O Estado de São Paulo (2020-03-27)

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A4 SEXTA-FEIRA, 27 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política

»SINAIS
PARTICULARES.
Paulo Skaf ,
presidente da
Fiesp

»Alerta. Acionado pela Co-
luna, o Bandeirantes infor-
mou ter tomado conheci-
mento dos vídeos. A área
de Logística e Transporte
do Estado avalia as reivindi-
cações. No Ministério da
Infraestrutura, a situação é
vista, por enquanto, como
pontual. A pasta está moni-
torando o movimento.

»Joio e trigo. Em outros
Estados, caminhoneiros
também reclamam das difi-
culdades para alimentação.
Segundo apurou a Coluna,
ainda é difícil paras autori-
dades diferenciar “reivindi-
cações reais” de “ataques
políticos coordenados”.

»Vai... A versão inicial da
“PEC de Guerra”, trazida
pelo blog da Coluna e já nas
mãos de líderes do Congres-
so, é considerada por políti-
cos e analistas cartada arris-
cada para, uma vez aprova-
da com a atual redação, der-
rubar o argumento do presi-
dente de estar “impedido”
de governar pelos Poderes.

»...que é sua. Em linhas
gerais, a PEC libera o Execu-
tivo de muitas amarras e
confere poderes a Bolsona-
ro de manejar verbas sem
qualquer interferência do
Legislativo. No comitê ges-
tor a ser criado pela PEC,
os representantes do Con-
gresso não têm direito a vo-
to, somente ministros, su-
bordinados ao presidente.

»Tudo... Henrique Mandet-
ta teve reunião tripartite
com representantes da Saú-
de de Estados e municípios.
Voltou a pedir união e mui-
ta calma ao tratar de isola-
mento. Entre outros temas,
foi discutido se seria mes-
mo necessário o confina-
mento em regiões com pou-
cos casos e baixa circulação
de pessoas, como a Norte.

»...igual. Mandetta usou
como exemplo a Avenida
Presidente Dutra (Rio): se
ela for fechada, o Brasil pa-
ra. Mas, até agora, não hou-
ve nenhuma nova resolu-
ção: fica tudo como está.

»Vamos juntos. O senador
Wellington Fagundes (PL)
apresentou PEC para unifi-
car as eleições a partir de
2022: prefeitos e vereadores
eleitos em 2016 passariam a
ter um mandato de seis
anos. Como a Coluna mos-
trou, o debate sobre adia-
mento do pleito deste ano
têm crescido no Congresso.

»Mick Jagger. Aliados de
primeira hora (ou seja, de
antes da eleição) de Jair
Bolsonaro em SP não perde-
ram a piada: a fase ruim do
presidente começou após a
recente aproximação dele
com Paulo Skaf. Foi assim
com Lula, Dilma, Temer e
Márcio França, dizem.

»Ideias. A Fundação Per-
seu Abramo, do PT, lança
um conjunto de medidas
para enfrentar a crise de
saúde e a econômica gerada
pelo coronavírus.

»Ideias 2. Dentre elas, um
programa de resgate para
empresas, que propõe a sus-
pensão da cobrança de im-
postos, das contas de água
e luz, além da participação
do governo no pagamento
dos salários de funcionários
para evitar demissões.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

C


omeçaram a circular nas redes vídeos com líderes
dos caminhoneiros, alguns famosos pela greve de
2018, criticando as restrições impostas em solo pau-
lista à abertura do comércio. Em um deles, que mostra um
grupo supostamente improvisando refeições em frente a
um restaurante fechado, a ameaça é direta: não mandar
caminhões para as ruas e as estradas (e abastecer a mesa
da população) enquanto os motoristas passam fome. Em
outro, a categoria “denuncia” privações no Porto de San-
tos. Todos criticam João Doria e louvam Jair Bolsonaro.

Caminhoneiros lançam


ameaça de paralisação


ALBERTO BOMBIG
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Luci Ribeiro / BRASÍLIA


Depois de criticar medidas
de isolamento social adota-
das por governadores, o presi-
dente Jair Bolsonaro assinou
ontem um decreto permitin-
do que igrejas e casas lotéri-
cas fiquem abertas durante a
situação de emergência em
decorrência do coronavírus.
A decisão, que inclui essas
duas atividades na lista de ser-
viços essenciais, não depen-
de de aval do Congresso e
afronta restrições impostas
por Estados e municípios pa-
ra reduzir a circulação e evi-
tar a propagação da doença.
A medida atende, ainda, a inte-
resses já manifestados por líde-
res de igrejas evangélicas, como
os pastores Silas Malafaia, da As-
sembleia de Deus Vitória em
Cristo, e Edir Macedo, da Igreja
Universal do Reino de Deus, alia-
dos do presidente. Mesmo as-
sim, lideranças religiosas afirma-
ram ao Estado que, apesar da
permissão, não pretendem usar
o decreto para fazer cultos ou
missas em cidades onde a aglo-
meração de pessoas foi proibida,
como São Paulo e Rio de Janeiro.
Nesses locais, templos e igrejas
ficarão abertos apenas para aten-
dimentos individuais.
A autorização para as lotéri-
cas funcionarem havia sido
anunciada na véspera por Bolso-
naro em suas redes sociais. Ao
ouvir o apelo de um empresário
para que convencesse o gover-
nador do Distrito Federal, Iba-
neis Rocha (MDB), a suspender
a ordem de fechar o comércio, o
presidente disse que não adian-
taria falar com ele. “A intenção
deles (governadores) é outra.
Por decreto eu resolvi as lotéri-
cas”, afirmou. "Três mil lotéri-
cas fechadas por prefeitos e go-
vernadores. Consegui resolver
numa canetada”, completou.
Segundo especialistas, a “ca-
netada” do presidente pode,
sim, prevalecer sobre decretos
estaduais e municipais. Uma
medida provisória publicada na
semana passada proibiu restri-
ções que possam afetar o funcio-
namento de serviços e ativida-
des consideradas essenciais. As-
sim, ao incluir igrejas e lotéricas
na lista, Bolsonaro evita que es-
tes estabelecimentos sejam
obrigados a fechar as portas.
Bolsonaro havia criticado o fe-
chamento das igrejas em entre-
vista ao SBT na sexta-feira pas-
sada. “Lógico que o pastor vai
saber conduzir o seu culto, ele
vai ter consciência, pastor ou pa-
dre, se a igreja está muito cheia,
falar alguma coisa. Não pode o
prefeito e o governador achar
que não vai mais ter culto, não

vai ter mais missa”, afirmou.
Malafaia chegou a convocar
os fiéis da Assembleia de Deus a
fazerem uma corrente de fé con-
tra a covid-19. Na segunda-fei-
ra, porém, a Justiça do Rio proi-
biu os cultos da denominação.
Segundo o pastor, mesmo após
o decreto de Bolsonaro, sua igre-
ja ficará fechada (mais informa-
ções abaixo). A Igreja Universal

também informou que, nas cida-
des onde a realização de cultos
foi proibida, os templos ficarão
abertos apenas para orações in-
dividuais e auxílio espiritual.
A Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil orientou as
igrejas a ficarem abertas apenas
para orações individuais e trans-
missões online, evitando a reali-
zação de missas. O rabino Mi-

chel Schlesinger, da Congrega-
ção Israelita Paulista, afirmou
que as sinagogas continuarão
seguindo as recomendações
dos governos estadual e munici-
pal e manterão o isolamento. Se-
gundo a Federação Espírita Bra-
sileira, as atividades migraram
para as plataformas virtuais./
COLABORARAM RENATO
VASCONCELOS e LUIZ VASSALLO

Silas Malafaia, pastor e líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo


Paulo Chagas


lQual sua avaliação sobre o de-
creto de Bolsonaro?
O decreto não está mandando
abrir Igreja. Ele reconhece a
atividade religiosa como essen-
cial. Simples assim. A religião,
em um país onde 98% das pes-
soas são religiosas, é terapêuti-
ca. Você não tem ideia da
quantidade de gente que che-
ga (na igreja) apavorada, com

medo, angustiada, pensando
em suicídio porque o dinheiro
vai acabar daqui três dias e
não tem dinheiro para com-
prar comida. O que estava
acontecendo era uma festa de
prefeito decretando fechar to-
talmente a Igreja.

lSua igreja vai fazer cultos?
Não. Não está tendo culto,

mas minha igreja está de por-
tas abertas para dar atendi-
mento às pessoas. Estamos
diante de uma escolha de So-
fia. O que mata mais? Corona-
vírus ou caos social? Vai ma-
tar gente de coronavírus? Vai.
Mas o caos social mata mais.

lO debate sobre a doença está
contaminado pela eleição?
Não tenho nenhuma dúvida.
Os governadores do Rio e de
São Paulo todo dia convocam
uma coletiva. Por que não dão
las informações num dia só?
Apoio 100% o presidente. Pa-
ra ser honesto, não acho que

as falas do presidente sejam
sempre corretas. Não acho
que uma fala pejorativa ajuda.
Ele tem que ser mais incisivo
no que faz para proteger ido-
sos, doentes, etc. Agora, acho
que ele está certo. Nem Doria
nem Witzel aguentam uma
pressãozinha que vier da socie-
dade. / RICARDO GALHARDO

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


D


e canetada em canetada, o presiden-
te Jair Bolsonaro começa a atrope-
lar decisões estaduais para atender
o eleitorado e não antecipar o fim de seu
governo. Em queda nas pesquisas, cobra-
do pelas redes sociais e alvo de panelaços,
Bolsonaro editou agora um decreto que
inclui igrejas na lista de serviços essen-
ciais que podem funcionar no período de
quarentena, estabelecido para evitar a pro-
pagação do novo coronavírus.
Embora o decreto autorize “atividades
religiosas” de forma ampla, os evangélicos
são, na prática, os destinatários da medi-
da. Não sem motivo: a principal base de
sustentação do governo Bolsonaro no Con-
gresso ainda está nas mãos desse segmen-
to. Sob pressão de líderes evangélicos, o
presidente encontrou na liberação de cul-
tos uma forma de tentar dar o troco nos

governadores, principalmente em João Do-
ria (PSDB), de São Paulo, a quem já cha-
mou de “lunático”, e em Wilson Witzel
(PSC), do Rio, que, nas suas palavras, não
passa de um “demagogo”.
Em janeiro, Bolsonaro já havia tentado
conceder subsídio na conta de luz para
templos religiosos de grande porte. Mes-
mo com a resistência da equipe econômi-
ca, ele chegou a pedir ao Ministério de Mi-
nas e Energia que preparasse minuta de
decreto com o benefício. Só recuou por-
que a medida pegou mal em outro grupo
de seguidores, formado por empresários.
Bolsonaro agora quer reabrir o comércio,
as escolas e acabar com o isolamento social.
Faz previsões catastróficas, diz que o povo
foi “enganado” sobre o coronavírus porque
“nada pega” nos brasileiros e joga no colo
dos governadores a conta pelo “extermí-
nio” de empregos. Na contramão do mun-
do, o presidente que trata a pandemia como
uma “gripezinha” faz cálculos políticos por-
que sabe que, se a economia desandar, não
haverá amanhã. E muito menos 2022.

BOMBOU NAS REDES!


Bolsonaro edita decreto que


livra igrejas de quarentena


‘O presidente sou eu’, diz Bolsonaro sobre declaração de Mourão. Pág. A10 }


Uma canetada com


endereço certo


“Bolsonaro está mais calmo, sorridente e afável. De-
ve ter dado ouvidos às pessoas certas e não à turma
do ódio e enxergado alguma solução para a crise.”

General da reserva


»CLICK. Suposto cami-
nhoneiro aparece usan-
do máscara em um dos
vídeos com mensagem
de apoio a Bolsonaro e
contra restrições impos-
tas por governadores.

COLUNA DO ESTADÃO

WILTON JUNIOR/ESTADAO

Texto classifica templos e casas lotéricas como serviços essenciais, contrariando medidas de


isolamento dos governadores; líderes religiosos dizem que só farão atendimentos individuais


Vazio. Templo da Assembleia de Deus, no Rio, não recebe cultos desde o início da semana


‘Apoio 100% o presidente. Era uma


festa de prefeito fechando igreja’


ENTREVISTA


NA WEB
Portal. Leia
a íntegra da
entrevista

estadao.com.br/e/silasmalafaia
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CENÁRIO: Vera Rosa

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