O Estado de São Paulo (2020-03-27)

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O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 27 DE MARÇO DE 2020 A


Internações graves aumentam 40% e


governo de SP cogita ‘restrição radical’


TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Centro. Prefeitura deu início à instalação de pias na região central para auxiliar higienização de pessoas em situação de rua


Bruno Ribeiro


André Borges


Emilly Behnke / BRASÍLIA


O número de internados com


coronavírus em estado grave


em São Paulo teve alta de 42%


em um dia – foi de 59 para 84


entre quarta-feira e ontem.


No total, o Estado tem 862 ca-


sos confirmados e 58 mortes.


O governo paulista afirmou


que manterá a quarentena e


cogita ampliar restrições – o


secretário da Saúde, José


Henrique Germann, citou até


o fechamento total do Estado


(lockdown) como medida fu-


tura, caso hospitais entrem


em colapso. O Ministério da


Saúde disse reprovar endure-


cimento das regras e o presi-


dente Jair Bolsonaro afirmou


que a pasta já concordou com


orientações mais brandas so-


bre isolamento.


A avaliação de técnicos do Es-


tado é de que fechar o comércio


retardou o avanço da doença,


na comparação com o resto do


País. “Éramos praticamente


90% dos casos do Brasil e agora


somos 30%. O que significa que


há expansão da epidemia, e de


forma acelerada”, disse Ger-


mann. No Brasil, são 77 mortes


e 2.915 casos diagnosticados,


em todos os Estados e Distrito


Federal. São Paulo concentra a


maioria dos óbitos, mas há regis-


tros em Rio, Ceará, Pernambu-


co, Santa Catarina, Goiás, Rio


Grande do Sul e Amazonas.


Desde a semana passada, a de-


terminação da gestão João Do-


ria (PSDB) foi a de fechar o co-


mércio, exceto serviços essen-


ciais, como mercados e farmá-


cias. A medida vale pelo menos


até o dia 7. Ontem, o diretor-pre-


sidente da Organização Mun-


dial da Saúde (OMS), Tedros


Ghebreyesus, voltou a defen-


der o isolamento social.


Já Bolsonaro tem criticado es-


sas medidas e fala em risco de


risco de crise econômica. On-


tem, disse que o ministro da


Saúde, Luiz Henrique Mandet-


ta, já concordou em mudar a re-


comendação de isolamento ge-


ral para o chamado isolamento


vertical, em que só alguns gru-


pos – como idosos ou doentes


crônicos – ficam em casa. O pre-


sidente disse que não há prazo


para que a mudança ocorra.


Mandetta não participou de en-


trevistas coletivas ontem.


A gestão Doria cogita aumen-


tar ainda mais as restrições con-


forme a evolução da epidemia.
“Existe uma gradação. O que es-
tamos fazendo não é um isola-
mento. É distanciamento so-

cial. O próximo passo, se hou-
ver necessidade, é isolamento
domiciliar ou social. E, se hou-
ver necessidade ainda de aper-
tar mais esse cinto, aí seria o
lockdown. E a característica, aí,
é o uso da força policial para
manter as pessoas em casa”,
afirmou Germann. “Não esta-
mos nesta situação ainda, mas
não sei se estaremos ou não.”
Doria disse anteontem cogitar
multas a idosos que saiam de
casa sem necessidade, como foi
anunciado em Porto Alegre.
Segundo Germann, “se man-
tivermos idosos em casa, tal
qual lockdown, teremos com-
portamento da crise que talvez
nos favoreça nesse ponto para
não colapsar o sistema de saú-
de”. No Estado, já são erguidos
hospitais de campanha e unida-
des de referência têm se prepa-
rado para a chegada do pico do
surto. O Hospital das Clínicas,
por exemplo, liberou 900 leitos
para atender à nova demanda.
Para o secretário, o ritmo de
aumento de infecções confirma-
das em São Paulo mostra que as

medidas de restrição são “sufi-
cientes, ou vêm colaborando de
forma bastante efetiva”.

Efeitos. Secretário de Vigilân-
cia em Saúde do ministério,
Wanderson Oliveira disse ser
precoce avaliar impactos do iso-
lamento. “As (medidas) mais in-
tensas foram adotadas por São
Paulo não tem nem duas sema-
nas. Mas acredito que terão efei-
to. Não sei se as medidas vão
influenciar na Bahia, Estados
que estão longe. Possivelmente
sim. São Paulo é referência.”
E João Gabbardo, secretário
executivo do ministério, suge-
riu isolamento menos restrito.
“Não vemos sentido na proibi-
ção de que pessoas não possam
andar na quadra, no parque. Vai
fazer bem. É importante uma ca-
minhada de 30 minutos.”
Especialistas dizem que o iso-
lamento é a medida mais indica-
da para conter o avanço rápido
da epidemia, mas leva alguns
dias para ver os resultados. Para
Bernardino Souto, médico e
pesquisador da Universidade

Federal de São Carlos (UFS-
Car), é cedo para mapear resul-
tados da quarentena paulista.
“É possível que São Paulo tenha
tomado medida mais radical e a
quarentena esteja ajudando.
Mas essa é uma hipótese.”
Outro ponto, diz Souto, é di-
mensionar o alcance da testa-
gem no Brasil. Pesquisas esti-
mam cerca de 84% dos casos
não diagnosticados, por serem
assintomáticos ou falta de exa-
me. A testagem em larga escala
é considerada crucial para ras-
trear o avanço da doença – foi a
aposta da Coreia do Sul, que
conseguiu controlar o surto. O
Brasil promete 22,9 milhões de
testes, mas esbarra em desa-
fios logísticos, como a capaci-
dade de produção da Fiocruz.
Gabbardo afirmou esperar al-
ta diária de casos em 33% e des-
tacou que o País tem ficado abai-
xo. “Esperamos não ter cresci-
mento abrupto (da curva de in-
fecção), como a Itália (que está
em quarentena e tem 80,5 mil ca-
sos ).” /COLABORARAM JULIA
LINDNER e GIOVANA GIRARDI

Metrópole

Fábio Grellet / RIO


O


prefeito do Rio, Mar-
celo Crivella (Repu-
blicanos), acompa-
nhou ontem o início do traba-
lho de desinfecção dos meios
de transporte público realiza-
do pelos militares das Forças
Armadas em apoio à prefeitu-
ra. Nos vagões dos trens da
Supervia, os militares asper-
giram uma solução que mata
o coronavírus.
“Quero agradecer às For-
ças Armadas, Marinha,

Exército e Aeronáutica, que es-
tão fazendo um trabalho ex-
traordinário na cidade do Rio
de Janeiro de desinfecção dos
meios de transporte de massa.
Vão também para os ônibus, de-
pois a estações de metrô, traba-
lhando de madrugada, assim co-
mo nas barcas e no VLT”, disse
Crivella. “Essa foi uma solicita-
ção que o secretário de Trans-
portes e eu fizemos ao general
Júlio Cesar Arruda, comandan-
te militar do Leste.”
O general explicou que o ser-
viço será feito fora do horário

de funcionamento dos meios
de transporte, para não prejudi-
car o público. De acordo com o
Ministério da Saúde, o Estado
do Rio registra 421 casos confir-
mados da covid-19 e 9 mortes
pela doença. É o segundo Esta-
do com o maior número de óbi-
tos, atrás de São Paulo.
As ações de desinfecção de lo-
cais com grande movimentação
e concentração de pessoas para
reduzir riscos de contágio pelo
novo coronavírus começaram
na terça-feira. Segundo a prefei-
tura, a Companhia Municipal
de Limpeza Urbana (Comlurb)
higieniza os pontos de ônibus,
os acessos a estações de metrô,
BRT, barcas e trem, Central do
Brasil, rodoviária e entorno dos
principais hospitais municipais
e estaduais.
Crivella voltou a pedir à popu-
lação que siga as orientações do

Ministério da Saúde e permane-
ça em afastamento social. Ele
afirmou que em 15 dias as medi-
das de restrição poderão ser re-
vistas aos poucos, caso o ritmo

de contágio diminua.
Para minimizar o impacto na
economia, o prefeito lembrou
que autorizou lojas de conve-
niência em postos de gasolina e

de material de construção a
reabrir a partir de hoje. “Por-
que a indústria de constru-
ção civil, que é a maior que
temos no País, precisa conti-
nuar trabalhando. Onde é
que eles vão comprar cimen-
to, areia, pedra, aço, madeira,
tubo, fio elétrico? Eles vão
comprar nesse mercado. En-
tão abrimos”, justificou o pre-
feito Crivella.

Maracanã. Ontem, o gover-
nador do Estado do Rio, Wil-
son Witzel (PSC), anunciou
que vai montar um hospital
de campanha no Estádio do
Maracanã para atender os pa-
cientes infectados pelo novo
coronavírus. Outros três hos-
pitais de campanha serão
montados em três terrenos
diferentes, afirmou ainda o
governador.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


EXÉRCITO DÁ ‘BANHO’


NOS TRENS DO RIO


l A Prefeitura de São Paulo
anunciou ontem que deu início à
instalação de pias na região cen-
tral para auxiliar a higienização
de pessoas em situação de rua.
A instalação ocorre em locais de
grande aglomeração da popula-
ção de rua, como Praça da Sé e
Largo de São Francisco.
A Secretaria Municipal de As-
sistência e Desenvolvimento So-
cial (SMADS) também promete
fazer a distribuição de sabonetes
aos moradores de rua. De acordo
com o órgão, também foram in-
tensificadas as abordagens às
pessoas em situação de rua, con-
sideradas vulneráveis à covid-19.
/ FERNANDA BOLDRIN

Saúde diz que ‘errou’ ao pedir R$ 410 bilhões a Guedes. Pág. A16 }


Pacientes com


diabete são casos


mais graves


CARL DE SOUZA / AFP

Apoio militar. Transporte carioca passa por desinfecção


Limpeza


Governador anuncia hospital no Maracanã


Crescimento de casos ocorre em meio a uma avaliação dos técnicos paulistas de que o fechamento do comércio está retardando o


avanço da doença, na comparação com o restante do País; o balanço nacional tem 77 mortos e 2.915 infectados – letalidade de 2,7%


SP instala pias para


população de rua


Os maiores alvos de quadros
graves do novo coronavírus no
Brasil até agora foram pessoas
com diabete ou problema car-
díaco, segundo o Ministério da
Saúde. Foram registradas 77
mortes e 2.915 infectados em to-
do o País. A letalidade verifica-
da está em 2,7%.
Ao analisar o quadro dos hos-
pitalizados (391 casos) e dos
que morreram (59, no momen-
to dessa avaliação), o governo
observou que 124 dos pacientes
sofrem de cardiopatia. Cerca de
80 delas têm diabete. Entre os
óbitos, mais de 30 tinham pro-
blemas do coração e quase 20
eram diabéticos.
A idade avançada se mostrou
mais uma vez como fator de ris-
co para complicações pela doen-
ça. Dos 391 internados, 78 ti-
nham entre 60 e 69 anos e ou-
tras 70 pessoas, de 70 a 79 anos.
Há alto registro, porém, de hos-
pitalizados entre 30 e 49 anos
(103 pacientes). A análise do
perfil dos mortos, no entanto,
mostra concentração entre ido-
sos. Entre os 59 casos avaliados
até o dia 26 de março, 48 eram
maiores de 70 anos.
“Os dados mostram que as
maiores vítimas são idosos,
mas também qualquer pessoa
que tenha cardiopatia ou diabe-
tes”, disse o secretário de Vigi-
lância do Ministério da Saúde,
Wanderson Oliveira.

São Paulo. Estado com o
maior número de casos e óbitos
confirmados até agora (1.052 in-
fecções e 58 óbitos), São Paulo
tem infectados em sua maioria
jovens, mas as mortes são con-
centradas nos idosos.
De acordo com o boletim do
Centro de Vigilância Epidemio-
lógica da Secretaria Estadual da
Saúde, 61% do total de casos
confirmados até o dia 24 (últi-
mo dado detalhado disponível)
tinha menos de 40 anos e a maio-
ria (56%) era homem.
Já quando analisado o perfil
dos mortos, o documento mos-
tra que 92% das vítimas tinham
mais de 60 anos e a maioria
(67,5%) era homem./ FABIANA
CAMBRICOLI e A.G. e E.B.

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