Valor Econômico (2020-03-26)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 3 da edição"26/03/20201a CADC" ---- Impressa por GAvenia às 25/03/2020@20:12:37


Quinta-feira, 26demarçode (^2020) | Valor|C3
Finanças
IMPACTOSDO
CORONAVÍRUS
MeiosdepagamentoStonepropõelinhadeR$100biparapequenonegócio
Governo analisa conceder
crédito por ‘maquininhas’
FláviaFurlan
DeSãoPaulo
Ogoverno analisa uma propos-
ta de concessãode crédito via
“maquininhas” de cartões para
micro, pequenas emédias empre-
sas impactadas pela quarentena
imposta em decorrênciada pan-
demiado coronavírus.Segundo o
Valorapurou, a quedanas vendas
chega a70% em setores maisafe-
tadosdos Estados de São Paulo,
Rio de Janeiroe Santa Catarina.
Levada pela credenciadora de
cartões Stoneàs autoridades, a
proposta inicial prevê R$ 100 bi-
lhões em crédito, taxade 3,75% ao
ano,prazo de três anos ecarência
deumanoparaopagamento,con-
siderando que, apóso períodode
quarentena, muitos negócios vão
terlentarecuperaçãodasvendas.
Alinhaserianosmoldesdo“cré-
dito fumaça”, bastante conhecido
pelo mercado. Nele, bancos ecre-
denciadoras usamo históricode
recebimento de pagamentoscom
cartões nas “maquininhas” dos
clientes paraliberar crédito.As
parcelas são cobradasna forma de
umpercentualdasvendasfuturas.
“A concessão do crédito poderia
considerar o histórico de vendas
pré-quarentena desses negócios”,
diz Augusto Lins,presidente da
Stone, aoValor. Bancos públicos,
comoCaixaEconômica Federal e
BNDES, poderiamviabilizar ali-
nha, com recursos do Tesouro. Em
umatransmissãoao vivo no últi-
mo domingo, Pedro Guimarães,
presidente da Caixa, afirmouque
estavaanalisandoaproposta.
AStone estima 8milhõesdemi-
cro,pequenosemédios negócios
no país enfrentandodificuldades
financeiras neste momento em
que aquarentena está sendo im-
postaemalgunsEstados.Sóacom-
panhia atende500 mil pequenas e
médias empresas, alémde 2 mi-
lhões de microempreendedores
individuais indiretamente por
meioda TON,joint ventureem
parceria com aGlobo Ventures, ou
de subcredenciadoras que usam
seusistemaparaoperar.
Ocrédito nas“maquininhas”só
é viável porque o Banco Central
criouum sistemade controles que
permiteque, se um clientemigra
de uma credenciadora para outra,
o percentual descontadodos em-
préstimoscontinuaaserfeitono
fluxo de pagamentosrecebido, as-
segurandoo valorao credordos
valores emprestados. A Stonede-
fende que as credenciadoras não
sejam remuneradaspeloserviço
prestadoaogoverno.
Em contrapartidaao emprés-
timo, odevedor seriaobrigadoa
cumpriruma série de regras:
conduzir o negóciocom diligên-
cia, implementar as medidasde
saúdeimpostaspelo ministérioe
aajudaracomunidade.
Segundoa Stone,a medidase-
ria umaforma, inclusive,de for-
malizarnegócios que estãoirre-
gulares, mas que precisamdere-
cursosnestemomentode forte
quedanas vendas.
Acredenciadora aindadefende
que seja criado um planonacional
parao controle da pandemiado
coronavírus, oqual deve abranger
a severidadeda doençaem cada
região do país, para que as locali-
dadessigamasorientaçõesimpos-
taspeloMinistériodaSaúdeacerca
daobrigaçãodeumaquarentenaà
população. “Estamos afavor de se-
guir as orientações das autorida-
desdesaúde”,disseLins.
A companhia levou ao governo
a proposta de criar um grupo in-
terministerial,comrepresentantes
dos Ministérios da Saúde e da Eco-
nomia,pensando no combateà
doença no curto, médioelongo
prazo, umavez que a dissociação
de ambas as áreaspode ser perigo-
sa.“Éprecisoterfraternidadeentre
os governantespara combater um
inimigo comum”, diz Lins. “Como
grupointerministerial, o ministé-
riodaEconomiapoderiaalocarca-
pitaldemaneiramaisassertiva”
BNDES unifica composição
dosconselhose número de
assentoscai de 45 para 17
FranciscoGóes
DoRio
Em Assembleia GeralExtraor-
dinária(AGE)realizadaontem,
via videoconferênca, oBancoNa-
cionalde DesenvolvimentoEco-
nômicoeSocial(BNDES)definiu
novosnomesparaos conselhos
doSistemaBNDES,formadopelo
própriobanco, pelaBNDESPar,
braçode participaçõessocietá-
rias, e pela Finame,financiadora
demáquinaseequipamentos.
As indicaçõesse inserem em
um conjunto mais amplo de
mudançasrealizadasna estrutu-
ra de governança corporativado
Sistema BNDES, incluindo as
três empresas.
Os conselhos de administra-
ção das três companhias esta-
tais, sob o guarda-chuvado Sis-
temaBNDES, passama contara
partirde agora com os mesmos
integrantes. Até entãoa compo-
siçãodos colegiados não era a
mesma.Os conselhosfiscaisdo
sistema BNDEStambém terão
representantesidênticosnas três
empresas, apurouoValor.
Comas novasindicações,saí-
ramosconselheirosDanielSigel-
manne CarlosThadeu de Freitas
Gomes.E entraramparaas duas
vagas, respectivamente, João
Laudode Camargoe Heloisa Be-
lotti Bedicks. No conselhofiscal,
DaniloSoares Pachecode Medei-
ros foi eleitoparaum cargode
suplentequeestavavago.
O númerototalde assentos
dos conselhos de administração
e fiscaldo SistemaBNDES cai de
45 para17. Nas três empresas,
serão11 assentos nos respecti-
vos conselhosde administração
eseis integrantesnos conselhos
fiscais,sendonestecasotrês ti-
tularese três suplentes.
O BNDESfez as contas e proje-
tou que a uniformização dos
mandatosde conselheirospara
as três empresas vai promover
uma economia de quasedois ter-
ços no potencialde gastoscom
honorários. Significa, somente
em pagamentos,redução de até
R$2,1milhõesaoano.
Conselheiros do BNDES que
passama ocupar vagasnos cole-
giadosda BNDESpar e da Finame
não vão receberhonorários adi-
cionais,alémdosquejárecebem,
disseuminterlocutordobanco.
A economia de R$ 2,1 milhões
não considera outroscustos “in-
tangíveis” que também serão
evitados, como a “otimização”
de processosinternos e despesas
comlocomoção e estadias, por
exemplo.
BNDES,BNDESPar e Finame,
cujaslinhassão importantes pa-
ra financiar a indústria,compar-
tilhavam amesmadiretoriaees-
truturadepessoal,masaindafal-
tava unificaracomposição dos
conselhosdeadministraçãoefis-
calnastrêsempresasdosistema.
Na estrutura antigahavia so-
breposição de competências en-
tre colegiados, sendoque, mui-
tas vezes, um mesmoassunto
era apresentadoaos diferentes
colegiadosdo banco,disse exe-
cutivoligadoao banco.Ecom-
pletou:“O bancovai rodarme-
lhor,de forma mais eficiente
com essasmedidas.”
Há oportunidadede
compras pontuais de
ações,diz OakTree
SérgioTa uhata
DeSãoPaulo
Comprarou vender? Em tem-
pos de pânicopelocoronavírus
muita gentetem vividoo dile-
ma. O sócio-fundadorda Oak
Tree e um dos maisvenerados
“gurus” de investimento nos
EUA,Howard Marks, defende
umaposturaintermediáriaem
um “me mo” extraordinário en-
viadoa clientesda gestorapara
abordaros efeitos da pandemia
sobreos mercados.
“Acho ‘ok’ fazeralgumascom-
pras, porqueas coisasestãoba-
ratas”,afirma.“Masnão há argu-
mentológico paravocêgastar
todocaixa,dadoque não temos
a menorideiado quãonegativos
os futuros eventos vão ser”,
acrescenta. Segundo ogestor,
“ninguémpodedizerse os pre-
ços dos ativos não vão cair mais
—nem agora, nem nunca”.
Marks, no entanto,reiteraver
oportunidades de comprae con-
sidera que “os atuaispreçosre-
duzidoscompensamde alguma
maneira os riscosde novosdeclí-
nios”. O especialista afirmaque
vai “colocar odinheiro paratra-
balhar”quandoa casa acharati-
vos dos quaisgoste e estejam em
preçosadequadamente baixos.
Aperguntase éomomentode
comprar, diz oinvestidor, tem si-
do feita aele com muita frequên-
cia atualmente. “Minharesposta
temnuances: éprovavelmente
‘um’momento para comprar.”
SegundoofundadordaOakTree,
no curtoprazonão haverá“o”
momentoparaadquirirações.
Marks lembra aindaque acrise
atualnãoéfinanceiraesimdesaú-
de. As ações do Federal Reserve
(Fed, obanco central americano)
vão apenas“aliviar as ramificações
econômicas”. Para o gestor, as so-
luçõesvãovirnaarenadasaúde.
O sócioda Oak Tree buscoure-
forçar no documento sua crença
no longo prazo. “Conforme
aprendemos sobreo coronavírus
e os esforços parao desenvolvi-
mento de uma vacina, parece im-
provávelpara mimque ocorra
uma fundamental e permanente
mudançano modo de vida, que
vá fazer o futuro ficar irreconhe-
cível, dizimando todos os negó-
cios e tornando impossível ava-
liá-los.” Ainda assim, pontua
Marks,“algodissovaiacontecer”.
O gestordestacaaindaa im-
portânciade se ter consciência
do ambienteeagir comoum in-
vestidor“do contra”, ou seja, na
contramão do mercado. “Por
anos,os investidoresacharamas
condições muitoboase, como
consequência,a Oak Tree acredi-
tava que os preçosestavam altos
e os mercadoscaracterizadospe-
lo comportamento de risco. Isso
nos fez adotara cautela.Agoraa
‘décadaperfeita’certamente pas-
sou.Um grande investidordo
contra, Warren Buffettdisseque
gostade hambúrguerese quan-
do são vendidos comdesconto
elecomemaishambúrgueres.”
Markslembraque “o melhor
tempo para comprar éjusta-
mente quando ninguémmais
querfazê-lo”. Oinvestidorres-
saltaque os mesmosfatoresque
vão levaras pessoasauma aver-
são a aquisições também vão
afetaroinvestidor“do contra”.
“Masodo contraisolaessessen-
timentose compramesmoas-
sim, aindaque pensenão ser fá-
cil.” O gestorcomplementa:“To-
do grandeinvestimentocomeça
com um grandedesconforto”.
Tesouroavaliamudar
planode financiamento
da dívidapúblicade 2020
MarianaRibeiro
DeBrasília
Frenteao avançodos impac-
tos econômicos do coronavírus
e atensãopolíticaem tornodo
petróleo,houveumapiorasig-
nificativana percepçãode risco
globalem março,avaliao Te-
souroNacional.Comamudan-
ça no cenário, asecretariajá en-
xerga a necessidadede alteraro
PlanoAnualde Financiamento
(PAF) de 2020.
Em documentoque acompa-
nhouadivulgaçãoda dívidapú-
blicade fevereiro, oTesourodiz
que,nomercadolocal,as expec-
tativasde novoscortesna Selic
provocaram umaquedanas ta-
xas de jurosde curtoprazo, en-
quantoa “volatilidadeextrema
no mercado internacionale o
comportamentoda taxa de câm-
bio levaramas taxasde jurosde
longo prazoaos maioresníveis
desdedezembrode2018”.
Nessecenário, asecretariare-
comprouliquidamente R$ 33,1
bilhões em títulospúblicos até
25 de março, a maioratuaçãoda
históriano mercado. “O progra-
ma de recomprade 2018 atingiu
R$ 22 bilhões. Então,este éhis-
tórico”, disseo coordenador-ge-
ral de Operaçõesda DívidaPú-
blica,Luis Felipe Vital,por meio
da assessoria de imprensa do
Ministério da Economia.
A secretariaenfatiza que du-
ranteperíodos de “elevadavola-
tilidade” pode realizar leilõesex-
traordinários para“fornecersu-
porte ao bomfuncionamento”
do mercado eque continuará
atuando“sempre que observar
disfuncionalidades nos negó-
cios". Segundo Vital não há teto
paraaatuaçãodoTesouro.
O secretário admitiuque as
condiçõesdo mercadoindicama
necessidadede revisãodo PAF,
quetrazosparâmetrosparaoen-
dividamentono ano. Mas omo-
mentoexatoda alteração“de-
pendede algumasinformações
que estãosendocoletadas junto
ao mercadoeda elaboraçãodos
cálculosnecessários”. O subse-
cretário da DívidaPública,José
Franco,acrescentouque épossí-
vel que haja alteraçãoem “prati-
camentetodososindicadores”.
Segundoele,no entanto, “não
necessariamente” haverá au-
mento na emissãodetítulos
atreladosà Selic,mas sim a“in-
troduçãode vencimentosmais
curtos,comoestá no comunica-
do dos leilões". “Essaalteração
na estratégia foi feita com o ob-
jetivode ajustaras colocações
do Tesouroàs atuaiscondições
do mercado”, afirmou. Franco
disse aindaque omomentoad-
verso deixouem estadode espe-
ra o lançamento de um título
prefixado de 20 anos.
O coordenador-geral de pla-
nejamentoestratégico da dívida,
Luiz Fernando Alves, afirmou
que o colchão de liquidezda dí-
vida “dáflexibilidadeparaajus-
tar a estratégiade financiamen-
to” de formaaminimizaroim-
pacto das medidasfiscaispara
enfrentarocoronavírussobrea
gestão da dívida.
Em fevereiro,adívidapública
federalsubiu1,22%emrelaçãoao
mês anterior esomouR$ 4,281
trilhões. A participação de inves-
tidoresestrangeiros subiu para
10,93%.Osfundosdeinvestimen-
toseguemcomoosprincipaisde-
tentoresda dívida, com26,94%
do total.São seguidos pelos fun-
dosdeprevidência,com24,62%.
Sem loterias,empresas
de capitalização
fazemsorteios
AnaPaulaRagazzi
DeSãoPaulo
ACaixa Econômica Federal
suspendeu por três mesesos sor-
teiosda Loteria Federalpor con-
ta da pandemiado coronavírus.
Além do pagamento de prê-
mios,os números da loteriasão
usados por outrossegmentos,
comoos de títulosde capitaliza-
ção e consórcios,que procuram
agoraoutrasformasde manter
seu dia a dia operacional.
Segundoa Susep, se não utili-
zar os númerosdas loterias, a so-
ciedade de capitalização “se
obriga a realizarsorteios pró-
prioscom ampla e préviadivul-
gação aos titulares, prevendo,
inclusive,livre acesso aos parti-
cipantese apresença obrigató-
ria de auditores independentes”.
CarlosAlberto dosSantosCor-
rêa, diretor executivo da Fenacap
(Federação Nacionalde Capitali-
zação), afirma que as empresas es-
tão se organizandoeque os sor-
teiospoderão ser realizadospela
federação ou pelos participantes.
“Nãohaveráparalisação nem pre-
juízoparaosconsumidores.”
AugustoLins,presidentedaStone:nosmoldesde“crédito fumaça”,parcelasdescontadasdasvendasfuturas
REGISFILHO/VALOR
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