“urgente” a busca por profissio-
nais da área. A ideia é usar US$
62,4 milhões (R$ 313,8 milhões)
para contratar emergencial-
mente, especialmente para
atuar durante três meses em
centros de terapia intensiva (C-
TIs). A pasta quer ainda recur-
sos do banco para compra de mi-
lhares de testes de diagnóstico.
O governo anunciou na terça-
feira que pretende ter mais de
22 milhões de dispositivos para
exames. O projeto prevê a com-
pra de testes para 1,53 milhões
de pessoas sintomáticas, no va-
lor de US$ 27,6 milhões.
A proposta obtida pelo Esta-
do afirma que os testes rápidos
da doença devem ser usados co-
mo “ferramenta para auxílio no
diagnóstico”. “Resultados nega-
tivos não excluem a infecção
por SARS-CoV-2 e resultados
positivos não podem ser usa-
dos como evidência absoluta. O
resultado deve ser interpretado
por um médico com auxílio dos
dados clínicos e outros exames
laboratoriais confirmatórios”,
diz o documento.
Procurado, o Ministério da
Saúde confirmou que pediu um
financiamento ao Banco Mun-
dial de US$ 100 milhões para
ações de combate ao novo coro-
navírus, mas não explicou o cál-
culo para chegar aos R$ 410 bi-
lhões do SUS que a crise pode
exigir. O Ministério da Econo-
mia, por sua vez, disse que o as-
sunto deve ser tratado com a
Saúde.
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Doença pode custar R$ 410 bilhões ao
SUS, estima o Ministério da Saúde
lJustificativa
José Maria Tomazela
SOROCABA
Em pelo menos 22 Estados bra-
sileiros governadores e prefei-
tos já tomaram medidas de iso-
lamento contra o coronavírus,
como o fechamento de divisas,
bloqueios em estradas e rios, e
suspensão do transporte de pas-
sageiros. Em vários Estados,
prefeituras decidiram isolar ci-
dades por conta própria, insta-
lando barreiras físicas ou sanitá-
rias em seus acessos. Também
já há ilhas fechadas para não mo-
radores e ao menos nove cida-
des com toque de recolher.
Em São Paulo, na terça-feira,
a Justiça autorizou a prefeitura
de Caraguatatuba a realizar blo-
queio na Rodovia dos Tamoios,
principal acesso ao litoral nor-
te. A barreira sanitária foi insta-
lada na praça de pedágio do km
82, onde os motoristas têm a
temperatura medida com ter-
mômetro. Doze cidades turísti-
cas do litoral estão com as
praias interditadas. A restrição
começa em Ubatuba, no litoral
norte, e vai até Cananeia, no ex-
tremo sul. São Paulo não fe-
chou as divisas com outros Esta-
dos, mas ontem havia uma bar-
reira no trecho urbano de Itara-
ré, na divisa com o Paraná.
Um decreto do governo de
Minas Gerais proibiu ônibus e
vans de passageiros de atraves-
sar as divisas estaduais e o go-
vernador do Espírito Santo, Re-
nato Casagrande (PSB), suspen-
deu por tempo indeterminado
a circulação do trem que liga Vi-
tória a Belo Horizonte. O gover-
nador Wilson Witzel (PSC), do
Rio, suspendeu o transporte in-
terestadual por ônibus e aviões.
Interior. Em São Paulo, ao me-
nos 30 cidades colocaram bar-
reiras físicas ou sanitárias nos
acessos e há casos de toque de
recolher. Em Itápolis, veículos
e pessoas a pé nas ruas entre
20h30 e 6 horas são abordados
por agentes municipais. O to-
que de recolher determinado
pela prefeitura prevê a apreen-
são de carros e a condução força-
da de pessoas à residência. Os
poucos veículos que circula-
vam eram de trabalhadores em
serviços essenciais, como pro-
fissionais da saúde. Na primeira
noite, houve apenas advertên-
cia, sem multas.
A prefeitura de Ibitinga tam-
bém decretou toque de reco-
lher das 22 às 6 horas. Nas duas
cidades, o comércio está fecha-
do e o transporte coletivo foi
suspenso. Restaurantes só po-
dem funcionar com delivery, e
durante o dia.
Em Atibaia, a prefeitura man-
dou fechar os acessos com bar-
reiras para restringir a entrada
de ônibus e veículos de fora. As
nove entradas de Santa Fé do
Sul também foram bloqueadas.
Em Itatiba, a prefeitura insta-
lou 22 barreiras físicas para iso-
lar a cidade. Nesta terça, o Tri-
bunal de Justiça mandou libe-
rar o acesso de turistas aos mu-
nicípios de São Pedro, Águas de
São Pedro e Santa Maria da Ser-
ra, isolados por barreiras. Os
prefeitos atenderam à determi-
nação, mas mantiveram o con-
trole de ônibus com visitantes
em vias internas.
HC libera 900
leitos para casos
de coronavírus
Fábrica deve levar 15 dias para fornecer respiradores. Pág. A13}
NILTON FUKUDA/ESTADÃO
“O apoio do Banco Mundial
permitirá dar maior
celeridade nos processos de
compras e contratações.
Ressalto a necessidade de
urgência de apreciação do
pleito.”
Luiz Henrique Mandetta
MINISTRO DA SAÚDE
Projeção está em documento, obtido pelo Estado, enviado na terça-feira pelo ministro Mandetta a Paulo Guedes, da Economia. Prevê-se,
por exemplo, um custo de R$ 9,31 bilhões para internações, caso 10% da população seja contaminada; e esse valor seria ‘conservador’
São Paulo. Estão em fase acelerada as obras do hospital de campanha no Anhembi, que terá 1.800 leitos para atendimentos de baixa complexidade
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO
No interior paulista, ao
menos 30 municípios
colocaram barreiras
físicas ou sanitárias nos
acessos das cidades
Medidas de restrição
de tráfego já atingem
22 Estados brasileiros
Barreira. Servidor mede temperatura de viajante em Itatiba
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edomundo.
APRESENTA
APOIO
Bruno Ribeiro
Cerca de 900 leitos de interna-
ção do Instituto Central do Hos-
pital das Clínicas estão sendo
liberados para abrir espaço pa-
ra os casos do novo coronavírus
em São Paulo. Os pacientes que
ocupavam esses locais estão
sendo transferidos para outros
sete institutos do complexo
médico, na região central da ca-
pital. Cerca de 400 pacientes co-
meçaram a ser transferidos nes-
ta terça. Em nota, o HC descre-
ve a ação, sem precedentes, co-
mo uma “operação de guerra”,
para ampliar a capacidade do
hospital. A chegada de pacien-
tes com a covid-19 está progra-
mada para o início da próxima
semana.
“Os pacientes com outros
problemas, como vítimas de
AVC, enfarte e câncer, entre ou-
tros, ficarão mais protegidos do
risco de contágio por ficarem
em prédios sem os pacientes
com a covid-19. O mesmo ocor-
re com os profissionais de saú-
de que atenderão nos outros ins-
titutos”, informou o HC, ao jus-
tificar a operação. Do total, cer-
ca de 200 leitos são de Unida-
des de Terapia Intensiva (U-
TIs), que devem se somar a ou-
tros hospitais, como o Instituto
de Infectologia Emílio Ribas,
que é vizinho ao HC. A progra-
mação do hospital prevê a am-
pliação em mais 100 leitos de
UTI nesta semana.
O HC, entretanto, não recebe-
rá pacientes diretamente em
sua porta. Ali só serão atendi-
dos casos transferidos de ou-
tras unidades de saúde. Por is-
so, a recomendação é para que
pessoas que apresentem sinto-
mas da doença procurem o pos-
to de saúde mais perto, e não o
Hospital das Clínicas.
Anhembi. Estão em fase acele-
rada as obras dos hospitais de
campanha que a Prefeitura vai
instalar no Anhembi e no Está-
dio do Pacaembu. No Anhembi,
serão 1.800 leitos para atendi-
mentos de baixa complexidade
em parceria com o Hospital Al-
bert Einstein.
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