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B6 Economia QUINTA-FEIRA, 26 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Fabrício de Castro
Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA
Os gastos de brasileiros no exte-
rior somaram US$ 881 milhões
em fevereiro, informou ontem
Banco Central. Esse foi o me-
nor valor para este mês em qua-
tro anos e foi registrado em
meio à disparada do dólar e à
escalada das tensões acerca da
pandemia do novo coronavírus.
Vale lembrar que a pandemia
ganhou corpo em março, quan-
do se intensificaram as restri-
ções de deslocamento entre paí-
ses. A tendência é de que os da-
dos de março, a serem divulga-
dos apenas em abril, reflitam de
forma ainda mais intensa os
efeitos do coronavírus sobre os
gastos dos viajantes.
Na comparação com fevereiro
de 2019, quando as despesas no
exterior totalizaram US$ 1,302
bilhão, a queda foi de 32,3%.
Em fevereiro, o dólar subiu
4,57%, no que foi a maior alta
para o mês desde 2015. Com a
alta do dólar, as viagens de brasi-
leiros ao exterior ficam mais ca-
ras. Isso porque as passagens e
as despesas com hotéis, por
exemplo, são cotadas em moe-
da estrangeira.
De acordo com dados do BC,
o mês também registrou queda
dos gastos de estrangeiros no
Brasil. Em fevereiro deste ano,
os estrangeiros gastaram US$
478 milhões no Brasil, com que-
da frente ao patamar registrado
no mesmo mês de 2019 (US$
542 milhões).
As contas externas do Brasil
registraram déficit de US$ 15,8
bilhões no primeiro bimestre
deste ano, com aumento de
27,5% na comparação com o
mesmo periodo dede 2019. Foi
o maior rombo para o período
desde 2015, ou seja, em cinco
anos. Mesmo assim, esse valor
ainda não leva em conta os efei-
tos da pandemia do novo coro-
navírus na economia.
O resultado em transações
correntes, um dos principais so-
bre o setor externo do país, é for-
mado pela balança comercial
(comércio de produtos entre o
Brasil e outros países), pelos ser-
viços (adquiridos por brasilei-
ros no exterior) e pelas rendas
(remessas de juros, lucros e divi-
dendos do Brasil para o exte-
rior).
Denise Luna/ RIO
A redução de 15% feita ontem
nas refinarias pela Petrobrás
levou o preço da gasolina ao
nível nominal mais baixo des-
de outubro de 2011, mas ain-
da não será agora que o consu-
midor deverá ter um alívio ex-
pressivo no bolso. A queda da
demanda, estoques com pre-
ços mais altos, pesados im-
postos e a mistura de 27% de
etanol devem manter ainda
por um bom tempo os preços
próximos aos que vêm sendo
cobrados atualmente nas
bombas.
Na avaliação de especialistas,
em meio à pandemia do corona-
vírus, mesmo sem o repasse to-
tal para o consumidor os postos
de abastecimento já estão so-
frendo, e se a crise perdurar se-
rá inevitável para alguns fecha-
rem as portas.
“O coronavírus reverteu uma
lei da economia, de que quando
o preço cai o consumo sobe. As
vendas já despencaram 50% e
mesmo com a oferta grande de
petróleo no mundo o consumo
continua caindo, e com os deri-
vados é a mesma coisa”, avalia o
diretor do Centro Brasileiro de
Infraestrutura, Adriano Pires.
Mesmo com a queda acumula-
da no ano de 40,5%, a gasolina
teve reduções tímidas nas bom-
bas dos postos, em um mês caiu
1,12%, de acordo com levanta-
mento da Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocom-
bustíveis (ANP).
Pires lembra que além da
drástica redução da demanda,
com a população em quarente-
na, os postos de abastecimento
também perdem receita com as
lojas de conveniência fechadas
por decreto em várias cidades,
enquanto os custos permane-
cem os mesmos.
Na semana de 15 a 21 de mar-
ço, último dado disponível na
ANP, a média do preço da gasoli-
na nos postos era de R$ 4,486 o
litro, sendo o maior preço regis-
trado na região Sudeste (R$
5,889/litro) e o menor na região
Norte (R$ 3,620/litro).
Estoque. “A queda da deman-
da faz também os estoques du-
rarem mais tempo. O que leva-
va 15 dias para girar e chegar na
ponta agora vai levar 30 dias ou
mais”, informa. “Para repassar
o preço vai demitir, e do jeito
que anda a demanda vai demitir
de qualquer jeito”, prevê, infor-
mando que alguns postos com
o tempo já devem começar a re-
duzir mais o preço, para tentar
atrair clientes, ou fecham as por-
tas.
Também para o analista da
Ativa Investimentos Ilan Arbet-
man, não existe mágica nessa
conta. Mesmo com o fechamen-
to em alta do petróleo ontem, o
mercado de petróleo ainda está
volátil e o preço continua abai-
xo de US$ 30 o barril, o que dei-
xa o setor bem nervoso.
Ele avalia que neste momen-
to as distribuidoras não podem
abrir mão de nenhuma mar-
gem, já que os custos com uma
série de serviços, suprimentos,
fornecedores continuam os
mesmos. “Estoques altos, mis-
tura de etanol, impostos, tudo
isso pesa muito e nesse momen-
to o que está sendo preponde-
rante é a margem”, explica.
O analista não vê, no entanto,
espaço para a Petrobrás fazer
novos ajustes no curto prazo,
depois de três anúncios de redu-
ção nos últimos dez dias, por-
que não vai querer comprome-
ter ainda mais o primeiro tri-
mestre da companhia. Além dis-
so, a estatal deve entender a difi-
culdade das distribuidoras e de-
la própria.
“Os repasses (de queda de
preço) poderiam ser ainda
maiores, mas Petrobrás está
vendo que o trimestre está mais
complicado e não se sabe quan-
do a crise vai acabar”, afirma Ar-
betman.
Como achatar a curva do desemprego?
l]
JOSÉ
PASTORE
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
lCaixa baixa
Dólar caro e coronavírus fazem
gasto externo de brasileiro desabar
lPara baixo
O
s epidemiologistas estão lu-
tando para achatar a curva
dos contagiados pelo corona-
vírus. Os analistas do trabalho, igual-
mente, buscam medidas para achatar
a curva dos desempregados. Isso para
viabilizar o oxigênio para os doentes e
a renda para os desempregados.
O confinamento prolongado provo-
cará uma devastação ciclópica na eco-
nomia brasileira. Os mais atingidos se-
rão os que trabalham por conta pró-
pria e como empregados nas peque-
nas empresas do setor terciário – pres-
tadores de serviços pessoais, profis-
sionais do entretenimento, dos res-
taurantes, agências de viagens, hotéis,
transporte, varejo em geral e também os
que vivem do trabalho por conta pró-
pria. As pequenas empresas não
dispõem de gordura financeira para pa-
gar salários e encargos sociais quando
não geram renda. Muitas demitirão an-
tes de quebrar; outras quebrarão antes
de demitir.
As medidas convencionais para pos-
tergar as demissões (redução de jorna-
da, banco de horas, férias coletivas,
layoff, etc.) se exaurem depressa no meio
de um tsunami gigantesco como este.
Muitas demissões já estão ocorrendo.
Como na pandemia, o desemprego vai
disparar se as dispensas dobrarem a ca-
da dois dias.
Para evitar tamanha catástrofe, é impe-
rioso acionar medidas para salvar empre-
sas, empregos e empregados no mais cur-
to prazo. Isso exige recursos gigantes-
cos. Rodrigo Maia sugere R$ 500 bilhões
para um orçamento de guerra. Armínio
Fraga adverte que o dinheiro deve ser
direcionado prioritariamente para as pe-
quenas empresas de modo desburocrati-
zado, rápido e quase automático. Assim
está sendo na Alemanha, que já destinou
¤ 866 bilhões para evitar a quebradeira
das pequenas empresas, e no Reino Uni-
do, na Irlanda e na Dinamarca, onde
imensos recursos públicos chegam às
empresas para aliviar o custo do traba-
lho na ausência de vendas. Nos EUA,
além dos US$ 2 trilhões aprovados pelo
Congresso, o Federal Reserve declarou
estar preparado para injetar o que for ne-
cessário para salvar empresas e empre-
gos. A rigidez dos manuais dos bancos
centrais está sendo substituída por
ações rápidas e ousadas, como é o uso de
reservas cambiais, a oferta de títulos pú-
blicos e até emissão de moeda – tudo pa-
ra garantir transferências de renda rápi-
das e diretas para empregadores, empre-
gados, autônomos e desempregados.
A pandemia não deixou escolhas: re-
médios raramente utilizados são minis-
trados em altas dosagens para proteger
vidas e empresas, deixando para depois
o combate aos efeitos secundários.
Reformar regras trabalhistas que en-
gessam e impedem as empresas de fazer
ajustes rápidos também ajuda. A Medida
Provisória (MP) 927 está nessa direção e
outras devem vir para completá-la. Mas,
sem as maciças injeções de recursos, so-
zinhas, MPs não têm força para dar so-
brevida às empresas e aos empregos.
A violência da hecatombe que se aproxi-
ma vai requerer medidas ainda mais pro-
fundas. A imprensa noticia que, para man-
ter seus empregos, os trabalhadores
das empresas aéreas aceitam uma re-
dução de 80% nos seus salários! Segu-
rar os anéis para não perder os dedos.
A luta contra o coronavírus neste
clima de guerra pode se arrastar o ano
todo, fazendo a recessão adentrar
- Na reconstrução das pontes des-
truídas, será crucial estimular as ca-
deias produtivas longas para reempre-
gar muitos dos desempregados. Refi-
ro-me, por exemplo, à retomada das
obras paradas, Minha Casa Minha Vi-
da, saneamento e infraestrutura em
geral.
Até aqui tratei apenas dos traba-
lhadores formais. A análise da situa-
ção dos informais ficará para outra
oportunidade.
]
PROFESSOR DA FEA-USP, MEMBRO DA ACA-
DEMIA PAULISTA DE LETRAS, É PRESIDEN-
TE DO CONSELHO DE EMPREGO E RELA-
ÇÕES DO TRABALHO DA FECOMERCIO-SP
Sem epidemia, serviços têm
avanço de 0,6% em janeiro
Não há previsão de abastecimento de máscaras e álcool gel, diz presidente da Raia Drogasil. Pág. B10 }
32,3%
Foi a queda registrada nas
despesas de brasileiros no
exterior em fevereiro ante o
mesmo mês do ano passado,
quando esse gasto totalizou
US$ 1,302 bilhão
Foram US$ 881 milhões
gastos no exterior, menor
valor para fevereiro em
4 anos; rombo externo
vai a US$ 15,8 bilhões
MERCADO IMOBILIÁRIO
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GERALDO FALCÃO/PETROBRAS-13/9/2019
Preço da
gasolina
não cai para
consumidor
15%
foi a queda anunciada ontem
pela Petrobrás no preço da
gasolina comercializada nas
refinarias da estatal; foi o
terceiro anúncio de redução de
preço feito nos últimos 10 dias
No ano, Petrobrás reduziu valor em 40,5%
nas refinarias, mas repasse deve demorar
Paralisia. Consumo caiu muito com população em quarentena e postos estão perdendo receita, mas o estoque é alto
Opinião
Vinicius Neder / RIO
O setor de serviços cresceu
0,6% em janeiro ante dezembro
de 2019, informou o Instituto
Brasileiro de Geografia e Esta-
tística (IBGE), mas atividades
que pesam 40% na Pesquisa
Mensal de Serviços, divulgada
ontem, deverão ser diretamen-
te atingidas pela crise econômi-
ca provocada pelo coronavírus.
O impacto negativo deverá
aparecer apenas na divulgação
da PMS de março, prevista para
ser divulgada somente em 12 de
maio, conforme o calendário
do IBGE, disse o gerente da
PMS, Rodrigo Lobo.“A maior di-
ficuldade está no setor de trans-
portes, única atividade (da
PMS) que fechou no negativo
em 2019, por causa do menor
dinamismo na economia, espe-
cialmente no setor industrial.”
Segundo o pesquisador, a ati-
vidade de transportes, serviços
auxiliares aos transportes e cor-
reio pesa em torno de 30% na
PMS. Outra atividade que será
diretamente atingida pelas me-
didas de restrição no contato so-
cial são os serviços prestados às
famílias, que pesam 9,5% na
PMS, afirmou Lobo. “Hotéis e
restaurantes estão com funcio-
namento reduzido, e isso vai afe-
tar a receita”, afirmou Lobo.
Os efeitos negativos por cau-
sa da pandemia atingirão os ser-
viços de transporte após a ativi-
dade ter começado o ano no
azul. Em janeiro, o setor avan-
çou 2,8% ante dezembro de
2019, puxando a alta de 0,6% no
volume de serviços prestados
no período.
Para João Fernandes, econo-
mista da Quantitas Asset, o cres-
cimento de 0,6% não mostra ro-
bustez, o que evidencia a dificul-
dade de recuperação da ativida-
demesmo antes dos impactos
da pandemia. “O coronavírus
começou em um momento em
que a economia já estava com
dificuldade de ganhar força.”
Com o impacto negativo da
pandemia sobre a economia, a
tendência é de que o setor amar-
gue um ano de taxa negativa e
seja o mais afetado pela crise do
coronavírus, disse Lucas Go-
doi, economista da GO Associa-
dos. / COLABORARAM THAÍS
BARCELLOS E CÍCERO COTRIM
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