JornalValor--- Página 8 da edição"26/03/20201a CADB" ---- Impressa por CGBarbosaàs 25/03/2020@21:22:53
B8| Valor|Quinta-feira, 26demarçode 2020
Empresas
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S e r v i ç o s &Te c n o l o g i a
IMPACTOSDO
CORONAVÍRUS
Fa r m á c i a sRedesdizemquerepassaraumentonão
fazsentidoporcausadacrise;indústriaculpadólar
Varejo e indústria
têm queda de
braço por reajuste
AdrianaMattose AnaPaula
Machado
DeSãoPaulo
Redesvarejistas eaindústria
farmacêuticatravam uma queda
de braçopor conta do reajuste
nos preços de medicamentos,
programado paraser repassado
aos produtosapartirda próxi-
ma terça-feira,em plena crise
causadapela epidemiado novo
coronavírus.
A situação chegou a gerar
umasaia-justa,em reuniãovir-
tualna semana passada, com
empresários(inclusiverepresen-
tantes do setor), e opresidente
Jair Bolsonaro, dizem fontes.O
assunto foi mencionado pelo
risco de o governosofrerdesgas-
te ao anunciar um aumento à
populaçãoagora.O reajustemé-
dio calculadoé de 4,08%.
Parte do varejodefendeadia-
mentodos reajustes—alegando
que omomentoé ruimpara tan-
to —eos laboratórios, especial-
menteasempresasnacionais,de-
fendem o aumento. Segundo
umafonte,oConselho Nacional
deSecretariasMunicipaisdeSaú-
de (Conasems) teriamposição
favorávelàpostergação.
Na noite de ontem, oValor
apurou que a tendência da Anvi-
sa é confirmarorepasseaos pre-
ços.Oórgãoteráquedecidiratéa
segunda-feira, no máximo. Revo-
gar oreajusteteriaque ocorrer
por meiode medidaprovisória.
Procurada, a agênciainformou
que não ter posiçãosobreo as-
suntoatéomomento.
Todos os anos,esse aumentoé
anunciadopela câmarade regu-
lação do mercadode medica-
mentosdaAnvisaeéválidoa
partir de abril,dentrode uma
sériede critériosde cálculo. A
princípio, pelascontasdo sindi-
cato da indústria (Sindusfarma),
é projetadoum reajustemédio
de 4,08%.
“Nãoé o momentode um au-
mentode preçosàpopulação,é
umapéssimaideia.É claroque
com isso todosperdemporqueé
margemdeixadana mesa,espe-
cialmente de quemestá estoca-
do e podereajustaragora.Mas a
questãonestemomentoémaior
do que essa”, diz um diretor de
uma grande varejista nacional.
Na indústria,fontesafirmam
que as empresascarregamum
aumentonos custosde produ-
ção por contada escaladado dó-
lar,eq ue o reajustemédio de 4%
é necessárioparaabsorverparte
disso. “Não entendo o motivo
dessadiscussão.Ovarejonão é
formadorde preçoe esse reajus-
CLAUDIO BELLI/VALOR
EugênioDeZagottis:“Aempresaésólida,tembaixaalavancagem.Vamosusaressecapitalsóseprecisarmos”
Raia Drogasil adiaexpansãoe buscacrédito
AdrianaMattos
DeSãoPaulo
ARaia Drogasil, maior rede de
farmáciasdopaís,sentiuforteau-
mento nas vendas em lojas esite.
Mas apesar de estar numa situa-
ção maispositiva —consideran-
dooquadroatualdocomércio—,
decidiu adiar a abertura de novas
unidades e buscar novas linhas
derecursos em bancos para am-
pliarcaixa,comoformadesepre-
venirdeumapioranocenário.
“A empresa é sólida, tem baixa
alavancagemenãoprojetamosne-
nhumconsumoenorme de caixa.
Vamosusaressecapitalsósepreci-
sarmos, adepender do cenário fu-
turo”, diz Eugênio De Zagottis, di-
retor de planejamento. A relação
entredívida e lucroantes de juros,
impostos, amortização e deprecia-
çãoerade0,7vezemdezembro.
No caso das aberturas [de lojas],
diz ele, “não é omomento de con-
tinuar com isso”. As inaugurações
previstas agora serãoadiadas, por-
queháoutrasquestõesqueganha-
ram prioridade. Mas ainda ocor-
rem nesteano. Então, não vamos
reduzir investimentos, mas claro
quetudodependedocenário”.
Aempresaestima240aberturas
de lojas em 2020. Em dezembro,
eramR$300milhõesemcaixa,ver-
susR$242milhõesumanoantes.
Comvendasaceleradas em lo-
jas esites nas últimassemanas—
onúmeronão érevelado—, o
grupotevequeaumentaroprazo
de entregade itensa partirdos
11centrosdedistribuição,deum
para sete dias, em média.No on-
line passoude uma a quatroho-
rasparaseishoras.
Aredecomeçoualimitaroaces-
soacertaslojasemperíodosdodia
para evitar aglomeração. “Um fun-
cionário ficana portana horade
fluxomuito alto. Éuma limitação
que varia de acordo com a área de
cadaloja”, afirma.Para aumentar
volume de empregados em lojas,
contratouduasmilpessoas.
Apesar desses eventuais picos
de demanda, a empresa diz que já
sente, nos últimosdias, umanor-
malização do tráfego. “A venda co-
meçaaestabilizar. Se épela qua-
rentena, não sabemos, seria uma
‘ad ivinhação’.Mas algumas lojas
no períodonoturnojá têm queda
detráfegofrenteaopico”, dizele.
A companhiaaumentou os es-
toquesantesdo inícioda crise
causadapelonovocoronavírus,
pela sinalizaçãode que o país se-
ria atingido. “Nãohá movimento
hojede aumentode preços.Se
houver, a nossaposturaé nego-
ciarenãoaceitar”, dizele.
No casodo álcoolem gel e
máscarasde proteção, os pedi-
dos são entreguesde forma“pi-
cada”àslojasenãoháprevisão
de normalização. Ogrupofe-
chouacordocomaCosan,que
tem doadoálcoollíquidopara a
empresafabricarálcoolem gel
paraseusempregados.
te é lei. Esses4% são quaseim-
perceptíveis parao consumidor,
tamanhoos descontosque são
concedidos da indústriaparao
varejo. Issoépopulismofeito
como bolsodos outros”, disse
um executivoda indústria.Des-
contossão negociados, em par-
te, peloalto volumevendido às
redesvarejistas.
Para esse executivo, a indús-
tria poderia, agora,recompor
um poucoas margens.“Vale res-
saltarque o câmbiousadopara
definiropercentualéode de-
zembro. Aalta do dólarde janei-
ro paracá, que beiraaos 30%,é
custona veia”, disse.
Segundoum representantese-
torialdas farmácias,a propostaé
adiaro aumentoum ou dois me-
ses. “Issoé um sinalde sensibili-
dadeao atualmomento, quando
o gastoda população devesubir
e a rendacair. Quatro por centoé
a inflaçãoacumuladade 2019,
nãoédesprezível”,disse.
Em reuniãode empresáriosde
diversossetorescomo governo
na sexta-feira,o assuntofoi men-
cionadoevarejistasreforçaramo
pedidode adiamento.Aindús-
tria rebateua posição,ao afirmar
ao presidente que aceitariapos-
tergaroreajustesó paraprodu-
tos relacionadoscom a covid-19.
“A definiçãovirádogoverno,ain-
da estamosno escuro”, diz uma
segundafonte.
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