O Estado de São Paulo (2020-03-28)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:C-5:20200328:


O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 28 DE MARÇO DE 2020 Especial H5


PLATEIA REMOTA


Casa Natura Musical. A casa


de shows passa a transmitir


apresentações ao vivo de artis-


tas por meio de seu Instagram


(@casanaturamusical). Hoje


(28), às 19h, quem toca é a


banda sergipana The Baggios.


No domingo (29), às 15h, o


cantor e compositor China


(foto) faz uma leitura do livro


Carlos Viaja, escrito por ele e


ilustrado por Tulipa Ruiz.


CADA UM NO SEU CANTO


Festival Tamo Junto. O even-


to, com pocket shows a partir


da casa dos músicos, reúne


Pretinho da Serrinha e Xande


de Pilares, hoje (28), às 16h30


e às 17h, respectivamente. No


domingo (29), tem Moacyr


Luz (16h30), Paulo Miklos


(20h), Moreno Veloso (21h) e


Baby do Brasil (21h30). No


Instagram, acesse @jornaloglo-


bo ou o perfil de cada artista.


E TEM MAIS MÚSICA


#Ziriguidum em Casa. Este é


mais um festival de música


(ziriguidum.com) que movi-


menta a internet no fim de


semana. Pelas redes sociais de


cada artista, há shows como


de Jair Oliveira, hoje (28), às


20h30, e de Isabela Taviani,


domingo (29), às 20h30.


CULTURAS POPULARES


Alessandra Leão. No proje-


to Acesa, a cantora e musicista


pernambucana apresenta uma


série de vídeos em que se en-


contra com personagens liga-


dos a tradições culturais co-


mo coco, ciranda e maracatu


de baque solto. Toda quarta-


feira, às 10h, tem novo episó-


dio (alessandraleao.com.br).


SÓ RINDO


Fábio Porchat. Em seu Insta-


gram (@fabioporchat), o ator


faz divertidas entradas diárias,


entre 19h e 19h30, nas quais


entrevista celebridades – Mari-


na Ruy Barbosa, Sandy e Xuxa


já passaram por lá.


NA COZINHA


Renata Vanzetto. A famosa


chef ensina a fazer receitas


como peixe baiano e nhoque


de mandioquinha. No Insta-


gram @renatavanzetto, é só


acessar a aba Quarentena.


Danilo Casaletti


ESPECIAL PARA O ESTADO


No dia 21 de março, a bióloga


capixaba Sabrina Simon, de 33


anos, que há seis meses se mu-


dou para Turim, na Itália, para


fazer doutorado em epidemio-


logia da febre amarela, levan-


tou, tomou seu café da manhã e


decidiu usar o Instagram para


desabafar. Àquela altura, ela es-


tava há 25 dias no isolamento


social determinado pelo gover-


no italiano a fim de frear a disse-


minação do novo coronavírus.


Ao perceber que muitos colegas


brasileiros começavam a se


preocupar com a fase igualmen-


te imposta por aqui, resolveu re-


latar sua percepção a respeito


do período de recolhimento – e


alertar sobre o que viria.


Em uma sequência de stories


(que se transformaram em um


vídeo que viralizou), ela dividiu


a quarentena em três fases. A pri-


meira, a semana da euforia – na


qual muita gente teve a sensação


de estar em férias e aproveitou


para passear e fazer atividades


físicas ao ar livre. Na segunda, o


tédio começou a dar as caras e as


pessoas começaram a cantar nas


janelas e sacadas, com intuito de


envolver os vizinhos para que o


sentimento fosse quebrado cole-


tivamente; na terceira semana,


esse eventos começaram a per-


der o sentido na medida que os


números de infectados e as mor-


tes aumentavam e o sentimento


de tristeza ficou mais forte.


Para o professor do programa


de pós-graduação em psiquia-


tria da Universidade Federal de


São Paulo (Unifesp) Cristiano


Noto, as fases identificadas por


Sabrina Simon são similares às


cinco fases do luto, descritas pe-


la psiquiatra suíça Elisabeth Kü-


bler-Ross no fim dos anos 1960.


São elas: negação, raiva, negocia-


ção, depressão e aceitação. “To-


dos vamos passar por esses está-


gios, em momentos diferentes,


mas vamos passar”, diz Noto, ex-


plicando que a vivência do isola-


mento é individual. “Quem está


sozinho em casa sente de um jei-


to. Quem está em home office,


mas tendo que lidar com os fi-


lhos pequenos, por exemplo, vai


perceber de outra maneira.”


Além da depressão que, se-


gundo Noto as pessoas podem


sentir conforme os dias de isola-


mento avancem, outros trans-


tornos mentais que podem apa-


recer são a ansiedade, as fobias


e a hipocondria. “O importante


é ficar atento sobre a intensida-


de desses sentimentos, o quan-


to eles estão causando sofri-


mento para daí, então, buscar a


ajuda de um médico”, diz Noto.


Sabrina conta que, agora, o


conteúdo das redes sociais na


Itália mudou. “As brincadeiras
e os vídeos das pessoas treinan-

do em casa pararam e as pes-


soas passaram a compartilhar


fotos e mensagens mais sérias e


tristes em seus perfis”, conta.


Vida imita a arte. Quem experi-


mentou sensação parecida,


mas em outro contexto, foi o es-


tudante de administração e hu-


morista João Akel, de 21 anos.


Ele participou da primeira ver-


são brasileira do reality show


The Circle (mais informações na


página H07), produzido pela


Netflix, que estreou no dia 11 de


março. O programa, sucesso


nos Estados Unidos e na Ingla-


terra, confinou por 30 dias nove


participantes em um prédio, ca-


da um em um apartamento, que


só podiam interagir por uma re-


de social exclusiva – mas sem
comunicação por voz ou vídeo.

O prêmio, de R$ 300 mil, vai pa-


ra o mais popular. Algo bastan-


te parecido com o período vivi-


do na vida real, com comunica-


ções se dando, em geral, por


meio digital. A diferença é que o


prêmio, nesse caso, é ajudar a


frear a covid-19.


“A situação é bem parecida,


confesso. Estamos todos conec-


tados, mas ninguém está próxi-


mo de verdade”, compara Akel,


que agora enfrenta o confina-


mento também na vida real.


“Apesar de poder falar com os


outros participantes via rede so-


cial, eu não sabia a reação do pú-


blico, para quem acostumei a


produzir meu conteúdo. Senti


certa carência, perdi a alegria. Ti-


ve que inventar maneiras de me
alegrar”, conta Akel. O progra-

ma foi gravado entre outubro e


novembro do ano passado – an-


tes da pandemia, portanto.


O professor de psiquiatria


Cristiano Noto acredita que esse


tipo de sensação faz parte do pro-


cesso. Ainda assim, apesar do pe-


ríodo complicado, ele acredita


que sairemos fortalecidos. “Sere-


mos mais solidários. Estamos


‘parando o mundo’ por conta de


uma doença, para preservar os


idosos. Isso é solidariedade.”


Renata Cafardo


Save the new date. Assim os noi-


vos Marina e José Carlos comu-


nicaram seus cerca de 400 con-


vidados que o casamento, mar-


cado para o dia 25 de abril, seria


agora quase um ano depois, por


causa da pandemia de coronaví-


rus. “Nessa hora de grande frus-


tração, tínhamos duas opções:


sentar e chorar ou acumular


energias para mais um ano”,


continua a mensagem diagra-


mada como um convite e envia-


da pelo WhatsApp.“A anima-


ção será muito maior e sem re-


ceio de beijos e abraços.”


Apesar da mensagem singela,


a noiva Marina Sampaio San-


tos, arquiteta, de 32 anos, caiu


em prantos quando percebeu


que teria de esperar mais ainda


pelo “seu” dia. Ela conta que foi


pedida em casamento no fim de



  1. “Eu não parava de xingar e


chorar, disse que não ia remar-


car nada com nenhum fornece-


dor, não tinha forças.”


O futuro marido, o publicitá-


rio José Carlos Ferreira Alves


Junior, de 40 anos, ficou respon-


sável por conseguir uma nova


data – distante – mas com tudo


o que ela já tinha escolhido para


o casamento. A mesma Igreja


São José, o buffet, o decorador,


o cabeleireiro, o fotógrafo, to-


dos vão estar agora disponíveis


em 27 de março de 2021 para


Marina e José. “Desde pequena
eu sabia tudo o que eu queria no

meu casamento, é um sonho,


agora adiado”, diz Marina.


O vestido também estava pra-


ticamente pronto e vai ficar guar-


dado com a estilista. Os noivos já


receberam até alguns presentes,


como TV, vaso de cristal, adega,


mas como as listas agora são to-


das virtuais e os itens só são en-


tregues após a festa, tudo ficou


para daqui a um ano.


Já Liliane e Ricardo ainda não


decidiram o que fazer com os


convites que ainda não foram


entregues e levam a data de 23


de maio de 2020.


Depois da tristeza de decidir


adiar o evento, conseguiram


transferir na semana passada o


casamento para ainda este ano,


no dia 15 de agosto. “Eu sempre


disse que nunca casaria em agos-


to, que é o mês do desgosto, tem


toda a superstição, mas foi a úni-


ca data que conseguimos”, con-


ta a advogada Liliane Sauberli


Amador, de 37 anos.


“Agora não sei se passo um


corretivo na data velha ou deixo


assim mesmo”, brinca a noiva,


com os 400 convites impressos


em casa.


Nesta semana, a advogada es-


taria na Bahia em sua despedida


de solteira; a viagem que tam-


bém foi cancelada. “Passamos


um ano colocando energia e di-


nheiro nisso tudo, percebemos


agora que, no fundo, não contro-


lamos nada. Feliz, feliz, eu não


estou, mas a gente vai tentando


manter a sanidade.”


Na semana passada, um de-


creto do governador João Doria
proibiu eventos públicos. Ca-

sas de festas foram fechadas, as-


sim como serviços não essen-


ciais.


O que na semana passada era


uma decisão de noivos e aniver-


sariantes passou a ser uma obri-


gação no Estado. Estima-se que


o setor de eventos será um dos


grandes impactados, com can-


celamentos e adiamentos pre-


vistos para até o fim do ano.


“Casamento é uma data para


curtir com amigos e família.


Não pode ser algo em que as pes-


soas estão mais preocupadas


com a doença do que com a fes-


ta em si”, diz o administrador


de empresas Rafael Lourenço,


de 36 anos, ao explicar por que


resolveu adiar seu casamento.


O evento seria dia 4 de abril no


restaurante Ruella, na Vila


Olímpia, e já estava todo pago.


PRESERVE-SE


AS FASES DO


ISOLAMENTO SOCIAL


DANIELE MASCOLO/REUTERS

Cooperação. Na segunda semana, italianos começaram a cantar na janela para animar os vizinhos e quebrar o tédio


CASAMENTOS


ADIADOS PARA


O ANO QUE VEM


Comportamento*


LECO DE SOUZA

ENTEDIADO?


As dicas que eles dão para
enfrentar o isolamento social

Cristiano Noto, psiquiatra


l Faça coisas práticas, como abas-


tecer a despensa, arrumar casa.


l Crie uma rotina, tenha horários


para começar a trabalhar (em caso


de home office), de almoçar etc.


Com rotina, tudo fica mais previsí-


vel e a ansiedade diminui.


l Dê tempo para se adaptar à no-


va realidade. Não tenha pressa em


fazer cursos e outras atividades


que estão sendo ofertadas online.


Sabrina Simon, bióloga


que vive na Itália


l É preciso filtrar as informações,


tanto de qualidade quanto de quan-


tidade. Eu escolhi um horário e


uma fonte de informação segura.


Entro lá apenas uma vez por dia
para me informar sobre os desdo-

bramentos da doença.


l Tenha um novo projeto para tra-


balhar nele. Seja produtivo em al-


go que te dê motivação.


João Akel, confinado


no reality ‘The Circle’


l Alimente-se de forma saudável,


você vai precisar de energia.


l Tenha um momento para se dis-


trair com os amigos: converse com


eles, participe de jogos online.


NETFLIX ARQUIVO PESSOAL

Solidão. ‘Senti carência,


perdi a alegria’, diz Akel


Desabafo. Sabrina viralizou


com vídeo sobre isolamento


Sentimentos, que vão da euforia à tristeza, podem mudar ao longo da quarentena. E isso é normal


ACERVO PESSOAL

Nova data. Marina e José Carlos marcaram para 2021


Com o isolamento social,


eventos são cancelados


e o setor deverá ser um


dos mais afetados pelo


novo coronavírus

Free download pdf