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A20 SEXTA-FEIRA, 27 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Esportes
Futebol. Com impasse sobre redução salarial durante período sem jogos, a negociação passará ser individual; definição, só sobre férias
lO futebol europeu também dis-
cute o que fazer para que clubes
e atletas se adaptem à nova reali-
dade. Algumas iniciativas isola-
das já ocorreram, mas na maio-
ria dos principais países a indefi-
nição ainda é grande.
A Alemanha é o país com mais
soluções até agora. Todas as de-
cisões partiram dos clubes. No
Bayern de Munique, o elenco
aceitou ter o salário reduzido em
20% enquanto o calendário esti-
ver paralisado. O Borussia Dort-
mund fixou acordo interno de
20% de cortes no salário e de
redução de 10% caso a tempora-
da prossiga, mas com os portões
fechados. A estimativa da direto-
ria é de conseguir poupar até R$
12 milhões por mês. No Union
Berlin, Werder Bremen e Borus-
sia Mönchengladbach os atletas
renunciaram aos salários.
Na Espanha, o Barcelona pro-
pôs ao elenco uma redução de
70% dos vencimentos. A propos-
ta foi rejeitada. Os jogadores acei-
tam desconto máximo de 30%. A
liga local indicou que avalia pro-
por às equipes uma redução sala-
rial de 20%, a ser aplicada para
todo o restante da temporada.
Essa é a mesma ideia discutida
na Inglaterra.
Na França, a mobilização par-
tiu de Olympique de Marselha e
Lyon. Para economizar, as duas
diretorias fizeram o elenco rece-
ber 70% do valor. Durante a sus-
pensão do calendário, os 30%
restantes pagos pelo governo.
Na Europa, impasse
prevalece, mas há
algumas soluções
ALEX SILVA/ESTADÃO - 8/5/
Fora de foco. Interesse de clubes e atletas são bem diferentes neste período de crise e acordo está demorando a sair
Ciro Campos
Os jogadores de futebol dos
clubes brasileiros terão 20
dias de férias coletivas duran-
te a pandemia do novo coro-
navírus, mas a definição so-
bre reduzir ou não salários
ainda está em suspense. Após
mais de duas horas de reu-
nião por videoconferência en-
tre representantes da CBF e
dirigentes de 30 clubes das
quatro divisões nacionais pa-
ra debater como reduzir os
custos enquanto o calendá-
rio está paralisado, ficou des-
cartada a hipótese de se reali-
zar um acordo coletivo.
A proposta de unificar a nego-
ciação havia sido elaborada pe-
la Federação Nacional dos Atle-
tas Profissionais de Futebol (Fe-
napaf). A entidade debatia com
a Comissão Nacional de Clubes
(CNC) diretrizes para definir
como as equipes poderiam re-
duzir as despesas nesse período
sem jogos e ao mesmo tempo
manter o pagamento aos joga-
dores. Foram duas rodadas de
conversas e de discordâncias.
O principal entrave foi delimi-
tar quando começaria e qual se-
ria a duração das férias coleti-
vas. O outro ponto foi determi-
nar qual seria a redução salarial
caso a suspensão do calendário
nacional durasse mais do que o
período de descanso.
Pelo menos a reunião de on-
tem resolveu uma dessas pen-
dências, ao determinar que os
times vão dar 20 dias de férias
aos jogadores a partir do próxi-
mo dia 1.º de abril.
Agora, caberá aos clubes defi-
nir a parte mais espinhosa, que
trata de redução salarial. Os diri-
gentes alegam ser difícil man-
ter as despesas enquanto não
há campeonatos em andamen-
to, principalmente pela falta de
recursos com bilheteria e patro-
cínio. Por isso, cada equipe pre-
cisará analisar com os respecti-
vos jogadores qual será o valor
da redução e por quanto tempo.
A iniciativa de negociações in-
dividuais, em vez do pacote co-
letivo, já era vontade de algu-
mas equipes. Inicialmente a
CNC, liderada pelo presidente
do Fluminense, Mario Bitten-
court, tinha o desejo de que,
após o período de férias, os atle-
tas tivessem desconto de 50%
no primeiro mês de salários e o
contrato suspenso caso a parali-
sação atingisse o segundo mês.
O debate definiu que no dia 15
de abril será realizada uma nova
videoconferência para avaliar a
situação da pandemia no Brasil.
O diretor de competições da
CBF, Manoel Flores, afirmou
no encontro que apesar da inter-
rupção, a entidade quer manter
a Copa do Brasil e o Campeona-
to Brasileiro nos mesmos for-
matos, pois considera haver da-
tas disponíveis para acomodar
todas as partidas.
Entre os clubes que já come-
çaram a discutir internamente
os acordos forçados pela pande-
mia estão Grêmio, Fortaleza e
Ceará. Com essa proposta, as
equipes antecipam para abril as
férias que seriam entre dezem-
bro e janeiro.
Na manhã de ontem, os times
da Série B já haviam anunciado
a decisão de uma outra negocia-
ção com os atletas, com férias
de 20 dias em abril e redução
salarial de 25% ao fim desse pe-
ríodo (mais informações nesta
página).
Raphael Ramos
Decisão anunciada pela Corte
Suprema de Justiça do Paraguai
na quarta-feira pode complicar
ainda mais a situação de Ronal-
dinho Gaúcho e seu irmão, As-
sis, presos em Assunção desde
o último dia 6 após usarem pas-
saportes falsos para entrar no
país. Por causa da pandemia do
coronavírus, foi estendida a sus-
pensão das atividades do Poder
Judiciário em todo o país até o
dia 12 de abril.
Isso significa que somente
serviços básicos continuarão
funcionando e recursos apre-
sentados pelos advogados dos
brasileiros na tentativa de tirá-
los da cadeia podem demorar
ainda mais para serem julgados.
“Há muita incerteza por aqui.
Vamos ver como os dias pas-
sam. Devido a esse problema do
coronavírus, qualquer defini-
ção é muito arriscada”, disse ao
Estado o advogado de Ronaldi-
nho e seu irmão, Adolfo Marín.
Os brasileiros estão detidos
na Agrupación Especializada
de la Policía Nacional, um quar-
tel transformado em presídio
de segurança máxima na capital
paraguaia. Para evitar a dissemi-
nação do coronavírus, estão
proibidas visitas a presos no lo-
cal desde terça-feira. Somente
advogados podem entrar na ca-
deia. Mesmo assim, enfermei-
ras fazem o controle na porta
do quartel. Quem apresentar
problemas respiratórios, tosse,
febre ou gripe é vetado. Os pre-
sos também passaram a ser exa-
minados diariamente. O Para-
guai registrava até quarta-feira
três mortes e 51 pessoas infecta-
das pelo novo coronavírus.
As fronteiras do país estão fe-
chadas, mas se Ronaldinho e o
irmão conseguirem sair da ca-
deia eles não estariam impedi-
dos de voltar ao Brasil. “A entra-
da de estrangeiros está restrita,
mas a saída não é”, explica a dire-
tora do Departamento de Imi-
grações do Paraguai, María de
los Ángeles Arriola Ramírez.
Autoridades do governo para-
guaio, no entanto, não acredi-
tam nessa possibilidade. “Tudo
vai depender do tribunal e das
medidas que serão aplicadas, co-
mo autorizá-lo ou não a sair do
país. Mas acho improvável que
Ronaldinho volte logo ao Brasil,
uma vez que o Tribunal de Ape-
lação apontou a dificuldade de
extraditá-lo se ele for para o Bra-
sil”, disse ao Estado a ministra
da Justiça, Cecilia Pérez.
O conteúdo dos aparelhos ce-
lulares de Ronaldinho e do ir-
mão está sendo periciado por
investigadores do Ministério
Público, que esperam saber se
os dois têm ou não ligação com
uma organização criminosa es-
truturada para falsificar docu-
mentos e especializada em lava-
gem de dinheiro. A suspeita do
MP é de que eles façam parte de
um amplo esquema. A quadri-
lha contaria com a participação
de empresários e funcionários
públicos para facilitar a opera-
ção de negócios ilegais no país.
Conmebol vai
antecipar cota
da Libertadores
estadao.com.br/e/pietrofittipaldi
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
A Confederação Sul-America-
na de Futebol (Conmebol)
anunciou ontem o adiantamen-
to de recursos econômicos para
os clubes participantes da Copa
Libertadores e da Copa Sul-
Americana. Cada agremiação
poderá solicitar até 60% do prê-
mio de participação.
A iniciativa da entidade tem
como objetivo permitir que os
clubes planejem suas necessida-
des financeiras por causa da
pandemia do coronavírus e seu
impacto na saúde e no esporte
pelo mundo. “Situações como
essa exigem respostas rápidas e
excepcionais, com o objetivo
tanto de preservar a saúde da
grande família do futebol sul-
americano quanto para reduzir,
na medida do possível, o impac-
to econômico da interrupção
das competições”, afirmou o
presidente da Conmebol, Ale-
jandro Domínguez.
Na Libertadores, o Brasil con-
ta com sete times na fase gru-
pos (Palmeiras, Santos, São Pau-
lo, Flamengo, Internacional,
Grêmio e Athletico-PR), que pa-
ga US$ 3 milhões (R$ 15 mi-
lhões) a cada equipe. Assim, um
clube poderá pedir até US$ 1,
milhão (cerca de R$ 9 milhões).
Ronaldinho fica preso ao menos até 12 de abril
REJEIÇÃO
Zoca, irmão
de Pelé, morre
aos 77 anos
Série B dá ferias e pode
cortar 25% do salário
NA WEB
Fórmula 1. Pietro
Fittipaldi é piloto
de testes da Haas
6
JORGE ADORNO/REUTERS-6/3/
Atividades da Justiça do
Paraguai estão paradas
por causa da pandemia e
não há prazo para recurso
do ex-meia ser apreciado
Indefinição. Paralisação da Justiça vai afetar Ronaldinho
50% de redução
dos salários dos jogadores no
primeiro mês após a volta das
férias coletivas foi a proposta
feita pela Comissão Nacional de
Clubes e que foi rejeitada pela
federação dos atletas, assim
como a suspensão dos
contratos caso a paralisação
do futebol se prolongue
Clubes e atletas não chegam a acordo
Jair Arantes do Nascimento, o
Zoca, irmão mais novo de Pelé,
morreu na noite de quarta-fei-
ra, aos 77 anos. Ele lutava con-
tra um câncer de próstata e esta-
va internado no hospital Casa
de Saúde de Santos, no litoral
paulista. O velório e sepulta-
mento aconteceram ontem,
sem a presença de Pelé, que não
foi por causa das restrições im-
postas em função da pandemia
do novo coronavírus
O Rei, de 79 anos, lamentou a
morte do irmão em sua página
no Twitter. “Com muita triste-
za no coração, informo que
meu amado irmão Jair Arantes
do Nascimento faleceu nesta
noite em Santos... Ele vinha tra-
tando de câncer há mais de um
ano. Que Deus o receba no céu e
console nossa família.”
Os 20 clubes do Campeonato
Brasileiro da Série B decidiram
ontem dar férias coletivas de 20
dias aos elencos a partir de 1.º
de abril e reduzir os salários dos
atletas em 25% após esse perío-
do. As medidas foram tomadas
para diminuir gastos durante a
paralisação do futebol pela pan-
demia do novo coronavírus.
A decisão ocorreu após as ne-
gociações entre o Conselho Na-
cional de Clubes (CNC) e a Fe-
deração Nacional dos Atletas
Profissionais de Futebol (Fena-
paf) terminarem sem acordo. A
maior divergência entre as duas
partes é justamente a possível
redução salarial e o tempo de
férias coletivas. Quem anun-
ciou a decisão dos clubes foi a
Chapecoense, em nota publica-
da em seu site oficial.
No entanto, o presidente da
Fenapaf, Felipe Augusto Leite,
disse ter sido surpreendido pe-
la nota, pois os clubes, a CBF e a
entidade ainda discutiam o que
fazer. “Foi uma decisão precipi-
tada de divulgar essa nota. As
férias coletivas devem ser ade-
quadas ao período que a CBF
determinar. Estamos procuran-
do discutir com uma unidade,
com 46 clubes juntos (incluin-
do os da Série A e outros). O que
adianta decidir as férias agora
se podem na semana que vem
arrumar uma vacina?”, afirmou
Felipe ao Estado.
Os participantes da Série B
anunciaram que inicialmente
os jogadores e funcionários vão
ter férias coletivas de 20 dias,
prorrogáveis por mais dez. A
possível extensão do período
de descanso será definida em
reunião em 15 de abril, quando
os dirigentes vão avaliar o cená-
rio da pandemia. Os clubes que-
rem ainda uma intertemporada
de 20 dias antes da retomada
das competições.
Na questão salarial, os times
da Série B definiram que, caso a
paralisação se estenda para de-
pois das férias coletivas, os joga-
dores terão redução de 25% nos
vencimentos. Enquanto não
houver calendário, não haverá
pagamento de direitos de ima-
gem e cada equipe deverá ava-
liar como fará essa negociação.
As diretorias se comprometem
a bancar os salários de março.
Segundo a Chapecoense, o pa-
cote de reajustes foi apresenta-
do por videoconferência na ma-
nhã de ontem ao técnico Um-
berto Louzer e aos jogadores
Alan Ruschel, Anselmo Ramon,
João Ricardo e Kadu. / C.C.
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