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H6 Especial QUINTA-FEIRA, 26 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Caderno 2
Maureen Ryan
THE NEW YORK TIMES
PASADENA, CALIFÓRNIA
Dizer que o elenco de One Day at
a Time ficou surpreso quando a
Netflix cancelou a série em mar-
ço de 2019 é pouco. Como o res-
to do elenco, Stephen Tobo-
lowsky, que interpreta o Dr. Les-
lie Berkowitz na comédia, sou-
be da notícia bem antes de ela
ser divulgada para o público. Ele
estava prestes a filmar uma cena
da novela da ABC, The Gold-
bergs, e estava tão seguro de que
One Day at a Time teria sua quar-
ta temporada que, radiante,
atendeu o telefone quando Glo-
ria Calderón Kellett e Mike Roy-
ce, responsáveis pela série, o
chamaram.
“Atendi a ligação e Gloria me
disse: ‘Nossa série foi cortada’”.
Depois bateram na porta do seu
camarim: “Stephen, estamos
prontos para você’”. Foi difícil
para ele fazer a transição, de re-
ceber aquele golpe no estômago
e ser divertido diante da câme-
ra. “Pensei naquele momento:
estou traumatizado e vou preci-
sar de muito profissionalismo
para atravessar este momento”,
disse ele.
Justina Machado, que inter-
preta a enfermeira, veterana do
Exército e mãe Penelope Alva-
rez na série, disse que, quando
seus amigos souberam da notí-
cia, ficaram “muito loucos”.
“Eles são muito emotivos.”
Parte da ira, disse ela, foi com
o que a notícia representava. Co-
mo a jornalista Vanessa Erazo
observou num artigo no The
New York Times logo depois do
cancelamento da série, “os his-
pânicos constituem 18% da po-
pulação, mas papéis interpreta-
dos por hispânicos são apenas
7,2% de todos nas séries de strea-
ming, e ainda menos nas emis-
sões normais e por cabo”.
“São as histórias que esta-
mos narrando e como eles se
veem representados na tela
que torna isso mais do que mais
um cancelamento”, disse Ma-
chado em uma entrevista junto
com outros membros do elen-
co em janeiro. “A série se tor-
nou algo que foi além de um sim-
ples trabalho.”
Todd Grinnell, que interpre-
ta o afável proprietário de imó-
vel Schneider, observou a iro-
nia do cancelamento. “O que
normalmente salva o show, a re-
de descarta.”
“Não fomos descartados.
Mas foi o reverso”, disse ele.
Mas Rita Moreno não pen-
sou assim. “Sim, fomos”, afir-
mou ela, muito no estilo da in-
dômita matriarca que interpre-
ta na série.
A indignação da mídia social
na época foi intensa, como tam-
bém a reação dos críticos de TV,
que escreveram dezenas de arti-
gos sobre o cancelamento da
série e as razões pelas quais ela
devia ser resgatada. Mas a rea-
ção mais importante foi da Sony
Pictures Television, que produz
agora a série.
O dia em que os realizadores
souberam que a Netflix não pre-
tendia produzir uma quarta tem-
porada, disse Royce, “executi-
vos da Sony nos contataram pa-
ra dizer que levariam para a fren-
te esta série em algum lugar”.
E esse lugar acabou sendo a
Pop TV, canal de cabo da Via-
comCBS, mais conhecida pela
comédia canadense Schitt’s
Creek. Na terça-feira, 24, One
Day at a Time foi lançada em seu
novo canal, um ano depois de
ser cancelada pela Netflix. A
quarta temporada começa quan-
do a família responde a pergun-
tas de um funcionário encarre-
gado do recenseamento, papel
de Ray Romano.
O fato de One Day at a Time
ter sido cancelada ainda é uma
surpresa para seu devotado pú-
blico. O cancelamento, depois
de 39 episódios, foi devastador
porque “tínhamos apenas co-
meçado”, disse Royce, que foi o
produtor executivo de Every-
body Loves Raymond.
A Netflix, que não quis co-
mentar a respeito, indicou na
época que a devoção do público
era muito pequena. Num comu-
nicado pelo Twitter falando so-
bre o cancelamento, a platafor-
ma, que não divulga dados de
audiência de seus programas,
disse apenas que não havia “um
público em número de especta-
dores o bastante que justificas-
se mais uma temporada”.
Mas o fato é que David Ne-
vins, diretor de criação da CBS
e diretor executivo da Showti-
me Networks, viu aí uma opor-
tunidade. Ele havia sido nomea-
do superintendente da Pop TV
dias antes do cancelamento da
série ser anunciado.
“Acho que a Netflix tem um
modelo em que eles têm de ga-
nhar já nas primeiras tempora-
das e não têm muito incentivo
para insistir no longo prazo”,
disse ele, que acrescentou que
essa pode ser uma decisão corre-
ta em muitos casos. “Mas o pro-
gramador dentro de mim acha
que a série tem um potencial
não explorado.”
Com seu destino na balança,
One Day at a Time tinha muitas
coisas a seu favor: uma base de
fãs ativa e dedicada, jornalistas e
críticos investiram na sobrevi-
vência da série, nos criadores e
no elenco. E num período em
que o público e muitos executi-
vos valorizam representações
sutis de grupos marginalizados
historicamente, a série tinha
um elenco predominantemen-
te hispânico, como também di-
versos personagens LGBTQ.
Apesar de to-
das as qualidades
admiráveis, a so-
brevivência da
série foi também
produto de uma
confluência de
circunstâncias.
Em março de
2019, a Pop TV estava no merca-
do à procura de algo com bastan-
te repercussão para substituir
Schitt’s Creek (a rede anunciou
no final do mês passado que a
sexta temporada seria a última).
E como Nevins, Brad Schwartz,
presidente da Pop TV, já era fã
de One Day at a Time.
A primeira versão narrava a
história de uma família branca
em Indianapolis chefiada por
uma mãe solteira, uma de uma
série de comédias icônicas pro-
duzidas por Noman Lear, in-
cluindo All in the Family e Good
Times, que estreou na década
de 1970.
A nova versão, que tem Lear
como produtor executivo, gira
em torno do clã cubano-ameri-
cano Alvarez em Los Angeles.
Apesar de mudanças, a série se
atém às tradições das melhores
comédias em que são usadas
múltiplas câmeras. Foi gravada
num estúdio de som e a trilha
sonora inclui as risadas de um
público na plateia e os redatores
e elenco misturam piadas sutis e
um sentimento sincero.
Agora que a série concluiu sua
jornada inusitada, do streaming
para a TV a cabo, devemos pre-
ver mais transformações? Não.
A retomada continuará sendo
uma verdade em termos das raí-
zes da série como
comédia social-
mente conscien-
te, disseram os
realizadores. Em-
bora ela regular-
mente propicie
belas risadas e
momentos calo-
rosos – que são sempre seus
principais objetivos –, há algu-
mas vezes em que Penelope pon-
dera como vai pagar suas con-
tas. Os personagens também en-
frentam problemas de doenças
mentais, racismo, preocupa-
ções com imigração e aceitação
de pessoas LGBTQ.
Os devotados fãs podem se
tranquilizar com o fato de que,
deixando de lado a adição de in-
tervalos comerciais – mais um
retorno ao programa original –,
a série ainda é a série. / TRADUÇÃO
DE TEREZINHA MARTINO
Sem intervalo
Eliana Silva de Souza
Pensando em seu público nes-
sa fase de isolamento social
por causa da pandemia de co-
ronavírus, o canal Arte 1 libe-
rou acesso a seu conteúdo,
que tem muitas séries, docu-
mentários, filmes e reporta-
gens especiais.
Entre as atrações desta quin-
ta-feira, 26, uma edição espe-
cial do programa Arte1 Em Mo-
vimento traz como destaque o
Festival É Tudo Verdade
2020, que será em formato di-
gital. Em seu 25.º ano, evento
criado por Amir Labaki coloca
os diversos documentários
disponíveis online, por meio
do site do Itaú Cultural e no
SPCine Play.
Continuando nessa área, a
cineasta Marina Person parti-
cipa, via celular, comentando
o filme Morte em Veneza, de Lu-
chino Visconti, que tem como
pano de fundo justamente
uma epidemia que avança pela
cidade. Em paralelo, o crítico
literário Manuel da Costa Pin-
to faz comentários sobre o li-
vro de Thomas Mann, acres-
centando outras obras que
abordam pandemias, como De-
cameron, de Bocaccio.
Tem ainda o Lista Arte1 e o
Primeira Vez Arte1. Neles, no-
mes como o escritor Ignácio
de Loyola Brandão revela fil-
mes que mais o marcaram da
obra de Federico Fellini. E a
jornalista Pílar del Río relem-
bra a primeira tradução que
fez de um romance de José Sa-
ramago, com quem foi casada.
‘ONE DAY AT A
TIME’ RENASCE
Caçadores de
Obras-Primas/
The Monument’s Men
(EUA, 2014.) Dir., roteiro (com Grant
Heslov) e interpretação de George Cloo-
ney, com Matt Damon, Bill Murray, Jean
Dujardin, Cate Blanchett, John Good-
man.
Luiz Carlos Merten
George Clooney e seus amigos
lutam para recuperar obras de
arte roubadas pelos nazistas. O
fundo é real – Hitler e seus asse-
clas realmente saquearam ju-
deus e museus – e a ficção, diver-
tida e movimentada. Mas o hor-
ror está presente, quando o gru-
po encontra a mina cheia de
obras destruídas.
GLOBO, 1H57. COL., 118 MIN.
Filmes na TV
SÉRIE TAMBÉM
ABORDA TEMAS
COMO RACISMO
E IMIGRAÇÃO
Representatividade. Representatividade.
Clã cubano-americano Clã cubano-americano
vivendo em Los Angelesvivendo em Los Angeles
Televisão*
Programas
variados são
boa opção no
canal Arte1
Novidade por aí
A plataforma de streaming
Starzplay anunciou a es-
treia, no dia 17 de maio, da
série Hightown. Criada por
Rebecca Cutter, a produção
mostra a jornada de uma mu-
lher rumo à sobriedade, o que
não será nada fácil, pois terá
de lidar com os desdobramen-
tos da investigação de um
assassinato. Jackie Quiñones
(Monica Raymund) é uma
agente que vê sua vida mu-
dar quando encontra um cor-
po na praia, vítima da guerra
de drogas em Cape Cod. Es-
tão também no elenco Ja-
mes Badge Dale, Riley
Voelkel, Gary Lennon.
Hora da série
A atração do Espiadinha Globo-
play da próxima terça, 31, será
a série Killing Eve, que terá
seu primeiro episódio exibido
logo após o BBB, na Globo.
Com o subtítulo Dupla Obses-
são, traz Sandra Oh na pele
da agente Eve, que entra em
uma caçada de gata e rata
em busca da assassina Villa-
nelle (Jodie Comer), uma se-
rial killer. A série é vencedora
do Globo de Ouro (melhor atriz
para Sandra) e um Emmy (me-
lhor atriz para Jodie).
Lá vem reforma
O Discovery Home & Health
começa a exibir nesta quinta,
26, às 23h15, a nova tempora-
da de Extreme Makeover: Re-
construção Total. Comandado
pelo ator Jesse Tyler Fergu-
son, o programa, que atual-
mente tem sua versão brasilei-
ra com Otaviano Costa, ajuda
famílias que precisam de uma
reforma urgente em suas ca-
sas. Sucesso mundial no início
dos anos 2000, o reality retor-
na com dez episódios inéditos.
Volta ao passado
Entra nesta quinta, 26, no catá-
logo da Netflix, um novo filme
vindo do Oriente. Happy Old
Year tailandesa acompanha a
história de Jean, uma mulher
que decidiu dar uma direção
em sua vida. Para isso, precisa
reformar sua casa e transfor-
má-la em um escritório. Ao
começar a colocar ordem no
local, encontra objetos de Aim,
o seu ex-namorado. E um pas-
sado todo estará de volta.
DESTAQUE
FOX FILM DO BRASIL
Sócrates
(Brasil, 2018.) Dir. e rot. (com Tammy
Weiss) de Alex Moratto, com Christian Ma-
lheiros, Tales Ordakji, Caio Martinez Pache-
co, Rosane Paulo, Jayme Rodrigues.
Vencedor do Spirit Award, o Oscar
independente, na categoria So-
meone To Watch, o longa é muito
bom ao abordar universo pouco
frequente nas telas. Sócrates é
um garoto negro da Baixada San-
tista que sofre com a morte da
mãe e enfrenta preconceito (e vio-
lência) por ser gay.
C. BRASIL, 21H15. COL., 71 MIN.
Cidade das Ilusões/
Fat City
(EUA, 1972.) Dir. de John Huston, roteiro de
Leonard Gardner, fotografia de Conrad L.
Hall, com Stacy Keach, Jeff Bridges, Susan
Tyrrell.
Huston mostra Stacy Keach como
lutador veterano, e fracassado.
Abandonado pela mulher, tornou-
se alcoólatra. Ele conhece jovem
talentoso, Jeff Bridges, a quem
incentivar na carreira, mas Bridges
parece mais inclinado a seguir a
trajetória descendente de Keach.
TCM, 23H55. COLORIDO, 96 MIN.
SÉRIE
Um ano após ser cancelada pela Netflix, produção
estreia sua quarta temporada, agora na TV a cabo
NICOLE WILDER/POP TV VIA THE NEW YORK TIMES
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