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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 26 DE MARÇO DE 2020 Especial H7
Tião Oliveira
Tomás Conte
No ano que vem, não será possí-
vel pendurar na parede a edição
2021 do clássico calendário da
Pirelli. A divisão da empresa ita-
liana responsável pela “folhi-
nha” cancelou a produção por
causa do avanço do número de
casos do coronavírus.
A Itália, onde fica a sede da
Pirelli, é um dos países mais afe-
tados pela pandemia. Por isso,
outra medida anunciada pela
empresa é a doação de ¤ 100 mil
(cerca de R$ 550 mil) para a “lu-
ta contra a covid-19 e a pesquisa
sobre o vírus.”
O calendário, lançado em
1964, já havia deixado de circu-
lar em 1967 e entre 1974 e 1983.
Segundo informações do CEO
da Pirelli, Marco Tronchetti
Provera, que já trabalhou na fi-
lial brasileira da empresa, o pro-
jeto será retomado “em momen-
to oportuno”.
Lançado há quase seis déca-
das como uma “folhinha” reple-
ta de fotos de mulheres nuas e
normalmente visto em paredes
de borracharias, o calendário
da Pirelli atualmente tem sta-
tus de publicação chique. E ca-
da edição tem uma temática
própria, que procura refletir o
momento atual da civilização.
A edição de 2013, por exem-
plo, foi lançada no Rio de Janei-
ro e é assinada
por Steve Mc-
Curry. O norte-
americano ficou
famoso ao clicar
para a revista Na-
tional Geograp-
hic, em 1984, o
rosto de Sharbat
Gula, que ficou conhecida co-
mo a “Menina Afegã”.
A edição estava ligada às cau-
sas sociais. Todas as modelos
clicadas eram ativistas e posa-
ram em locações como favelas e
nas ruas dos bairros da Lapa e
de Santa Teresa, além do Cen-
tro. Entre as estrelas, estavam a
atriz Sonia Braga, a cantora Ma-
risa Monte e a “top model”
Adriana Lima.
A profusão de celebridades,
supermodelos e fotógrafos es-
trelados se reúne tanto na pro-
dução do calendário quanto nas
festas de lançamento. O evento
na capital carioca contou com a
participação da atriz italiana
Sophia Loren e do ator norte-
americano Owen Wilson, entre
vários outros famosos.
O Brasil também foi retrata-
do nas edições de 2005 e 2010.
Na primeira, o fotógrafo fran-
cês Patrick Demarchelier usou
o Rio de Janeiro como pano de
fundo. Cinco anos depois, o nor-
te-americano Terry Richard-
son fez cliques na capital cario-
ca e em locações em Trancoso,
no sul da Bahia.
História. Nas primeiras publi-
cações, as modelos eram desco-
nhecidas e os cliques, feitos em
ambientes bastante simples.
Em 1972, a francesa Sarah
Moon foi a primeira mulher a
assinar as fotos do calendário
da empresa italiana.
Após o intervalo causado pe-
la crise mundial, o calendário
voltou como edição em 1984,
sob nova direção de arte e inspi-
ração em suas raízes, contando
com referências aos pneus.
Demonstrando o caráter pro-
gressivo do “The Cal”, como o
projeto passou a
ser chamado, em
1987 o fotógrafo
e diretor de cine-
ma inglês Teren-
ce Donovan fez
um calendário
apenas com mo-
delos negras. En-
tre elas, Naomi Campbell, uma
jovem de 16 anos que logo se
tornaria uma das maiores su-
permodelos da história. No
ano seguinte, outro ineditis-
mo: pela primeira vez, um mo-
delo masculino foi clicado.
Sapatilhas por saltos. Na dé-
cada de 1990, a fabricante de
pneus passou por mudanças.
Com isso, começou a apostar
mais em seu caráter internacio-
nal e em campanhas publicitá-
rias. Uma das imagens mais re-
presentativas desse novo mo-
mento foi a do campeão olímpi-
co Carl Lewis calçando saltos
vermelhos, em um trabalho da
fotógrafa Annie Leibovitz. A
partir daí o “The Cal” se trans-
formou em uma das principais
marcas do grupo.
Desde então, o projeto come-
çou a reunir supermodelos e fo-
tógrafos renomados e ganhou
uma forte conexão com o mun-
do da moda. Atrizes e cantoras
também passaram a ser retrata-
das no calendário.
Procurando Julieta. A edição
2020 do calendário é assinada
por Paolo Roversi, fotógrafo ita-
liano que vive em Paris. Intitula-
do Procurando Julieta, a publica-
ção foi lançada no Teatro Filar-
mônico, em Verona, na Itália, e
é inspirada no romance escrito
por Shakespeare. É a primeira
vez que um italiano assina as
fotos da publicação.
Roversi diz que, para clicar a
47ª edição do “The Cal” se inspi-
rou na “Julieta que existe em
toda mulher”. Uma das novida-
des é que, pela primeira vez, o
calendário combinou fotogra-
fia e curta-metragem.
Whoopi Goldberg coman-
dou a apresentação e recitou
passagens da peça de Shakes-
peare. A atriz norte-americana
participou da edição de 2018,
que foi clicada pelo fotógrafo
Tim Walker. Intitulada Alice no
País das Maravilhas, tinha ape-
nas personalidades negras.
O ensaio fotográfico da edi-
ção de 2020 se desenrola em
duas fases. Na primeira, as mu-
lheres chegam ao set sem ma-
quiagem ou figurino. Entre
elas, Claire Foy, Mia Goth, Ch-
ris Lee, Indya Moore, Rosalía,
Stella Roversi, Yara Shahidi,
Kristen Stewart e Emma Wat-
son, que passaram, uma a uma,
diante das lentes de Roversi pa-
ra retratar a multifacetada “Ju-
lieta” com uma ampla gama de
emoções e expressões.
Experiências pessoais. Elas
conversaram com o fotógrafo
sobre o projeto e falaram sobre
suas experiências e ideias sobre
Julieta. Na segunda fase, elas
vestiram os figurinos feitos pa-
ra transformá-las em suas inter-
pretações pessoais da persona-
gem de Shakespeare. “Eu esta-
va procurando uma alma pura,
alguém cheio de inocência que
combinasse força, beleza, ter-
nura e coragem”, diz Roversi.
“Encontrei isso nos vislumbres
de um olhar, nos gestos e pala-
vras de Emma e Yara, Indya e
Mia. Nos sorrisos e lágrimas de
Kristen e Claire. Na voz e can-
tos de Chris e Rosalía. E em Stel-
la, a inocência.”
O ensaio fotográfico foi feito
em maio do ano passado. Apai-
xonado por ópera, Roversi con-
ta que buscou um conceito que
mesclasse uma expressão gráfi-
ca totalmente original com ba-
se no libreto da ópera.
O “The Cal 2020” tem 132
páginas, com o calendário men-
sal na capa, além de trechos de
Romeu e Julieta e 58 fotos colori-
das e em preto e branco. Capa e
contracapa têm letras doura-
das e destacam a data do nasci-
mento de Julieta, o primeiro en-
contro com Romeu, seu casa-
mento e sua morte.
JornaldoCarro
Hairton Ponciano
Podium, comum, V-Power, adi-
tivada, Octapro... Os postos de
serviços oferecem gasolina
com diversos nomes, que procu-
ram transmitir a sensação de
que, após o abastecimento com
uma delas, seu carro vai sair dali
batendo recordes de desempe-
nho e economia.
Mas, na verdade, nem sempre
(ou melhor, quase nunca) é as-
sim. Atualmente, a gasolina re-
cebe nomes genéricos, caso da
comum, e também denomina-
ções específicas de cada distri-
buidora, ou “bandeira”.
A mais comum é exatamente
a chamada de... comum. Trata-
se da gasolina tecnicamente
identificada como do “tipo C” e
vendida em todos os postos.
Trata-se do produto comercial,
que leva adição de 27% de eta-
nol anidro (sem água). Essa ga-
solina é obtida a partir do com-
bustível do “tipo A”, que não
tem nenhuma parte de etanol e
não é vendida em postos.
A gasolina do tipo C não rece-
be nenhum aditivo além do eta-
nol. Por isso, tem coloração
amarelada. Tanto que, antiga-
mente, era conhecida como “ga-
solina amarela”. Isso nos anos
70 e 80, quando a gasolina mais
nobre (e cara) era azulada.
A gasolina comum tem octa-
nagem mínima de 87 IAD (índi-
ce antidetonante). Esse núme-
ro indica a resistência do com-
bustível à detonação antes da
centelha produzida pela vela.
Acima da comum aparecem
os combustíveis aditivados.
Além da adição de etanol, que é
obrigatória no Brasil, essa gaso-
lina tem detergentes e disper-
santes em sua composição.
Teoricamente, esses compo-
nentes têm a função de limpar o
interior do motor. É o caso de
resíduos de carvão em peças co-
mo as válvulas e na câmara de
combustão, por exemplo.
Esse tipo de combustível tem
também algum corante, para di-
ferenciá-lo da gasolina comum.
Geralmente, a octanagem é a
mesma da comum, mas pode ha-
ver alguma diferença, depen-
dendo da distribuidora.
Acima da gasolina aditivada
estão os combustíveis conheci-
dos genericamente como “pre-
mium”. Sua principal caracte-
rística é a maior octanagem. Es-
se produto é indicado para mo-
tores mais avançados tecnica-
mente. Diferentemente do que
algumas peças publicitárias insi-
nuam, a gasolina “premium”
não aumenta a potência do mo-
tor nem melhora o desempe-
nho do automóvel. Mas ex-
traem o melhor do propulsor.
A gasolina do tipo premium
deve ser utilizada em carros
que foram desenvolvidos para
funcionar com ela, especial-
mente os esportivos importa-
dos. Essa orientação costuma
estar no manual do veículo e na
tampa do reservatório.
Utilizar combustível comum
ou aditivado em automóvel fei-
to para trabalhar com gasolina
de maior octanagem pode resul-
tar em piora de desempenho.
Mas o inverso não ocorre.
Carro desenvolvido para fun-
cionar com gasolina comum
não vai andar mais com a pre-
mium. Ela custa mais e não tra-
rá benefícios para o motor.
Cada distribuidora tem um
nome próprio para a gasolina es-
pecial. Na rede BR, por exem-
plo, esse produto é chamada de
Podium, e tem 97 IAD. Na rede
Ipiranga, essa gasolina é batiza-
da de Octapro, em alusão à
maior octanagem (96 IAD). A
Shell batiza a sua gasolina do ti-
po premium de V-Power Ra-
cing, e informa que o produto
tem 91 IAD.
Dia a dia*
Julieta. Em Verona,
Emma Watson está
‘THE CAL’ na edição 2020
VAI COMUM, ADITIVADA OU PREMIUM?
FOTOS PIRELLI
Belas. A eterna Sophia Loren e a brasileira Adriana Lima, que participou da edição de 2015
O CALENDÁRIO
QUE VIROU
OBJETO POP
Comum. A gasolina do tipo C é vendida em todos os postos do País e tem adição de 27% de álcool anidro (sem água)
O BRASIL FOI PALCO
DO CALENDÁRIO
PIRELLI EM
2005, 2010 E 2013
Nem sempre a gasolina
mais cara é a melhor
para o seu carro. Confira
as diferenças e qual é
mais vantajosa para você
Lançada há 56 anos com fotos de mulheres,
publicação agora reúne artistas e celebridades
AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO
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