O Estado de São Paulo (2020-03-26)

(Antfer) #1

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A2 Espaçoaberto QUINTA-FEIRA, 26 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






Se o jato particular se tornou o


brinquedo dos bilionários, o


helicóptero particular há mui-


to é considerado mais utilitá-


rio. Seus usos são limitados e


específicos — em geral, a ideia


é vencer os engarrafamentos.


“É uma ferramenta que as pes-


soas de negócios usam para se


deslocar rapidamente pela ci-


dade", disse Dan Sweet, da As-


sociação Internacional de He-


licópteros. As cidades com o


maior volume de tráfego de he-


licópteros têm duas coisas em


comum: uma concentração


de habitantes ricos e ruas ex-


tremamente congestionadas.


http://www.estadao.com.br/e/helicopteros

S


usan Sontag viu nas


doenças do nosso tem-


po, o câncer e a aids, me-


táforas poderosas para pensar-


mos sobre as mentalidades


que nos aprisionam e nos fa-


zem cativos de preconceitos e


medos irracionais. Acertou


no nervo. Seus livros A Doen-


ça como Metáfora e Aids e suas


Metáforas viraram clássicos


instantâneos. Mas agora, dian-


te da pandemia da covid-19,


em que a civilização foi intei-


ra para a enfermaria – e em


parte para a UTI –, a metáfora


que olha para nós com ares de


esfinge não está na doença,


mas na cura.


Sim, eu bem sei que a cura


não existe. Não há vacina.


Não dispomos de remédios es-


pecíficos e comprovados, a


despeito da propalada cloro-


quina presidencial. Por en-


quanto não há um fármaco


que aniquile o coronavírus.


Quando muito, a medicina


nos socorre combatendo os


sintomas e os médicos nos


apoiam para ganhar tempo,


enquanto o corpo, como diria


Voltaire, trata de neutralizar


a moléstia.


Não há solução individual


para ninguém. Uma pessoa


que desenvolva um quadro


grave da doença terá de con-


tar com os paliativos hospita-


lares, de um lado, e, de outro,


com o próprio organismo pa-


ra restabelecer o corpo. É só o


que temos. Na dimensão cole-


tiva, porém, podemos recor-


rer a um arranjo coletivo para


enfrentar a enfermidade com


eficácia. Individualmente, so-


mos indefesos, mas agindo


em conjunto, socialmente, po-


demo-nos proteger. As espe-


ranças que podemos ter são


esperanças coletivas. É por aí


que começa a metáfora da cu-


ra (da cura que ainda não há,


mas já é metafórica).


As medidas que os países


que não são governados por


loucos estão adotando ilus-


tram o que quero dizer. A di-


minuição organizada dos con-


tatos sociais – com a interrup-


ção das aulas, dos comícios e


dos cultos religiosos, além de


festas (de aniversário, inclusi-


ve) e funerais – vai se mos-


trando eficaz para retardar e


diminuir a intensidade do cha-


mado pico de contaminação.


Se não formos por aí, será o


caos. Se o volume de casos


graves explodir acima de um


patamar suportável, faltarão,


como se viu em outros países,


leitos de UTI com respirado-


res. Ato contínuo, virá o sufo-


camento do sistema de saúde,


o que vai esgarçar o tecido so-


cial, com o risco da generaliza-


ção de mercados negros (não


só de álcool em gel) e da vio-


lência descontrolada.


A única opção sensata que


temos é ficar em casa e, acima


disso, ajudar aqueles que não


têm moradias adequadas – e


não leem estas páginas – a se


proteger. Dependemos agora


de renúncia e solidariedade. A


renúncia é individual: consis-


te em abrir mão de sair por aí


passeando (para buscar o pra-


zer) ou trabalhando (para bus-


car dinheiro). A solidarieda-


de, claro, só se realiza no pla-


no coletivo. Dispensar os tra-


balhadores domésticos sem


lhes cortar o salário é o míni-


mo, mas não é suficiente. Es-


tamos sendo chamados a fa-


zer mais.


O mais interessante é que


ninguém pode controlar se se-


rá ou não será infectado, mas


todo mundo pode controlar,


ao menos um pouco, se será


ou não um vetor de contágio.


Ninguém será bem-sucedido


em ficar à distância do vírus,


por mais que mantenha no ar-


mário do banheiro um esto-


que de máscaras cirúrgicas


(que estariam mais bem em-


pregadas se fossem doadas a


um hospital). O vírus virá, se-


ja no desenho da netinha ou


no prato que o restaurante ca-


ro manda entregar por moto-


boy. Mas temos chances de


ser mais bem-sucedidos em


postergar o momento em que


o vírus que está em nós atinja


o próximo.


Eis, então, a metáfora: a úni-


ca forma de cuidar de nós é


cuidar do outro. Se eu quiser


cuidar de mim, individual-


mente, de forma egoísta, es-


tou roubado e, mais ainda, os


outros ao meu redor também


estão. Note bem o improvável


leitor: no caso presente, os ví-


cios privados não nos levarão


a benefícios públicos. Só nos


levarão ao desastre.


Vamos dizer “não” ao de-


sastre. Vamos dizer “sim” ao


pensamento. A metáfora nos


desafia a repactuar as bases


da civilização enferma. O Es-


tado despachante do capital


precisa ser questionado. Os


governos autoritários e desti-


tuídos de empatia precisam


ser derrotados. O sujeito que


faz pose de fortão e chama a


pandemia de gripezinha, apoi-


ado em fake news, precisa ser


desmascarado. É hora de


doar tudo o que pudermos a


quem não tem, é hora de ba-


ter panela e piscar as luzes do


apartamento (para quem tem


panela, energia elétrica e


apartamento).


É hora disso tudo, mas sem


lenga-lenga de autoajuda, pelo


amor de Deus. Essa conversa


de redescobrir o valor da famí-


lia e as delícias de lavar com


cândida o chão da cozinha,


francamente, não dá pé. Haja


afetação. Haja mariantonietis-


mo. Eu não vejo nenhuma van-


tagem em ficar trancado no


meu endereço domiciliar dan-


do aulas para um notebook, por


meio do qual meus alunos ten-


tam me entender e fazer per-


guntas tão atentas quanto ge-


nerosas. Quero reencontrar o


quanto antes as pessoas que


amo e de quem preciso sentir


o calor, o beijo, o abraço. Gos-


to de perdigotos no meio da


rua. Sinto saudades das calça-


das sobre a quais salivam, en-


quanto sonham, as famílias


que não têm casa para morar


e precisam ser salvas.


No mais, a metáfora me


intriga.


]


JORNALISTA, É PROFESSOR

DA ECA-USP

Para funcionarem em outro


horário, estabelecimentos


deverão pedir autorização.


http://www.estadao.com.br/e/postos

FUGA DO TRÂNSITO


Tráfego aéreo nas grandes cidades


Alguns ecologistas estima-


ram que mais de um bilhão


de animais selvagens morre-


ram nos incêndios que co-


meçaram em julho.


http://www.estadao.com.br/e/australia

l“Se não tem nada a esconder, por que não mostra os resultados dos


exames? Não é só mostrar? Qual a dificuldade em fazer isso?”


VILMA OSIRO


l“Não sou nenhum expert no assunto, porém, se Bolsonaro estiver in-


fectado, a tese dele, de ser apenas uma ‘gripezinha’, estaria validada.”


VINICIUS MENDES


l“Você é o único chefe de Estado que não mostrou o resultado dos


exames. Até o príncipe Charles e a rainha Elizabeth mostraram."


VERA LUCIA DE CONTI


l“Não acho que ele seria louco para andar por aí sabendo que está


infectado. Mas não faz sentido esconder um resultado negativo.”


RAFAEL COSTA


COMENTÁRIOS


CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

AUSTRÁLIA


Helicópteros ajudam


a alimentar animais


Estrela do basquete brasilei-


ro, que já jogou na NBA, está


em isolamento desde que


apresentou sintomas do no-


vo coronavírus.


http://www.estadao.com.br/e/leandrinho

JORGE BEVILACQUA/CBB

Espaço Aberto


O


quadro imposto pela


“crise do coronavírus”


exige respostas imedia-


tas. Para começar, a coordena-


ção das diferentes iniciativas


tomadas no País precisa consi-


derar o que está sendo feito


no resto do mundo. Debelar a


covid-19 e amenizar os efeitos


sobre a renda das famílias é ár-


dua tarefa. Por isso tenho su-


gerido a adoção de um proto-


colo socioeconômico para tra-


tar do problema, incluída a


criação de um fundo específi-


co para tornar viáveis even-


tuais aportes realizados por


pessoas físicas e jurídicas.


A escalada do número de


contaminados levou a Organi-


zação Mundial da Saúde


(OMS) a declarar uma pande-


mia. Torna-se compulsório o


acompanhamento sistemáti-


co do volume de contagiados


com e sem sintomas; hospita-


lizados graves ou não; e, la-


mentavelmente, o número de


mortos. Até ontem, antes de


fecharmos este artigo, o Bra-


sil tinha 2.433 casos confirma-


dos e 57 mortos.


A situação é inédita: restri-


ções à circulação de pessoas,


mercadorias e serviços; inter-


rupção das atividades de tra-


balho e lazer; fechamento da


maioria das empresas de co-


mércio e elevação dos gastos


públicos. As consequências


das restrições impostas de-


monstram que não é só uma


gripe. A pandemia afeta, so-


bremaneira, a saúde econômi-


ca global e não é preciso aqui


reiterar os desastrosos resul-


tados na indústria, no comér-


cio e no sistema financeiro


mundial. É imperativo, por-


tanto, que Poderes e autorida-


des brasileiras se unam na


busca de alternativas que miti-


guem as dificuldades que en-


frentamos e que aumentarão


muito daqui em diante.


Precisamos observar o que


está acontecendo no resto do


mundo, não exatamente para


copiar outros países, mas para


entendermos o que deve ser


feito no Brasil. Por exemplo, o


papel da política monetária es-


tá esgotado nos países euro-


peus. Nos Estados Unidos, an-


tes de reduzirem a zero a taxa


de juros, havia algum raio de


manobra. Agora não mais. Por


outro lado, cabe enfatizar, o


ativismo da política fiscal está


amplamente presente na Euro-


pa e nos EUA e deverá ser ca-


da vez mais forte entre nós.


Cada medida a ser tomada


deve ser bem contextualizada.


No Brasil ainda há margens


para redução das taxas de ju-


ros e ampliação das linhas de


crédito ou refinanciamentos,


a fim de evitar falências gene-


ralizadas. Do mesmo modo,


deve-se recorrer, no campo


fiscal, a políticas de subsídios


que ajudem a preservar a capa-


cidade produtiva e incentivar


a indústria de medicamentos,


material hospitalar, etc., para


elevar a oferta tão necessária


neste momento. A atuação de-


ve concentrar-se em três fren-


tes: expansão do gasto direto


em saúde, em volume expres-


sivo e de maneira célere,


transferências de renda às fa-


mílias mais pobres e distribui-


ção de alimentos.


Reafirmo: vivenciamos o iní-


cio do que pode ser a maior


crise econômica em tempos


de paz, com forte choque de


oferta e de demanda em nível


mundial. As medidas a serem


tomadas devem contemplar


não apenas ações voltadas pa-


ra a saúde, mas, simultanea-


mente, exercer impactos posi-


tivos sobre a dinâmica das


economias. No Brasil, efeito


perverso sobre a renda e o em-


prego, sobretudo dos trabalha-


dores informais, autônomos e


microempresários, com a que-


da abrupta da atividade econô-


mica, requer decisões tempes-


tivas do governo central e do


Congresso. Ao anunciar apoio


a esses segmentos e enviar o


decreto de estado de calami-


dade, o governo deu passos


na direção correta.


Podemos, contudo, fazer


mais. Penso que uma alternati-


va seria criar o que denomina-


ria protocolo socioeconômi-


co, tendo como carro-chefe


ações na área da saúde: forta-


lecimento do SUS, ampliação


emergencial do número de


UTIs, com hospitais de cam-


panha – o Exército pode to-


mar essa iniciativa – e reforço


do atendimento das unidades


básicas de saúde. Associando-


se a isso o fortalecimento do


Sistema Único de Assistência


Social, garantindo direitos so-


cioassistenciais e atendimen-


to mais adequado às pessoas


em vulnerabilidade social e


em situação de rua. Melhoran-


do a atenção primária.


Além dessas medidas, de-


vem-se adotar, por exemplo,


ações que identifiquem os ido-


sos que vivem em assenta-


mentos e em moradias precá-


rias, sem saneamento básico.


Isso é possível recorrendo ao


Cadastro Único, instrumento


criado na esfera federal para


impulsionar as ações sociais,


uma das muitas benditas he-


ranças do governo FHC. O ca-


dastro permite não só identifi-


car quem é pobre ou extrema-


mente pobre, mas também sa-


ber em que condições vivem


essas pessoas, tamanho das fa-


mílias, faixa etária de cada


um de seus membros e o tipo


de benefício social que rece-


bem. O instrumento já te-


mos, basta utilizá-lo.


Para garantir a implementa-


ção desse protocolo podem-


se utilizar os recursos do fun-


do que mencionei no início,


destinando também à pesqui-


sa e compra de medicamen-


tos. Abarcaria ainda dinheiro


público, concentrando as


ações e garantindo transparên-


cia aos gastos. É uma saída or-


çamentária para acelerar todo


o processo, que será penoso e


demandará, acima de tudo,


atuação eficiente do Estado.


A meu ver, essas são algu-


mas das muitas dimensões a


serem trabalhadas para en-


frentarmos esse microrganis-


mo que tomou o mundo de as-


salto e nos tornou reféns.


]


SENADOR (PSDB-SP)

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
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QUARENTENA


Leandrinho vê filha


nascer pelo celular


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José Serra


Tema do dia


Com a quarentena, venda de


dólar caiu praticamente a


zero nas metrópoles.


http://www.estadao.com.br/e/dolar

Contra


a covid-


Medidas devem ser


voltadas não só para a


saúde, mas ter impacto


positivo na economia


Por que, em vez da doença,


eu prefiro a cura como metáfora


É hora de doar tudo


o que pudermos a


quem não tem, é hora


de bater panela...


AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
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‘Está na lei que esses


laudos são segredo’,


diz Bolsonaro


Presidente afirmou que o HFA está


respaldado por lei ao omitir lista de


infectados com o novo coronavírus


]


Eugênio Bucci


MONICA ALMEIDA//THE NEW YORK TIMES

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