Valor Econômico (2020-03-26)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 3 da edição"26/03/20201a CADB" ---- Impressa por CGBarbosaàs 25/03/2020@21:06:28


Quinta-feira, 26demarçode (^2020) | Valor|B3
Empresas
|
Infraestrutura
LogísticaApagãovistonaChinanãodeveráserepetir,dizdiretorfinanceiro
DPW não prevê paralisação
em portos no Ocidente
Ta ís Hirata
DeSãoPaulo
ADP World, umadas maiores
operadoras de terminais portuá-
rios do mundo, não enxerga a pos-
sibilidade de a epidemiadecoro-
navírusprovocar uma paralisação
logística no Ocidente,como a que
ocorreu na China,avalia Marcelo
Felberg,diretor financeiro do gru-
ponaregiãodasAméricas.
No augeda crise do país asiáti-
co,diversosterminaisportuários
ficaramparados,ecaminhões e
linhasferroviáriasdeixaramde
operaremalgumasregiões.
Já nos paísesda América ope-
radospelo grupo, porém, não há
qualquer interrupçãoatualmen-
te, segundoo executivo.“Existe
umapercepçãocomumentreos
governos de que os portos preci-
sam ficarabertos.Éalgo priori-
tário, nem nas guerrasos portos
foramfechados”, afirma.
“Mesmo nos países que imple-
mentaramtoque de recolher, te-
mos tido autorizaçãoparamovi-
mentar carga. Em alguns deles,
apenas paracarga essencial, em
outrospara carga geral”, diz ele,
que é responsável pela operação
noBrasil(emSantos),Canadá,Chi-
le, Argentina, Peru, Equador, Re-
públicaDominicanaeSuriname.
Para o diretor,há umadife-
rençacrucialno cenáriochinêse
o atual,no Ocidente:o nívelde
informaçãosobreadoença.“Em
um primeiromomento,na Chi-
na, não havia clarezasobreos
efeitos,a formade transmissão.
Isso geroumuitaincerteza.Hoje,
sabemos como nos prevenir,
criamosprotocolosparaoperar
com segurança,oquenão havia
naquelemomento.”
Felbergadmite, porém,que há
impactosna movimentação. Em
um primeiro momento,aregião
sofreu comaredução de carga
vindadaÁsia,quandoaepidemia
estava maisgrave no continente.
“Hoje,há umareversão, mas em
compensaçãoháoimpactonega-
tivovindoda Europa,queredu-
ziuseuconsumo”,afirma.
Avantagem dos países da
América Latina, diz ele, é que
grande parte da carga exportada
éde alimentos, cujas vendassão
maisresilientes. Em compensa-
ção, esse tipo de carga também
temumarecuperaçãomaisdifícil
uma vezque a criseseencerre –é
ocaso,porexemplo,defrutas,cu-
ja safra começa a partir de abril
nohemisférioSul,edepescados.
Para o executivo,ainda émui-
to cedopara dimensionaro efei-
to da crisena receita,mas aex-
pectativaé que não haja impacto
significativoanão ser que apan-
demiae oisolamentosocialse
prolonguem demais.“[Se durar]
três mesesachoque a operação
seria poucoafetada.É muitodifí-
cilfazeressaavaliaçãohoje.”
A DP World tambémtem mo-
nitoradode pertopossíveismo-
vimentosquepossamtravarope-
rações.No caso do Porto de San-
tos, por exemplo, acategoriados
estivadores tem ameaçadouma
paralisação. “Emalgunspaíses,
temostido reuniõesconstantes
comautoridades portuárias, sa-
nitárias,sindicatos, paradeixar
todostranquilos em relação à
proteçãodasequipes”,diz.
A companhiaaindanão pre-
tendesuspenderseus planosde
expansão—os maissignificati-
vos previstosparaos próximos
dois anosestãono Canadá,Peru
e RepúblicaDominicana.Oexe-
cutivotem conversadocomos
bancosfinanciadores dos proje-
tos para viabilizá-los.
No caso do Brasil, onde não há
ampliações em curso, aDP World
enxerga as medidas de apoio
anunciadas pelo BNDEScomo
adequadasesuficientes parao
grupo,cujaoperaçãoemSantos
temfinanciamentoscomobanco
de fomento,aCaixa eoBanco In-
teramericano de Desenvolvimen-
to(BID).Aempresaaindanãode-
cidiu se vai aderir à suspensão,
por seismeses, do pagamento de
dívidascomoBNDES.
O grupotambémnão preten-
de desmobilizar funcionários
que não estejamem gruposde
riscoou equipamentos. Aavalia-
ção é que, se houver umaredu-
ção da operaçãoagora,a empre-
sa não terá comoatenderade-
mandaquandohouverumare-
tomadaepoderáperderfatia de
mercado. “Nossaprevisãoéque,
quandohouverumaretomada,
elaserárápidaeforte”, diz.
Cadevaimudar posição
sobrecobrança detaxa
deentrega decontêiner
MurilloCamarotto
DeBrasília
O Conselho Administrativo de
DefesaEconômica (Cade) está
pertode desatar um nó que ator-
mentao setor portuáriohá 15
anos.Umanota técnica do órgão
antitruste,emviasdedivulgação,
vai retiraro statusde ilegalidade
de uma taxaconhecida como
THC2,cobradapelosportos para
entregarcargasaos terminais al-
fandegados, que são aqueles que
nãoficamabeira-mar.
Desde 2006 oCade entende
que a cobrançaé irregular, pois
fere a concorrência entreos por-
tos e os terminaisalfandegados
(tambémconhecidoscomoter-
minais“secos”)no segmentode
armazenagem. Apesar disso,
muitosportosvêm conseguindo
liminarespara manteracobran-
ça. Comamudançade entendi-
mentodo Cade,aexpectativaé
de que haja umapacificação do
temanostribunais.
AlexandreBarreto,presidente
do órgãode defesa da concor-
rência,disseaoValorque ono-
vo entendimento vem na esteira
da Resolução 34/2019da Agên-
cia Nacional de Transportes
Aquaviários(Antaq),publicada
em agosto do ano passado.A
medidaestabelece regrasmais
clarasparaacobrançada THC2
eveda taxativamenteaprática
de preçosabusivos ou lesivosà
concorrência.
Atualmente, não há parâme-
tros paraas tarifas,que podem
variarbrutalmenteem terminais
vizinhos,ondea diferença não se
justificaria. “Somenteem Santos
opreço podevariarentreR$ 250
e R$ 2.300”, explicouaadvogada
PolyannaVilanova,sóciado Fi-
gueiredoe VellosoAdvogadose
ex-conselheiradoCade.
Polyannatambémmenciona
diferenças significativasentreas
tarifasde THC2 referentes à im-
portação eexportação, oque
operacionalmentenão tem fun-
damento.Ac obrançaincideso-
bre umaoperaçãosimples:Se-
gregarum contêinerlocalizado
no pátiodo portoe leva-loaté o
portão, no casoda importação,
ou ocaminho inverso,no senti-
do da exportação.
A corridadas empresas à Jus-
tiça tem resultadoem decisões
discrepantes,mesmodentrodos
mesmostribunais.Polyannacita
o exemplo da 30aCâmarade Di-
reitoPrivadodo Tribunalde Jus-
tiça de São Paulo (TJ-SP),que se
manifestoucontra acobrança
da THC2. Já a13aCâmara,na
mesmacorteem São Paulo, en-
tendeuque a taxa élegal.Tudo
nointervalodeumasemana.
O presidentedo Cadeacredita
que a novaresoluçãoda Antaq
teráopoderdeeliminaraprática
depreçosdiscriminatórios,oque
justificaria uma mudançana
análisedo órgãoantitruste. Ele
aindaaguarda, no entanto, que a
resoluçãosejaregulamentada.
Barretoesclareceque o Cade
não atuaráem nenhummomen-
to na discussão dos preços,que
segundoa agênciareguladora
poderão ser tabelados.“Nosso
campode atuação é a defesada
concorrência.Se houveralguma
denúncia de práticade preço
predatório, iremosaté a Antaq
para questionar”, afirmou. No fi-
nal do ano passado, o Cade
anunciouum acordodecoope-
raçãocomo MinistérioPúblico
Federal(MPF)como intuitodo
aprimoramentode regrasem se-
toresregulados,com vistaao fo-
mentoà competição.
Felberg, diretor:hápercepção entre governos dequeportostêmdeficar abertos
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