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H8 Especial SÁBADO, 28 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Leandro Nunes
Ficar em casa e interagir pela
internet vem sendo a nova roti-
na de muitos brasileiros, e do
mundo, durante a quarentena
contra o novo coronavírus. A lis-
ta de eventos para aplacar os
efeitos do isolamento social é
imensa: cantores apresentam
pocket shows ao vivo, atores e
escritores recitam dramas e
poesia nas redes sociais, psicó-
logos oferecem sessões de tera-
pia online e professores reto-
mam conteúdo em videochama-
das com seus alunos.
Mas há quem tenha experi-
mentado uma pré-quarentena,
como foi com os participantes
do reality The Circle Brazil, dis-
ponível na Netflix. Gravada no
ano passado, em Manchester,
no Reino Unido, a versão brasi-
leira apresentada por Giovanna
Ewbank propõe um desafio às
novas gerações, nascidas sob o
signo da profissão de influen-
cer, e também lança questiona-
mentos para quem não tem tan-
ta vocação para a vida digital.
Para o produtor cultural, Rap-
hael Dumaresq, um dos finalis-
tas, a volta para a casa traz uma
sensação estranha. “Meus ami-
gos falaram que o programa foi
um ensaio para o que estamos
vivendo agora nesta quarente-
na”, explica ele, ao Estado.
Dumaresq ocupou um dos
apartamentos de The Circle Bra-
zil no mesmo utilizado para as
gravações do reality original, no
Reino Unido. Lá dentro, a deco-
ração preparada se inspira no
perfil dos participantes. Sem ce-
lular, redes sociais e qualquer
outra interação com o mundo
exterior, eles terão de escolher
entre si qual será o grande in-
fluencer do jogo. O vencedor le-
va R$ 300 mil. “Eu fazia minha
rotina, cozinhava, cuidava da ca-
sa. A diferença é que não pagava
aluguel”, afirma ele.
Após uma seletiva realizada
no ano passado, o reality esco-
lheu participantes de diferen-
tes partes do Brasil. E não basta
a retórica, a grande sacada de
The Circle Brazil já começa no
seu time de jogadores, com gen-
te de todas as regiões do País.
Não se trata de cota por re-
gião, como costuma funcionar
para produções feitas no eixo
Rio-São Paulo. A vocação sem
fronteiras de The Circle é real:
Marina é do bairro carioca do
Méier, mas Ana Carla é da Paraí-
ba. JP é pernambucano e Ray,
manauara. Tem também a du-
pla de acreanos Lucas e Marcel,
e Dumaresq é de Natal. O resul-
tado é positivo no quesito sota-
ques, em vista de produções de
confinamento
como o vetera-
no Big Brother
Brasil, que
tem uma prefe-
rência mais pe-
lo Sudeste, Sul
e Nordeste do
Brasil. Mas, di-
ferentemente da produção da
TV Globo, o verdadeiro caris-
ma dos competidores de The
Circle Brazil se revela apenas pa-
ra o público, e não entre eles.
A explicação se dá pela rede
social que comanda o reality
da Netflix. The Circle é como
um assistente pessoal, do tipo
Alexa da Amazon, em que é pos-
sível acionar comandos de
voz. Conectada em todos os
apartamento, o Circle é uma
rede social local, onde a fofo-
ca, as intrigas e confidências
vão sendo reveladas.
Cada participante pode
criar um perfil livremente, sen-
do real – com informações ver-
dadeiras sobre idade, caracte-
rísticas e preferências – ou
fake mesmo, com fotos de um
amigo e men-
tirinhas mais
amenas, co-
mo ter uma
idade diferen-
te, estado ci-
vil ou profis-
são. “A gente
acha que não
vai se surpreender, por estar
acostumado à comunicação
nas redes, mas o jogo nos leva a
interagir com pessoas que não
temos certeza que são reais”,
comenta o participante.
É claro que criar um fake tem
seus riscos. A chance de alguém
parecer artificial pode diminuir
as oportunidades de conquistar
os demais competidores, mes-
mo assim, não deixa de ser sabo-
roso enganar concorrentes e
trazê-los para o seu lado da for-
ça. Fakes que possuem um gêne-
ro diverso do participante são
os mais vulneráveis. Em um dos
episódios, um jogador criou um
perfil feminino que logo foi
questionado pela maneira “for-
çada” com que conversava.
Se o conflito pode alimentar a
trama para quem está assistin-
do neste lado do confinamento,
entre os participantes é perigo-
so estar muito na ofensiva. Pela
lógica, quem tem o poder de ga-
rantir sua permanência na dis-
puta está há poucos metros, no
apartamento de baixo ou de ci-
ma. Por isso, The Circle Brazil
mantém um clima amistoso
que foge das brigas e baixarias
de outros formatos de reality
mais populares no País. Não se
ganha nada no grito, mas na ca-
pacidade de formar – e manter –
aliados, e se divertir.
Mas, como todo reality, a dis-
puta também se faz no ruído.
Na plataforma Circle, é possí-
vel criar grupo fechados, con-
versas privadas, além das coleti-
vas. É uma forma interessante
de ver o comportamento mais
“público”, em chats com todos
os competidores, e como os se-
gredos são contados nas conver-
sas com apenas dois jogadores.
Em um dos episódios, esse
embate se mostra quando uma
participante recebe uma sur-
presa de um dos jogadores.
Quando questionada pelo cole-
tivo, a moça nega que foi a con-
templada. Por um tempo, fica a
impressão de que alguém está
mentindo para todo mundo. A
derrocada da participante co-
meça quando o jogador que a
presenteou passa a informação
para outro competidor. Ao fi-
nal de cada etapa, cada partici-
pante deve eleger os seus prefe-
ridos, do primeiro ao último lu-
gar. Os dois melhores coloca-
dos têm a justa missão de blo-
quear alguém do jogo. Não dei-
xa de ser um fim virtual, já que o
eliminado terá a chance de visi-
tar o apartamento de qualquer
um dos outros jogadores.
Com uma estreia em boa ho-
ra, a versão brasileira de The Cir-
cle demonstra que o confina-
mento pode ser preenchido
com boas doses de entreteni-
mento offline. Dos livros de pin-
tar ao trabalho manual, o tem-
po é ocupado de maneira rela-
xante. Festas temáticas, mes-
mo que individuais, podem aju-
dar na descontração.
Depois da competição, Duma-
resq se mudou de Natal para São
Paulo. “Agora estamos todos
aqui, e eu confinado novamente.
A diferença é que agora ninguém
está concorrendo a R$ 300 mil.”
A QUARENTENA PODE
DESPERTAR NOVOS
HÁBITOS DE SE OCUPAR O
TEMPO OFFLINE
Versão brasileira, disponível na Netflix, traz participantes
que interagem apenas por meio de uma rede social
Camila Tuchlinski
Não é exagero dizer que todos
lutam uma guerra contra o no-
vo coronavírus. E os funcioná-
rios do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Uni-
versidade de São Paulo estão pe-
dindo ajuda para vencê-la.
Um perfil exclusivo foi criado
nas redes sociais, intitulado
‘Vem pra Guerra’. A campanha
tentará levantar fundos e tem
como objetivo alcançar R$ 10
milhões até o dia 2 de abril. Pela
causa, as plataformas de arreca-
dação não cobrarão taxas nas
transferências do dinheiro.
As doações para a campanha
‘Vem pra Guerra’ serão reverti-
das para a compra de 40 mil más-
caras N95, 670 mil máscaras ci-
rúrgicas, 6,7 mil litros de álcool
gel, 45 mil aventais, 211 mil tou-
cas e três máquinas portáteis de
raio X para dois meses de atendi-
mento, segundo as projeções
de aumento dos atendimentos
feitas pelos profissionais do
Hospital das Clínicas.
“O Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Uni-
versidade de São Paulo (HC-
FMUSP) está na linha de frente
do combate ao avanço da pande-
mia e está preparando um proje-
to de reestruturação de seus lei-
tos e UTI’s para enfrentar a
ameaça do novo coronavírus”,
diz o comunicado.
“Para garantir a integridade
da equipe e pacientes, preven-
ção ao contágio, a manutenção
da quantidade e qualidade dos
atendimentos, estima-se um
crescimento de mais de 400%
na demanda desses materiais.
Infelizmente, com o avanço da
epidemia, a demanda desses in-
sumos esgotou os estoques e
acarretou o aumento exponen-
cial dos preços”, alerta a campa-
nha, que conta com a hashtag
#VemPraGuerra para conse-
guir engajamento em todas as
redes sociais.
Até na ontem, mais de seis
mil pessoas já haviam feito doa-
ções para a campanha.
FOTOS NETFLIX
THE CIRCLE
Divertido. Divertido. Não
se ganha no
grito, mas ao
fazer aliados
Streaming*
REALITY É ENSAIO PARA
VIDA NO CONFINAMENTO
GABRIELA BILO/ESTADÃO - 18/7/2016
#VemPraGuerra vai usar
o valor para a compra de
máscaras, álcool gel,
aventais e máquinas
portáteis de raio X
Hospital das Clínicas
faz campanha e busca
arrecadar R$ 10 milhões
Equipamentos. Hospital pede ajuda da sociedade para seguir combate ao novo coronavírus
Dumaresq. Um dos finalistas: competidores de todo o País