%HermesFileInfo:A-2:20200327:
A2 Espaçoaberto SEXTA-FEIRA, 27 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Enquanto o mundo discute co-
mo lidar com o impacto sem
precedentes da covid-19, a
Nike apresentou um roteiro
útil para o combate à doença.
Com base em dados do seu
aplicativo de treinamento na
China, identificou quatro fa-
ses do impacto causado pela
pandemia que varejistas po-
dem esperar em ambos os la-
dos do Atlântico: contenção,
recuperação, volta à normali-
dade e crescimento de ven-
das. A empresa estima que a
China já progrediu em sua fa-
se de recuperação e está vol-
tando ao normal.
http://www.estadao.com.br/e/nike
O
Brasil vive uma guerra
contra o coronavírus.
O custo fiscal chegará
a centenas de bilhões de reais.
Cada real utilizado valerá a pe-
na se servir para salvar vidas,
preservar empresas e ativida-
des e garantir a subsistência
dos milhões de trabalhadores
que perderão renda em razão
da paralisação da economia.
Dado que os recursos neces-
sários serão bastante vultosos
e o País já se encontra em si-
tuação fiscal frágil, as deci-
sões a serem tomadas nesse
âmbito terão de seguir duas di-
retrizes principais: 1) alocar
os recursos disponíveis de mo-
do a maximizar os resultados
no enfrentamento da crise e
2) distribuir o custo da guerra
entre diferentes fontes de fi-
nanciamento.
Em relação ao primeiro
item, a principal preocupação
é garantir agilidade e efetiva
utilização dos recursos. Um
conselho no âmbito da União,
com participação dos Poderes
e boa articulação com os go-
vernadores e prefeitos, seria
um arranjo conveniente. To-
das as grandes decisões relati-
vas à crise passariam por esse
núcleo decisório.
Esse conselho contaria, ain-
da, com um regime extraordi-
nário de funcionamento e uma
espécie de orçamento que
acompanharia as fontes de fi-
nanciamento das medidas e o
caminho da utilização dos re-
cursos, incluídos os créditos,
até a destinação final, necessa-
riamente relacionada ao com-
bate à crise. Com esse arranjo
seria possível coordenar as
ações, conferir agilidade, acom-
panhar e fiscalizar o gasto.
Vale registrar que a crise
atingiu o Brasil numa situação
fiscal particularmente ruim. A
meta de déficit primário do go-
verno central para 2020, soma-
da à necessidade de contingen-
ciamento, resulta numa neces-
sidade inicial de financiamen-
to na esfera federal de R$ 150
bilhões a R$ 160 bilhões. So-
ma-se a esse montante o gasto
extra do combate à crise de cer-
ca de R$ 350 bilhões, conside-
rando complementação de ren-
da, correções no Bolsa Família
e despesas na área da saúde.
Sem contar os créditos a se-
rem concedidos por meio dos
bancos públicos.
É preciso levar em conta
também os efeitos da forte
queda da atividade econômica
e de medidas tributárias de aju-
da ao setor privado. Várias pro-
jeções indicam queda do pro-
duto interno bruto (PIB) de
4% ou mais. A isso se soma o
forte impacto da crise sobre o
preço do barril de petróleo e o
tamanho dos royalties e parti-
cipações especiais. Não é pessi-
mismo exagerado acreditar
que a receita possa cair mais
de R$ 120 bilhões.
Conjugando os números aci-
ma se conclui que a necessida-
de de financiamento do setor
público em 2020 deverá ultra-
passar os R$ 600 bilhões. A
maior parte dessa necessidade
será atendida pelo aumento da
dívida pública.
Tal fato remete à segunda di-
retriz apontada, que é o balan-
ceamento adequado das fontes
de financiamento para evitar
novos problemas, tão logo o
País retorne à normalidade.
Dois canais de financiamento
complementares, além do endi-
vidamento federal, são a redu-
ção de ativos e o remanejamen-
to dos gastos públicos.
O resgate antecipado dos
créditos do Tesouro no BN-
DES estará limitado em 2020,
se o banco tiver papel impor-
tante no enfrentamento da cri-
se, pela concessão de crédito a
empresas e entes federados. Já
a venda de reservas internacio-
nais será relevante, uma vez
que o Banco Central tem usa-
do esse instrumento para con-
trolar a instabilidade da taxa
de câmbio.
A venda de reservas permite
que o Banco Central reduza
dívida (operações compromis-
sadas), o que diminui a dívida
bruta e abre espaço para finan-
ciar os gastos necessários para
mitigar os efeitos da crise.
O espaço para a venda de re-
servas é dado pelo nível míni-
mo prudencial, ainda mais na
presente crise. Recorrendo à
métrica do Fundo Monetário
Internacional (FMI), chega-se
a um limite de R$ 291,9 bi-
lhões, inclusa uma margem de
segurança de 25%. Comparati-
vamente ao nível atual de re-
servas, de R$ 358,5 bilhões (em
13 de março), a venda até o li-
mite propiciaria US$ 66,6 bi-
lhões em recursos, o equivalen-
te a R$ 333 bilhões, a uma taxa
de câmbio de R$ 5.
Outra fonte de financiamen-
to a ser explorada é o remane-
jamento de despesas, reduzin-
do as que não dizem respeito à
crise, em favor das que atacam
diretamente o problema. Con-
tudo não basta ater-se ao rema-
nejamento das despesas discri-
cionárias, pois estas são muito
reduzidas, ainda mais com as
emendas parlamentares. O
ideal seria aprovar com urgên-
cia uma autorização temporá-
ria para envolver também os
gastos obrigatórios.
Uma alternativa próxima a
essa seria o uso dos emprésti-
mos compulsórios, previsto
na Constituição, de grupos de
alta renda. Essa medida e o re-
manejamento não são contra-
cionistas, pois os recursos libe-
rados serão destinados à miti-
gação da crise.
Em resumo, a crise surge nu-
ma situação inicial de desequilí-
brio das contas públicas e,
além de provocar queda da re-
ceita, exigirá forte aumento
dos gastos. Esse quadro requer
uma gestão fiscal atenta ao em-
prego adequado dos recursos
no enfrentamento da crise e à
distribuição equilibrada das
fontes de financiamento, de
modo a não provocar proble-
mas de difícil solução logo
após o retorno à normalidade.
]
RESPECTIVAMENTE, DIRETOR
DA INSTITUIÇÃO FISCAL INDEPEN-
DENTE (IFI) E CONSULTOR
LEGISLATIVO DO SENADO FEDERAL;
E DIRETOR EXECUTIVO
DA IFI DO SENADO FEDERAL
O podcast ‘Na Quarentena’
fala sobre a rotina com os
animais durante a epidemia.
http://www.estadao.com.br/e/podcast
E-INVESTIDOR
Nike mapeou avanço do coronavírus
Embarcações comerciais
têm a tarefa de salvar vidas -
e devolver imigrantes do Me-
diterrâneo para a Líbia de-
vastada pela guerra.
http://www.estadao.com.br/e/imigrantes
l“Igrejas abertas não faz sentido. Existem vários canais que exibem
missas e cultos religiosos. Tem de rezar em casa mesmo.”
LUCIA RIBARIC
l“Sou a favor de tudo voltar a funcionar. Idosos e pessoas com morbi-
dades que fiquem em casa, mas o restante deve voltar ao trabalho.”
ANDRÉ RICARDO
l“Pastores com medo de ficarem sem o dízimo e o governo sem o
dinheiro dos jogos.”
WHERMESON BEZERRA
l“Enquanto a covid-19 leva algumas pessoas a óbito, o ‘lockdown’
horizontal desemprega milhares.”
PETRONIO PJ
COMENTÁRIOS
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA
Público vê algo esperado e
inesperado: uma dançarina
penteada e com roupa no
estilo tradicional. Mas trata-
se de um homem.
http://www.estadao.com.br/e/flamenco
Espaço Aberto
A
charge mais dura e rea-
lista da crise que vive-
mos são as duas ondas
que nos vão atingir em cheio. A
primeira é uma onda de menor
tamanho, que recebe todas as
atenções neste momento: a
pandemia do coronavírus. A se-
gunda, ainda desconhecida e
muito mais avassaladora, é a re-
cessão mundial que vem atrás
da covid-19. Dois tsunamis su-
cessivos, porém de diferentes
natureza e impacto.
O dilema é que quanto me-
lhor forem a contenção e o iso-
lamento das pessoas, maior se-
rá a vitória contra a primeira
onda e mais desastroso será o
impacto da segunda. Como diz
o ditado, se correr o bicho pe-
ga, se ficar o bicho come. Nes-
te caso, se corrermos para fora
de casa o bicho da covid pega
todo mundo, se ficarmos confi-
nados em casa o bicho da reces-
são nos come mais à frente.
A tragédia é que, enquanto a
covid-19 ataca os mais velhos,
a recessão atingirá principal-
mente os mais pobres, o merca-
do informal e as pequenas em-
presas, que têm pouco acesso
a crédito e capital de giro, afe-
tando milhões de empregos.
A crise atual origina-se na
área sanitária, que determinou
o isolamento social, e avança
na área econômica, com a para-
lisação da oferta de bens e ser-
viços. Esta crise exige, portan-
to, políticas públicas que consi-
gam administrar o difícil tra-
de-off entre riscos sanitários e
riscos socioeconômicos, com
suas respectivas medidas e
seus ajustes.
No cenário otimista tere-
mos um impacto momentâ-
neo, com a doença causando
poucas mortes e uma recessão
moderada e administrável,
compensada pelo inevitável
surto de crescimento quando
a vida se normalizar.
No cenário pessimista, a pan-
demia demora muito para ser
solucionada e a recessão resul-
tante deixa pesadas sequelas
em termos de desemprego,
quebra de empresas, desorgani-
zação de cadeias produtivas,
desespero e mesmo violência.
As fronteiras do mundo ha-
viam desaparecido com a facili-
dade de se conectar, viajar, con-
versar e trabalhar online. Pes-
soas se integraram por meio de
aviões, internet, redes sociais e
empresas e produtos que se
tornaram globais. Mas esta cri-
se está revelando aspectos até
aqui inimagináveis, como a in-
capacidade dos países de pre-
ver e lidar com crises sanitá-
rias. Com tanta riqueza acumu-
lada, a humanidade da era digi-
tal foi abalroada pela falta de
testes, máscaras, respiradores.
Isso sem contar a hoje visí-
vel fragilidade das cadeias de
suprimento e a inoperância de
organizações multilaterais co-
mo ONU e G-20 para atuarem
de forma coordenada e contun-
dente num momento em que
elas são mais necessárias.
O fato é que a crise do coro-
navírus traz o Estado-nação e
as fronteiras nacionais de vol-
ta à cena e vai aumentar as
pressões por controles de fron-
teira, favorecimento de produ-
tores e produtos locais e
maior protecionismo.
O mundo global pode san-
grar se o nacionalismo pós-co-
ronavírus levar à deterioração
das relações EUA-China, ao co-
lapso da arquitetura integrada
da União Europeia e à redução
do comércio e dos investimen-
tos globais. Isolamento e qua-
rentenas, xenofobia, movimen-
tos antiglobalistas e antimigra-
ção podem produzir uma aver-
são a produtos importados,
atingindo em cheio a crescen-
te presença e a competitivida-
de do agronegócio brasileiro.
Um dos elos mais sensíveis
no ambiente altamente tumul-
tuado desta pandemia é o
abastecimento de alimentos e
bebidas. Pelo menos aqui, no
Brasil, não vai faltar comida,
já que produzimos muito
mais do que consumimos.
Mas dois problemas podem
impactar o esforço de produ-
ção: a distribuição de produ-
tos e a recessão global.
No médio e no longo pra-
zos, temos de entender me-
lhor qual será o impacto de
uma recessão global nas nos-
sas exportações de commodi-
ties. Conceitualmente, o agro-
negócio deveria ser um dos se-
tores menos afetados, pois as
pessoas não vão deixar de co-
mer e o mundo depende do
Brasil para sua segurança ali-
mentar em diversas commodi-
ties. Mas uma recessão longa e
penosa pode criar alta volatili-
dade e derrubar preços e mar-
gens, se for igual à Grande De-
pressão de 1929.
No curto prazo, as medidas
de contenção têm criado tra-
vas importantes no fluxo físico
das cadeias de suprimento de
produtos agropecuários e ali-
mentos, que são longas e com-
plexas, principalmente na área
de produtos perecíveis, como
frutas, verduras, carnes e lác-
teos, e de atividades que depen-
dem de mão de obra intensiva
e aglomerada. Isso sem contar
o impacto das restrições im-
postas sobre importantes ca-
nais de distribuição, como ba-
res, restaurantes, hotéis e servi-
ços de alimentação. Tenho ou-
vido relatos de arbitrariedades
absurdas, falta de serviços de
apoio, atrasos e quebra de con-
tratos nas cadeias do agro.
Em toda a minha vida, nun-
ca vi um momento tão crítico
como este, que exige estraté-
gia sólida e coordenação firme
de autoridades em diferentes
níveis do governo e imenso es-
forço coletivo e cooperativo
de empresas e pessoas. Os paí-
ses que melhor lidaram até
aqui com a mitigação da doen-
ça e da recessão foram os que
implementaram estratégias fir-
mes e focadas para lidar com
problemas concretos (isola-
mento de doentes, por exem-
plo), junto com campanhas de
ampla informação e conscien-
tização da sociedade.
]
PROFESSOR DE AGRONEGÓCIO
GLOBAL DO INSPER E TITULAR
DA CÁTEDRA LUIZ DE QUEIROZ
DA ESALQ-USP. E-MAIL:
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PUBLICADO DESDE 1875
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Europa usa navios
contra imigração
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flamenco inovam
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Marcos Sawaya Jank
Tema do dia
Empresa estatal russa está
financiando e construindo
reatores em todo o mundo.
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O mundo global
e a covid-
A globalização será
fortemente impactada
pelos dois tsunamis
da pandemia
Gestão fiscal na guerra
contra o coronavírus
Além de provocar
queda da receita, a crise
exigirá forte aumento
dos gastos públicos
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Bolsonaro inclui
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