O Estado de São Paulo (2020-03-27)

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B14 Economia SEXTA-FEIRA, 27 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


PEDRO


DORIA


ENTREVISTA


Q


uando este nosso pesadelo
coletivo passar e pudermos
novamente ganhar as ruas,
o mundo será outro. Nas últimas
duas décadas, a ciência foi barbara-
mente questionada. Mas é a ciência
que vai resolver o problema do novo
coronavírus. Estamos há anos falan-
do sobre ensino a distância, medici-
na a distância, trabalho por home
office. E, no entanto, o processo de
evolução é lento. Se passarmos mes-
mo alguns meses em quarentena, e
é isto que tem cara de que vai aconte-
cer, nossa relação com tecnologia e
a natureza da economia se transfor-

mará de forma irreversível.
Alguns dos motivos são pragmáti-
cos. Embora o presidente Jair Bolsona-
ro sugira por aí que, sem quarentena, a
economia brasileira aguentaria o tran-
co, isto não é verdade. Porque a econo-
mia do mundo todo irá numa direção
só. O Senado americano não acaba de
aprovar um pacote de estímulo econô-
mico no valor de 10% do PIB do país à
toa. A nação mais conservadora do
mundo no ponto de vista fiscal vai inje-
tar US$ 2 trilhões na economia porque
o tombo vai ser pesado. Ali do outro
lado, quando tudo acabar, inúmeras
empresas terão um problema de liqui-

dez. Aí vão olhar para a quantidade de
imóveis que têm. Ou para o preço do
aluguel. Vão avaliar sua experiência
com trabalho remoto. E não serão pou-
cas que dirão: aprendemos algo. Este
gasto em dinheiro é, ao menos, parcial-
mente desnecessário.
É uma mudança cultural deste vulto
que estamos para encarar. Não é ape-
nas na vida profissional, é também na
pessoal. Quantos de nós não deixa-
mos por vezes de sair numa sexta à
noite ou sábado com amigos porque o
dinheiro está curto, porque temos que

ficar com os filhos, por qualquer outro
motivo? E quantos de nós não esta-
mos descobrindo ferramentas como
Zoom ou Google Hangouts, nos ser-
vindo em casa de uma taça de vinho ou
de uma long neck e batendo papo com

quem está à distância como se fosse
uma mesa de bar. Na primeira é meio
esquisito, mas aí vamos acostumando
e de repente é rotina. Este não é um
hábito que será perdido.
Em paralelo, os serviços de entrega
entraram em colapso. De supermerca-
dos e farmácias tradicionais às star-
tups de aplicativos. Ninguém tinha es-
trutura para aguentar uma realidade
que se tornou quase toda online. Mas,
como nos outros casos, este é um jogo
de tempo. Quanto mais tempo ficar-
mos nesta situação, mais tempo os ne-
gócios vão se adaptar e mais nós nos
acostumaremos. Em três meses, a ma-
neira como se organizam vai mudar.
Lojas físicas não vão desaparecer, mas
haverá um boom dos serviços de entre-
ga. Cada vez mais vamos preferir a co-
modidade de pedir online e deixar que
os mantimentos venham a nós. Sim, já
o fazíamos. É só que faremos mais.
Educação a distância não é novida-
de. Pesque qualquer adolescente que
esteja próximo do Enem. Não há um

que não assista aulas por YouTube
ou não assine um serviço tipo Des-
complica. Hoje, são supletivos.
Complementam a aula, ajudam a
reexplicar aquela fórmula que ficou
mal compreendida na escola. Mas
cursos universitários online não são
absurdos. Neste exato momento,
Stanford e Harvard, Yale e Prince-
ton, as melhores dentre as melhores
universidades americanas, estão se
direcionando rapidamente para a in-
ternet de forma a manter suas aulas.
Não é absurda a ideia de se formar
numa das melhores universidades
do mundo sem sair do interior do
Piauí. É preciso entrar, claro. Mas
sai muito mais barato.
Faz uma semana hoje que o histo-
riador israelense Yuval Noah Harari
publicou, no jornal britânico Finan-
cial Times, um longo artigo que mer-
gulha nesta transformação cultural.
Ela já estava em curso, de forma len-
ta. A pandemia pode acelerar a trans-
formação digital do planeta.

Negócios

Carrefour vai


contratar 5 mil


funcionários


Mônica Scaramuzzo


Um dos maiores empresários


do País, Rubens Ometto Silvei-


ra Mello, fundador do grupo


Cosan, diz que há muitas incer-


tezas e ninguém tem uma fór-


mula para sair da crise provo-


cada pelo coronavírus. “Qual-


quer coisa que se fale, é chu-


te.” Dono de ferrovias, postos


de combustíveis e distribuido-


ra de gás, o grupo pode ter pro-


jetos revisados, afirma Omet-


to, com exceção da Rumo, fer-


rovia importante para manter


ativo o agronegócio.


Segundo ele, é preciso comba-


ter a doença e manter os em-


pregos. A seguir, os principais


trechos da entrevista.


lComo o sr. está vendo o impacto


do coronavírus e o ruído entre par-
te dos governadores e Brasília?
É muito difícil falar. Ninguém
sabe direito. Qualquer coisa
que você fale, é chute. Você
tem uma vontade grande de to-
dos para que a economia volte
e as engrenagens comecem ro-
dar. E, do outro lado, um pro-
grama médico de combate ao
vírus que pode provocar estra-
gos profundos. Dá para enten-
der essas duas posições por-
que o desastre na economia se-
rá muito grande.

lMas não falta um líder para
conduzir este processo?
Não vou entrar nisso. Existem
pontos de vistas diferentes. Os
dois querem o bem do País, ca-
da um a seu jeito. Difícil falar
quem está certo ou errado.

lO governador João Doria reafir-
mou o seu apoio após a Cosan
informar que vai manter os em-
pregos.
Estamos engajados nesta ideia
de não haver dispensa. A crise
vai passar.

lQual deveria ser a estratégia
para combater o coronavírus no
Brasil?
Difícil falar se não tem todos
os números. Acho que só inje-
tar dinheiro na economia não
resolve. Porque se o pessoal
não vai trabalhar e fica em ca-
sa, a economia não roda. É
uma equação difícil. O pessoal
está indo por tentativas para
saber o que vai melhor. Um
plano Marshall ajudaria as pes-
soas a não ficar sem empregos.
Mas a equação é difícil. Não dá
para ficar nervoso. Tem de ter
serenidade.

lComo empresário, o que deve-
ria ser feito?
Essa pergunta vale um bilhão
de dólares. Não tem todos os
dados. Tem de combater a
doença e preservar o emprego.
O governo não vai aguentar a
subsidiar isso o tempo todo.

lO sr. defende um meio-termo?
Tem de ir administrando. Pre-
cisa dar um tempo ver para on-
de vai. Há negócios muito afe-

tados: bares fechados, shop-
pings; demanda por combustí-
vel caiu 50%. Como vai ser is-
to? Como fazer isso? Não sei.
Se ficar muito tempo, onde is-
so vai parar? Vamos ver como
ficam as coisas até o dia 7 de
abril.

lComo tem sido suas conversas
com as principais lideranças em-
presariais?
Ninguém tem certeza. Quem
diz ter certeza, é um jogador.
O que preocupa é que as engre-
nagens da economia não pa-
rem demais. Senão, se resolve
de um lado e mata do outro.
Planos e estratégias têm de ser
revistas. Estava tudo tão bem,

organizadinho.


lO sr. vê impactos na econo-
mia?
Sim. A tendência dos empresá-
rios é trabalhar para que se re-
solva logo. A verdade é que
não tem o que falar. É chute.
Temos de esperar um pouco.

lOs planos de investimentos do
grupo Cosan para este ano serão
revistos?
Vamos rever os planos de in-
vestimentos. Temos de ver o
que vai acontecer. Os projetos
da Rumo são irreversíveis para
manter o agronegócio. Para ou-
tros projetos, temos de ver o
que vai acontecer.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Márcia De Chiara


Diante do aumento da deman-
da por itens de alimentação, ar-
tigos de higiene e limpeza, em
função da pandemia do novo co-
ronavírus, o Carrefour vai con-
tratar 5 mil trabalhadores em to-
do o País – do total, 1,5 mil deve-
rão ser efetivados. A intenção,
segundo a companhia, é refor-
çar as equipes de atendimento
ao consumidor.
A rede francesa segue o movi-
mento de outras varejistas mun-
do afora, como Walmart e Ama-
zon nos Estados Unidos que,
juntas, prometem contratar 250
mil funcionários temporários.
Entre as vagas oferecidas pe-
lo Carrefour, estão as de opera-
dor de loja, auxiliar de perecí-
veis, recepcionista de caixa, pa-
deiro, peixeiro, açougueiro, ope-
rador de centro de distribuição
e vendedor de eletrodomésti-
cos. A companhia informa que
há vagas em todas as cidades do
País onde a empresa está.
De acordo com o vice-presi-
dente de Recursos Humanos do
Grupo Carrefour no Brasil,
João Senise, todo o processo de
contratação será digital, exata-
mente para cumprir os protoco-
los para evitar a contaminação
do novo coronavírus. “Estamos
vivendo um momento atípico
em todo mundo e queremos
contribuir para que todos conti-
nuem tendo oportunidades de
trabalho”, diz.
Estar cursando o segundo
grau ou ter concluído o curso
está entre os quesitos básicos
para se candidatar às vagas.

Fundador da Cosan diz


que companhia vai manter


investimentos na ferrovia


Rumo, mas poderá rever


outros projetos


COMUNICADOS


COMUNICADO
Sra. Enilde Santos Oliveira - CTPS
0078936 Série 00351-SP Esgo-
tados nossos recursos de localiza-
ção e tendo em vista encontrar-se
em local não sabido, convocamos
a mesma para comparecer em
nosso escritório da Empresa Es-
trelar Comercial Eireli situada à R
Maestro Cardim, 407- Sl 502 - Bela
Vista-SP a fim de retornar ao em-
prego ou justificar as faltas desde
22/02/2020, dentro do prazo de
48h a partir desta publicação, sob
pena de ficar rescindido, automa-
ticamente, o contrato de trabalho,
nos termos do art. 482 da CLT.


DECLARAÇÃO À PRAÇA
Maison Des Caves Ltda, CNPJ 04.
439.129/0001-51, Av. das Na-
ções Unidas, 12.551 - Loja 239,
São Paulo, declara o extravio de
Uma Impressora Fiscal da marca
BEMATECH, MP-2100 TH FI e no. de
Série BE 050869200100016986



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DATA: 31.03.20
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FELIPE RAU/ESTADÃO-20/12/2017

Ometto: ‘Estamos engajados em não haver dispensas’


‘Ninguém tem


certeza. Quem diz


ter, é um jogador’


Rubens Ometto Silveira Mello, fundador e presidente do Conselho de administração da Cosan


E-MAIL:[email protected]
TWITTER: @PEDRODORIA
PEDRO DORIA ESCREVE ÀS SEXTAS-FEIRAS

A digitalização acelerou


A transformação cultural


estava lentamente em curso.


A pandemia pode acelerá-la.


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