O Estado de São Paulo (2020-03-27)

(Antfer) #1

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H2 Especial SEXTA-FEIRA, 27 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


SONIA RACY


DIRETO DA FONTE


HIDROXICLOROQUINA:


“DESESPERO LEVA A


AÇÕES IMPULSIVAS”


Comovido pela pandemia,
Supla compôs canção inspi-
rada no coronavírus – que
será lançada dia 3 de abril
pela Onerpm. “Também es-
tou pensando em fazer uma
live no Instagram, voz e vio-
lão, para apresentar a músi-
ca”, diz ele, que se pôs a dis-
posição das equipes de saú-
de do Brasil para ajudar co-
mo enfermeiro. “Quero di-
zer que sou voluntário, ape-
sar de não ter experiência,
não sou burro, podem me
explicar, aprendo o básico e
me coloco a disposição.”

Confira abaixo desabafo do
músico sobre o momento.
“A música se chama Embai-
xo da Unha. Quando escutei
a palavra coronavírus pela
primeira vez – antes dessa
loucura que se tornou –
achei uma palavra bem bi-

zarra, como várias outras que
estão pipocando por ai. Acho
esse vírus muito sério e não
tem brincadeira com isso. In-
clusive gravei uma mensagem
para as equipes de saúde – en-
fermeiros e médicos – que es-
tão na linha de frente, se arris-
cando por nós. Quero dizer
que sou voluntário, apesar de
não ter experiência como en-
fermeiro, estou ai para ajudar,
não sou burro, podem me ex-
plicar, aprendo o básico e me
coloco à disposição. Pode pare-
cer ingenuidade da minha par-
te, mas acredito que todos te-
mos que nos unir para enfren-
tar este invisível mortal. Nes-
se momento é importante pas-
sar positividade para as pes-
soas. A minha canção é como
se fosse uma crítica, cada pes-
soa vai interpretar da sua for-
ma. Não quero ficar me expli-
cando. É goste ou não goste.”

PESQUISA


SUPLA SE PÕE A


DISPOSIÇÃO PARA


AJUDAR MÉDICOS


E ENFERMEIROS


CORONAVÍRUS


Bolsonaro levou, ontem,
uma caixa de hidroxicloro-
quina (HCQ) para mostrar
na reunião por vídeo confe-
rência organizada pelo
G20, centrada na pandemia
do coronavírus. Também
ontem, o presidente da Re-
pública, por meio das redes
sociais, voltou a dizer que o
tratamento com fármaco
tem mostrado eficácia e po-
de trazer tranquilidade à
população.

O primeiro estudo clínico
do Brasil testando esses re-
médios só sai em dois ou
três meses. Indagada sobre
o assunto, Natália Paster-
nak, presidente do Institu-
to Questão Ciência, e pes-
quisadora do ICB da USP,

conversou com a coluna.


l Como cientistas escolhem re-
médios para testar?
Buscamos substâncias que de-
monstrem a propriedade dese-
jada – no caso da covid-19, a
capacidade de matar vírus –
em culturas de células. Numa
pandemia, é interessante usar
um medicamento existente,
mesmo que para outra doen-
ça, pois isso poupa tempo. Já
sabemos em que condições o
remédio é seguro para uso em
humanos. Então, só falta pro-
var que serve para a nova
doença também.

l Quais os riscos em divulgar
que um remédio (que já está nas
prateleiras) é promissor na cura
da covid-19?

Se o remédio já existe, e a co-
municação for mal feita, as
pessoas podem achar que ele
já foi testado e aprovado para
a covid-19, e correr para as far-
mácias, acabando com todos
os estoques. Mas “promissor”
não é o mesmo que “altamen-
te provável”. Nada foi testado
para valer. Nem tudo que ma-
ta o vírus no laboratório age
do mesmo modo dentro do
corpo humano.

l Mas vai faltar esse medicamen-
to para quem precisa?
Desespero leva a ações impulsi-
vas. Foi isso que aconteceu
com a hidroxicloroquina. Tra-
ta-se de um remédio para malá-
ria e doenças autoimunes, co-
mo lúpus e artrite reumatoide.
Com a corrida para comprar o
fármaco, pessoas que de fato
precisam da medicação fica-
ram sem, e pessoas perfeita-
mente saudáveis estão estocan-
do uma droga perigosa em ca-
sa. A HQC traz um risco bem
real de intoxicação para quem
a tomar sem necessidade e a
devida orientação médica.

l De que maneira medicamentos
são testados?
Primeiro são testados em célu-
las, seguidos por animais, e só
depois em humanos. E em hu-
manos, primeiro testa-se para
segurança e toxicidade, só de-
pois para eficácia. O mais im-
portante é ter em mente que
todo bom teste de medicamen-
tos envolve comparações en-
tre grupos. Não adianta só
apontar que quem tomou, me-
lhorou. É preciso ver se quem
não tomou, ou tomou outra
coisa, também não melhorou,

ou não melhorou ainda
mais. E essas comparações
têm de ser justas. Isto é, os
grupos têm de ser similares:
não adianta ter um só de
jovens e um só de idosos,
ou tratar um grupo com
mais cuidado e atenção do
que o outro.

l O estudo francês, que está
sendo usado como base para
justificar o uso da HCQ, seguiu
essa lógica?
Não. O estudo francês tem
erros gravíssimos. Não se
tomou nenhum cuidado pa-
ra que a comparação entre
os diferentes grupos fosse
justa e válida. Por exemplo,
seis pacientes que estavam
recebendo a medicação fo-
ram excluídos do estudo,
quatro porque pioraram,
um porque morreu e outro,
desistiu. Eles não aparecem
no resultado final, que ale-
ga 100% de cura. Ora, é
fácil ter 100% de cura se
você ignora os que piora-
ram e morreram!

l O presidente anunciou que
vai colocar os laboratórios
das Forças Armadas para pro-
duzir HCQ. Qual sua opinião
sobre isso?
Produzir HCQ é um desper-
dício de recursos que pode-
riam ser melhor emprega-
dos com outras coisas como
testes diagnósticos, equipa-
mentos, hospitais. Há pelo
menos 20 drogas candidatas
em teste, no mundo. Não
existe motivo para produzir
a HCQ – e não uma das ou-
tras 19 drogas – para produ-
ção imediata.

Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]
Blog: estadão.com.br/diretodafonte Facebook: facebook.com/SoniaRacyEstadao Instagram: @colunadiretodafonte Sofia Patsch [email protected]

Combate


Mario Covas Neto vai doar
metade do salário para o com-
bate ao coronavírus enquan-
to durarem as sessões vir-
tuais da câmara. “Além dis-
so, de minha parte, uma par-
cela das minhas emendas es-
tão sendo destinadas à Secre-
taria Municipal de Saúde pa-
ra o combate à epidemia”,
diz o vereador.

Procurando saber


Ronaldo Caiado foi o termo
que mais cresceu em buscas
no Google Brasil. O interesse
pelo governador saltou
1.050% nas últimas 24 horas
após Caiado anunciar rompi-
mento com Jair Bolsonaro.

Reconhecido


O secretário municipal de
Saúde, Edson Aparecido,
tem recebido dezenas de fo-
tos de profissionais da saúde
em seu celular. "Finalmente
vão reconhecer o papel do
SUS", disse ele à coluna.

Corrente do bem


Rodrigo Oliveira, do Moco-
tó, está distribuindo quenti-
nhas para famílias carentes. A
ação, que começou discreta
em conjunto com a associa-
ção do bairro Vila Medeiros,
cresceu e agora o chef está re-
cebendo doações para aumen-
tar a produção de marmitas.

Só aumenta


Mais de 50 municípios – dos
645 do Estado de São Paulo –
entraram com pedido de ho-
mologação de situação de ca-
lamidade pública, por conta
da covid-19, na Assembleia
paulista. Na prática, a medi-
da desburocratiza proces-
sos, como facilitar compras
emergenciais. “O Estado e a
capital já enviaram seus de-
cretos e serão aprovados nes-
sa ordem”, avisa o presiden-
te da Casa, Cauê Macris.

O tucano, aliás, não fará teste
da covid-19. Mesmo após in-
tenso contato que vinha man-
tendo com David Uip, que
testou positivo, além de João
Doria, Bruno Covas...

Antes tarde...


Dos nove governadores do
Nordeste, só Camilo Santa-
na, do Ceará, não tinha Twit-
ter. O petista estreou sua con-
ta na videoconferência com
colegas nordestinos. Em pou-
co mais de 24h, obteve quase
20 mil seguidores.

Repondo


A Natura &Co começou a en-
vasar, em SP, 250 mil litros de
álcool 70% doados pelo Gru-
po São Martinho à Secretaria
de Saúde do Estado. No Rio, a
Ambev também está produ-
zindo álcool em gel em uma
de suas cervejarias.

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DANIELA MARTINS

ARQUIVO PESSOAL

DENISE ANDRADE/ESTADÃO

Guedes no Rio


Paulo Guedes é coerente.
Faz o que defende. O minis-
tro da Economia foi clicado,
ontem pela manhã– confor-
me adiantou o blog da co-
luna– andando no calçadão
do Leblon, no Rio. Estava de-
vidamente afastado, como re-
comenda o protocolo do co-
rona vírus, a uma distância
de dois metros da mulher
Maria Cristina. Bolsonaro
tem pedido, desde a última

terça-feira, o fim do “confina-
mento em massa”, defenden-
do confinamento verticaliza-
do. O discurso do presidente
da Republica, em cadeia nacio-
nal, teve apoio, no bastidores,
da equipe econômica coman-
dada por Guedes. O ministro
teria sido um dos integrantes
do governo a alertar o presi-
dente sobre o risco da paralisa-
ção brusca. Os integrantes do
ministério, hoje, trabalham
com a possibilidade da reto-
mada gradual da economia a
partir de 7 abril.

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