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A16 Metrópole SEXTA-FEIRA, 27 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
● Em números absolutos, SP é o Estado que tem mais
respiradores fora de operação
PARADOS
FONTE: CNES/MINISTÉRIO DA SAÚDE INFOGRÁFICO/ESTADÃO
RR
RO
PB
AL
RJ
PA
RS
MA
AM
ES
PE
AP
PR
MT
CE
TO
SE
MG
DF
AC
BA
MS
RN
SP
SC
PI
GO
TOTAL
ESTADO
30,
10,
9,
7,
7,
7,
7,
7,
6,
6,
6,
6,
6,
6,
6,
6,
5,
5,
5,
5,
4,
4,
4,
4,
3,
3,
2,
5,
152
494
918
550
7.
1.
3.
1.
899
1.
2.
94
3.
1.
2.
318
511
6.
2.
152
3.
909
807
18.
2.
450
1.
RESPIRADORES
EXISTENTES
46
50
89
40
545
102
246
74
62
101
185
6
236
86
130
19
29
337
112
8
154
41
34
770
78
16
43
FORA
DE USO
PORCENTAGEM
BRASÍLIA
O Ministério da Saúde infor-
mou ontem que “errou” ao afir-
mar em documento oficial en-
viado ao Ministério da Econo-
mia que precisaria de R$ 410 bi-
lhões extras para enfrentar a
pandemia do novo coronavírus
no Brasil pelo Sistema Único de
Saúde (SUS). Segundo a asses-
soria da pasta, o valor correto é
de R$ 10 bilhões. O Estado reve-
lou que a pasta enviou na terça-
feira um ofício assinado pelo mi-
nistro Luiz Henrique Mandetta
relatando a necessidade de
aporte de recursos. O documen-
to foi encaminhado para o mi-
nistro Paulo Guedes.
Em nota, o ministério disse
que colocou o número quatro
onde deveria estar um cifrão.
No documento, contudo, há
um cifrão antes do número qua-
tro. “Esclarecemos que, de fato,
a cifra consta em documento
preliminar enviado ao Ministé-
rio da Economia com vistas à
negociação de empréstimo jun-
to ao Banco Mundial. Porém, o
valor está errado. Trata-se de
um erro material. O valor esti-
mado correto seria R$ 10 bi-
lhões. O algarismo ‘4’ foi escrito
por engano — deveria ser um
cifrão, que fica na mesma tecla
do ‘4’. O erro passou despercebi-
do na revisão do documento. O
Ministério da Saúde solicitou
ao Ministério da Economia na
manhã de ontem a devolução
do estudo para as correções de-
vidas”, informou o Ministério
da Saúde.
O Estado apurou que a nota
foi elaborada após o presidente
Jair Bolsonaro questionar o mi-
nistro Mandetta sobre o valor
solicitado a Paulo Guedes. Bol-
sonaro tem minimizado a pan-
demia do coronavírus. Ele já dis-
se várias vezes que se trata de
uma “gripezinha”. O discurso
da Saúde contraria o do presi-
dente e, no documento, a pasta
chega a estimar que 10% da po-
pulação pode ser infectada.
Apenas para essas interna-
ções, a equipe da Saúde espera
gastar R$ 9,3 bilhões. No docu-
mento enviado a Guedes, a pas-
ta reconhece que a cifra é bas-
tante subestimada.
O Estado procurou o Minis-
tério da Saúde, por meio da as-
sessoria, questionando o valor
de R$ 410 bilhões por duas ve-
zes. Nas ocasiões, em nenhum
momento, a pasta questionou o
valor. O jornal também conver-
sou com técnicos do primeiro
escalão do ministério que parti-
ciparam da elaboração do docu-
mento. Também não houve con-
testação à cifra.
O presidente da Câmara, Ro-
drigo Maia (DEM-RJ), já afir-
mou publicamente que para o
enfrentamento dessa crise do
ponto de vista social, econômi-
co e principalmente da estrutu-
ra de saúde pública, para garan-
tir as vidas, serão necessários re-
cursos na ordem de R$ 300 bi-
lhões a R$ 400 bilhões.
Mateus Vargas / BRASÍLIA
A corrida para aquisição de
respiradores, essenciais para
o tratamento de casos graves
da covid-19, criou uma dispu-
ta entre o governo federal, Es-
tados e municípios. Hospi-
tais da rede privada também
reclamam que ordens desen-
contradas para recolhimento
de produtos ameaçam invia-
bilizar o atendimento de pa-
cientes, além de expor equi-
pes de saúde à contaminação
por falta de insumos.
No Amapá, a União briga na
Justiça para recolher 25 respira-
dores comprados pelo Estado.
O caso chegou a ser levado às
redes sociais pelo senador Ran-
dolfe Rodrigues (Rede-AP). O
governador de São Paulo, João
Doria (PSDB), também recla-
ma sobre o confisco de respira-
dores. Em videoconferência
com o presidente Jair Bolsona-
ro e o ministro da Saúde, Luiz
Henrique Mandetta, na quarta,
Doria prometeu ir à Justiça para
evitar bloqueio de produtos.
“Não faz nenhum sentido con-
fiscar equipamentos e insu-
mos. Se essa questão for manti-
da, tomaremos medidas neces-
sárias no ramo judicial.”
O Ministério da Saúde quer
que as compras e estoques de
respiradores sejam centraliza-
dos pela União. Dessa forma, os
produtos seriam distribuídos
conforme o surgimento de no-
vos casos no País. “No momen-
to que temos um encurtamento
de respiradores, fizemos o mo-
vimento para centralizar e para
poder descentralizar de acordo
com a epidemia”, disse Mandet-
ta a Doria. Segundo o ministro,
além de importações, a ideia é
que quatro fábricas no Brasil
produzam até 400 respiradores
por semana. “Vamos conseguir
assim abastecer todos os Esta-
dos. Não adianta cada local que-
rer montar todos os aparelhos
esperando casos. A gente vai
mandando de acordo com a rea-
lidade de cada caso.”
Em outra disputa, a União
perdeu nesta semana uma bata-
lha por 200 respiradores com-
prados por Recife. O Tribunal
Regional Federal da 5ª Região
barrou a tentativa de bloqueio
dos produtos. A empresa nacio-
nal Magnamed avisou no come-
ço desta semana a clientes que
não teria como entregar respira-
dores já encomendados, pois o
ministério havia requisitado
em “caráter compulsório e ime-
diato” que estes produtos fos-
sem retidos. A medida impac-
tou o estoque e a produção nos
próximos 180 dias da indústria,
segundo ofício da empresa.
O Estado apurou que ao me-
nos os governos de Minas Ge-
rais, Pernambuco, Bahia, Para-
ná, Ceará, Paraíba e Alagoas,
além de diversas prefeituras,
editaram atos administrativos
para requisitar insumos e pro-
dutos como respiradores.
O governo federal prepara
um edital pra compra de 30 mil
respiradores, sendo metade do
tipo “eletrônico portátil micro-
processado” e o resto “ventila-
dor pulmonar microprocessa-
do” para pacientes adultos e pe-
diátricos. A ideia é que os produ-
tos sejam entregues até 30 dias
após a escolha das melhores
ofertas. Uma cobrança de muni-
cípios é que a União aproveite o
seu poder de compra para ir ao
mercado e buscar estes equipa-
mentos. Segundo gestores, es-
tes equipamentos ficam muito
caros em compras pequenas
das prefeituras.
Rede privada. O secretário exe-
cutivo da Associação Nacional
de Hospitais Privados (Anahp),
Marco Ferreira, disse que pedi-
rá audiência com o presidente
do Supremo Tribunal Federal
(STF), Dias Toffoli, para apre-
sentar reclamações do setor so-
bre os confiscos. A ideia, segun-
do ele, é buscar um “conjunto
de regras” que “todas as pontas
possam seguir”.
A Anahp afirma que seus asso-
ciados já tiveram problemas pa-
ra entregas de respiradores,
mas que o maior impacto dos
confiscos, até agora, ocorre so-
bre equipamentos de proteção
individual, como luvas e másca-
ras. Ele afirma que alguns hospi-
tais estão sem estoque e já tive-
ram de afastar até 10% de sua
equipe por sintoma ou contami-
nação pela covid-19.
A Associação Brasileira dos
Importadores de Luvas para a
Saúde (Abils) enviou alerta ao
Ministério da Economia infor-
mando que gera “grave insegu-
rança jurídica” o bloqueio de
seus produtos. Segundo a enti-
dade, 95% dos insumos são im-
portados e, por causa das restri-
ções, as empresas podem dei-
xar de buscá-los no exterior, re-
duzindo estoques no País. A en-
tidade pede uma resolução na-
cional para que não haja mais
confisco de produtos por Esta-
dos e municípios.
Procurado, o Ministério da
Saúde informou que “não está
retirando materiais e equipa-
mentos de unidades hospitala-
res, tampouco impedindo que
hospitais recebam respirado-
res ou outros equipamentos
médicos”. “A preocupação é di-
recioná-los aos locais que mais
precisam para atendimento à
população”, disse a pasta.
Fabiana Cambricoli
Em meio ao surto do novo coro-
navírus e à corrida pela compra
de mais respiradores para aten-
der pacientes graves, o Brasil
tem 3,6 mil desses aparelhos fo-
ra de operação por problemas
como falta de manutenção. É o
que mostra um levantamento
feito pelo Estado na base de da-
dos do Cadastro Nacional de Es-
tabelecimentos de Saúde (C-
NES), mantido pelo Ministério
da Saúde no portal Datasus.
O balanço aponta a existên-
cia de 65.411 respiradores/venti-
ladores mecânicos nos hospi-
tais públicos e privados do País,
dos quais 61.772 estão em uso e
o restante, parado. O número
de aparatos que não podem ser
utilizados equivale a 5,6% do to-
tal. Os respiradores são equipa-
mentos considerados essen-
ciais para o tratamento de pa-
cientes que apresentam quadro
grave da doença causada pelo
coronavírus.
O Estado de São Paulo, que
reúne até agora o maior núme-
ro de casos e mortes por covid-
19 no País, é o que tem mais res-
piradores fora de uso: 770
(4,2%). No Rio de Janeiro, se-
gundo Estado com mais conta-
minados pelo coronavírus, são
545 aparelhos parados, ou 7,2%
do total.
Em números porcentuais, Ro-
raima é a unidade da Federação
com o maior índice de apare-
lhos fora de operação: 30,3%
dos 152 respiradores do Estado
estão sem condições de uso.
“São equipamentos quebrados,
em manutenção, mas que pode-
riam ser recuperados. Seria
uma ótima estratégia reativar
esses aparelhos nesse momen-
to”, comenta o médico intensi-
vista Ederlon Rezende, do con-
selho consultivo da Associação
de Medicina Intensiva Brasilei-
ra (Amib).
Ele afirma que o preço de ca-
da aparelho do tipo novo varia
de R$ 50 mil a R$ 90 mil. De
acordo com o especialista, em-
bora a complexidade dos repa-
ros dependa do tipo de pane e
da disponibilidade de peças de
reposição, o conserto não costu-
ma ser demorado.
A recuperação dos produtos
deixaria o País menos depen-
dente da aquisição de novos res-
piradores em um momento que
a demanda mundial cresce sig-
nificativamente sem que a in-
dústria dê conta de atendê-la.
De acordo com Rezende, o con-
serto pode ser rápido e costuma
ser mais barato.
Como mostrou o Estado on-
tem, o Ministério da Saúde con-
sultou os fabricantes dos equi-
pamentos sobre a possibilidade
de compra de 15 mil novos respi-
radores. A resposta do setor foi
a de que a disponibilidade para
entrega imediata é “praticamen-
te nula”. Segundo entidade que
reúne os fabricantes, as indús-
trias conseguiriam iniciar o for-
necimento de novas unidades
em cerca de 15 dias, quando o
Brasil já estará na fase de pico
da doença, segundo projeções
de especialistas e do Ministério
da Saúde.
Conserto. Diante do cenário, a
General Motors anunciou on-
tem força-tarefa para consertar
aparelhos que não estão em ope-
ração por algum tipo de proble-
ma. Participam do grupo repre-
sentantes do Ministério da Eco-
nomia, Senai, Associação Brasi-
leira de Engenharia Clínica (A-
beclin), outras montadoras, co-
mo a Mercedes-Benz, e fabri-
cantes de autopeças.
A empresa já está preparando
áreas específicas nas fábricas
de São Caetano do Sul, São José
dos Campos (SP), Gravataí
(RS), Joinville (SC) e seu cen-
tro de testes em Indaiatuba,
também no interior de São Pau-
lo, para realizar os consertos
dos respiradores. Com ajuda do
Senai, a General Motors tam-
bém está treinando, online, pes-
soal técnico para a tarefa. /
COLABOROU CLEIDE SILVA
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
lExplicação
Ministério briga na Justiça para centralizar equipamento e compra;
Estados querem estrutura própria e iniciativa privada vai ao STF
Em disputa. O Brasil tem 65.411 aparelhos, 46.663 no SUS
lEssenciais
Fiocruz vê explosão de internacões por problemas respiratórios. Pág. A17 }
“De fato, a cifra consta em
documento preliminar
enviado ao Ministério da
Economia com vistas à
negociação de empréstimo
junto ao Banco Mundial.
Porém, o valor está errado.”
Ministério da Saúde
Saúde diz que ‘errou’ ao pedir R$ 410 bilhões a Guedes
Segundo a assessoria
do ministério, valor
correto solicitado para
enfrentar a pandemia
seria de R$ 10 bilhões
● É o suporte oferecido, por meio de um aparelho, ao paciente que
não consegue respirar espontaneamente por vias normais
VENTILAÇÃO MECÂNICA
A VENTILAÇÃO
MECÂNICA NÃO CURA O
PACIENTE, AS CAUSAS
DA INSUFICIÊNCIA
RESPIRATÓRIA DEVEM
SER IDENTIFICADAS E
TRATADAS
Uma das principais complicações que se apresentam em pacientes
sob ventilação mecânica é a lesão pulmonar aguda e a síndrome do
desconforto respiratório agudo, contribuintes significativos para a
morbidade e mortalidade dos pacientes
Respiração
normal
Respiração mecânica
Respiração mecânica
Dentro dos pulmões o
oxigênio do ar inspirado é
transportado aos alvéolos
pulmonares, onde ele é
absorvido nos vasos
capilares
Quando o organismo é
incapaz de manter o ciclo
respiratório normal, meios
mecânicos substituem a
respiração espontânea
ALVÉOLOS
LARINGE
PULMÃO
FARINGE
BRÔNQUIO TRAQUEIA
O equipamento é conectado ao
paciente por meio de tubo
endotraqueal ou traqueostomia
O equipamento que infla ar nos
pulmões é conectado ao paciente
através de uma máscara
Não invasiva Invasiva
INFOGRÁFICO/ESTADÃO
AXEL HEIMKEN/ REUTERS-25/3/
Confisco de luvas a
respiradores opõe
União a Estados
Número de respiradores
que não podem ser
usados equivale a 5,6%
do total; em SP, são 770
com problemas
“São equipamentos
quebrados, em manutenção,
mas que poderiam ser
recuperados.”
Ederlon Rezende
MÉDICO DA ASSOCIAÇÃO DE MEDICINA
INTENSIVA BRASILEIRA
País tem 3,6 mil
equipamentos fora
de operação
i