O Estado de São Paulo (2020-03-27)

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O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 27 DE MARÇO DE 2020 Economia B11


ELENA


LANDAU


http://www.sodresantoro.com.br
11 2464-6464
Marginal da Via Dutra, km 224 - Guarulhos/SP.

LEILÕES DIÁRIOS DE VEÍCULOS


SOMENTE


ONLINE


Em cumprimento à legislação vigente e preocupados com a saúde de


todos, os leilões estão sendo realizados somente online, sem visitação


pública, a fim de evitar aglomerações. A entrega dos veículos se dará a


partir da data estabelecida pelas autoridades ou ATRAVÉS DE DELIVERY.


Consulte-nos para disponibilidade em sua região.


Dona da KFC,


Viena e Pizza


Hut demite 30%


Tesoura. Salários dos gestores tiveram corte de 30%, que serão pagos posteriormente


Fernanda Guimarães


A IMC, dona das redes KFC, Piz-


za Hut, Viena e Frango Assado


no Brasil, demitiu 30% de seus


empregados nos últimos dias


como forma de reduzir custos e


preservar caixa. Para aqueles


que não foram dispensados, a


companhia afirmou que alguns


terão férias antecipadas e ou-


tros terão os contratos suspen-


sos. Nas últimas semanas as em-


presas de capital aberto no Bra-


sil estão enviando comunica-


dos ao mercado sobre os efeitos
da pandemia do coronavírus
em seus negócios e quais medi-
das que estão sendo adotadas. A
IMC é a primeira, até aqui, a
anunciar demissões em decor-
rência da crise.
“Dentro do pacote de demis-
são, mantivemos planos de saú-
de por pelo menos três meses e
estamos comprometidos em
priorizar a recontratação, as-
sim que a situação estiver mais
normalizada”, diz o documen-
to da empresa enviado ao mer-
cado. Apesar de reduzir drasti-
camente sua folha de pagamen-
to, a IMC disse que estuda
ações para a ajudar a comunida-
de, com a doação de alimentos
de sua rede e ainda de sua cozi-
nha central.

SERGIO MORAES / REUTERS - 9/12/2019

E


ste governo nunca expres-
sou empatia por ninguém.
À essa indiferença se jun-
tou a falta de noção. Não chega a
ser uma surpresa: o obscurantis-
mo sempre foi a sua marca. Bolso-
naro tratou tudo com desdém:
“Histeria, se eu estiver infectado o
problema é meu, vamos manter
cultos e missas, sobrevivi a uma
facada, não é uma gripezinha que
vai me pegar”. Afinal, ele tem his-
tórico de atleta. A lista de despau-
térios é imensa. É todo dia um.
Seu pronunciamento foi o ápice
dessa marcha da insensatez. Ele
tem um padrão que parece erráti-
co, mas é bem pensado. Faz e des-
faz, e vai testando os limites. Co-
meçou a semana dando sinais de
que tinha entendido a gravidade
da crise. Também se reuniu com
governadores, a quem havia cha-
mado de lunáticos. Tudo parecia
caminhar para um mínimo de nor-
malidade.

Seus cinco minutos em rede nacio-
nal mostraram que não passava de
uma farsa. O desatinado se revelou
em toda sua mesquinharia, fez pia-
das com Drauzio Varella, atacou a
mídia, jogou por terra todos os esfor-
ços que a equipe do Ministério da
Saúde vinha fazendo para manter o
distanciamento social e provocar o
achatamento da curva da epidemia.
E ainda criou uma crise institucio-
nal com os governadores. Ele acha
que está num jogo ganha-ganha; se o
isolamento for mantido por eles, e
funcionar, vai manter a tese da gripe-
zinha.
Nada é feito sem pensar. Empresá-
rios ligados a ele coordenaram uma
campanha nas redes sociais defen-
dendo a estratégia de isolamento ver-
tical. Era um teste. Gostou da reper-
cussão e partiu para o confronto com
governadores e infectologistas. Nos-
so presidente já era considerado o
pior líder mundial na condução do
combate ao vírus. Agora, virou hors-

concours.
Muitos votaram nele esperando
que o “capitão”, que nem sequer car-
reira militar conseguiu seguir, fosse
comandar o País na “guerra contra o
comunismo”. Se mostrou desprepa-
rado para liderar com qualquer coi-
sa, a não ser a própria família, com-
posta de outros incompetentes. A in-
capacidade intelectual para condu-
zir o País era esperada, a ela se jun-
tou a psicológica e, mesmo, ética.
Bolsonaro embrulhou seu discurso
contra o isolamento com a necessida-

de de preservar empregos. Populis-
mo puro. Ele não está preocupado
com a vida de seus cidadãos, nem
com o sustento de famílias vulnerá-
veis ou com os milhões de brasileiros
que veem sua renda ser interrompi-
da da noite para o dia. O foco dele é
2022, bem revelado no bate-boca
com Doria.
O Tesouro e o Banco Central atua-
ram para garantir recursos para saú-
de e injetar liquidez na economia.
Mas não é suficiente. As iniciativas
têm se concentrado no mercado de
trabalho privado e formal, enquanto
nada tem sido proposto para o setor

público, onde estão os 20% mais ri-
cos da população, e com estabilidade
de emprego. O governo segue a rebo-
que das iniciativas do Legislativo, su-
gestões da sociedade civil e especia-
listas fora do governo. Mas sem a ur-
gência necessária. Nem mesmo os
míseros R$ 200 foram viabilizados.
A epidemia revelou os males de um
país terrivelmente desigual. Como la-
var as mãos onde falta saneamento e
sabão é item de luxo? Como fazer
distanciamento social para famílias
que dividem um único cômodo? A
solidariedade vem suprindo a ausên-
cia de poder público nas comunida-
des. A falta de proteção social a esse
enorme contingente da população
nas medidas anunciadas escancara a
desumanidade do governo.
Na ausência de uma rede de prote-
ção social, é natural que bata um de-
sespero e as pessoas prefiram traba-
lhar a ficar em casa. A resposta à an-
gústia não é colocar vidas em risco.
Só que na economia, o piloto sumiu.
A calibragem entre medidas econô-
micas e o controle da epidemia preci-
sam de um coordenador com credibi-
lidade. Guedes continua obcecado
com as reformas, quando estamos
em meio a uma guerra. Elas sempre
foram necessárias, mas o governo jo-
gou um ano fora.
Bolsonaro só está preocupado
com os efeitos da recessão sobre a

avaliação de seu governo. Em mais
um de seus sincericídios, afirmou
que se a economia desanda, o go-
verno perde apoio, e lá se vai a cam-
panha de reeleição para o brejo.
Se algo de positivo pode sair des-
sa crise é o fim da carreira política
desse protótipo de ditador. Ele
busca o confronto com o Legislati-
vo, parecendo querer testar sua po-
pularidade com uma tentativa de
impeachment frustrada, que dê a
ele o que sempre quis: governar
sozinho, sem a chateação dos ou-
tros Poderes e da imprensa.
Que em 2022, não seja a polariza-
ção a comandar os votos. E que a
competência e experiência, que fo-
ram ignorados no primeiro turno
de 2018, sejam fatores determinan-
tes na escolha de um líder capaz
de conduzir o País numa crise.
O negacionismo científico do
presidente, especialmente na edu-
cação e no meio ambiente, já esta-
va comprometendo gerações futu-
ras, mas agora é mais grave; está
colocando em risco vidas, milha-
res delas. O perigo é real e imedia-
to. Bolsonaro quer colocar a conta
da recessão nos governadores e
prefeitos. Com quem ficará a con-
ta dos mortos?

]
ECONOMISTA E ADVOGADA

“Podemos esperar novas
revisões daqui para a frente.
E vai ser ainda pior. A
empresa está se preparando
para um cenário ruim e
precisa ter dinheiro em
caixa para pagar a conta.”
João Zuñeda
DIRETOR DA CONSULTORIA MAXQUIM

lCenário ruim


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Perigo real e imediato


E-MAIL: [email protected]
ELENA LANDAU ESCREVE QUINZENALMENTE

Denise Luna/ RIO


Wagner Gomes/ SÃO PAULO


A Petrobrás anunciou ontem


uma série de medidas para


preservar seu caixa, em meio


a um cenário de incertezas


trazidas pela crise de deman-


da e do preço do petróleo pro-


vocada pela pandemia do no-


vo coronavírus (covid-19). A


estatal cortou a produção, re-


duziu investimentos deste


ano, postergou pagamento


de dividendos e de parte da re-


muneração de gestores,


adiou o recolhimento do


FGTS dos funcionários e pa-


gamento de férias. O pacote


de ajustes incluiu ainda uma


diminuição da produção de


suas refinarias e a hibernação


de plataformas onde o custo


é mais elevado, entre outras


ações.


A decisão foi bem recebida pe-


lo mercado financeiro, que viu


na atuação da companhia a ga-


rantia da preservação da sua


saúde financeira frente ao que o


presidente da estatal, Roberto


Castello Branco, chamou de “a


maior crise sofrida pela indús-


tria de petróleo nos últimos 100


anos”. Para garantir o caixa, foi


anunciada mais uma linha de


crédito, de R$ 3,5 bilhões, que


segue outra anunciada a menos


de uma semana no valor de US$


8 bilhões. O corte nos investi-


mentos em 2020, de US$ 12 bi-


lhões para US$ 8,5 bilhões, tam-
bém traz alívio para a compa-
nhia, que tem uma das mais al-
tas dívidas entre as petroleiras
globais. A empresa não mexeu,
porém, no seu plano de negó-
cios de US$ 76 bilhões até 2024,
nem na previsão de venda de ati-
vos entre US$ 20 e US$ 30 bi-
lhões no mesmo período.
“Podemos esperar novas revi-
sões daqui para a frente. E vai
ser ainda pior. A empresa está
se preparando para um cenário
ruim e precisa ter dinheiro em
caixa para pagar a conta. A Pe-
trobrás estava começando a re-
tomar os investimentos. Nem
todo o anúncio feito hoje pela
companhia é uma novidade.
Mas a Petrobrás disse o que o
mercado esperava, ou seja, que
vai passar por tempos ruins”,
afirmou João Zuñeda, diretor
da consultoria MaxQuim.
Apenas na área de recursos
humanos as prorrogações e can-
celamentos de pagamentos so-
mam R$ 2,4 bilhões. A empresa
se valeu da recente Medida Pro-
visória 927, que permite poster-
gar o recolhimento do FGTS e
do pagamento de férias. Os salá-
rios dos gestores – incluindo
presidente, diretores e geren-
tes, tiveram corte de 30%, que
serão pagos posteriormente.
Mas foram cancelados todos os
processos de avanço de nível e
promoções para os emprega-
dos em 2020.

“Há um problema grande de
demanda com a pandemia e
também com a questão geopo-
lítica, por conta da briga entre
Arábia Saudita e Rússia sobre a
produção. As empresas estão
defendendo o seu caixa. Isso va-
le para grandes companhias co-
mo a Petrobrás e também para
o dono da padaria. A Petrobrás
está mudando a sua agenda in-
terna e fazendo a lição de casa

ao postergar o pagamento de di-
videndos, a remuneração dos
seus executivos, além da dimi-
nuição da produção e dos inves-
timentos”, afirma o estrategis-
ta Renan Sujii, da Harrison In-
vestimentos.

Queda. O preço do petróleo te-
ve uma queda de mais de 50%
este ano, motivada pela queda
da demanda pela commodity e

agravada por um conflito entre
a Rússia e a Arábia Saudita sobre
os cortes de volume de produ-
ção. Para se ajustar ao mercado,
a Petrobrás cortou 100 mil bar-
ris da sua produção diária de 2,7
milhões de barris em fevereiro.
A empresa vai colocar em hi-
bernação plataformas que te-
nham custo de extração por bar-
ril mais elevado, o que deixa in-
tacta a produção do pré-sal.

Estatal também postergou pagamento de dividendos, adiou o


recolhimento do FGTS dos funcionários e pagamento de férias


Uma depressão ainda maior? Pág. B12}


Se algo positivo pode sair


dessa crise é o fim da carreira


desse protótipo de ditador


Petrobrás corta


produção e salários


para reagir à crise


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