liamba que se esqueciam de fumar esmagadas no chão, cortávamos a ponta das balas
ou cavávamos-lhes uma cruz para que fraturassem mais ossos, para que o fígado ou os
pulmões em pedaços, para que um punho inteiro coubesse no buraco de saída, o soba
ainda a murmurar qualquer coisa, o angolar ainda a arrastar-se de gatas antes de desistir
de si mesmo, Sua Excelência para mim
- Apanhamos a camioneta de Lisboa e vimos buscar o carro depois
não zangada comigo, não com desprezo, a pedir-me, a sensação de que se quisesse
podia tocar-lhe, empurrá-la para o quarto, despi-la, afastar-lhe as pernas com os
cotovelos urgentes, ordenar-lhe - Quieta
na certeza que o braço de Sua Excelência, conforme a minha mãe com o meu pai, a
rodear-me o pescoço e não pares de comer porco, não pares de comer, continua a
engordar, a certeza que Sua Excelência, também com uma camisa de dormir de folhos,
a ajudar-me - Amor
- a aumentar-me
- Amor
a guiar-me - Amor
a repetir com a voz da minha mãe - Chama-se Constança
a única frase de que eu necessitava para a sentir comigo pela primeira vez, palavra
de honra, nenhuma troça, nenhum desprezo, nenhum ódio, o meu pai a afastar-se do
alferes - Um cobarde
e a afastar-me dele, a perguntar ao médico enquanto um leproso perseguia outro lá
em baixo, não a falar-lhe, não a chamá-lo, aos grunhidos - Alguma esperança ainda?
a vigiar o biombo de lábio a saltar, o meu pai em pânico também - Alguma esperança ainda?
debaixo da mercedes a recusar que o puxassem - Alguma esperança ainda?
sempre a prender-me o ombro ao exibir-me aos tropas - Não lhe toquem
a exibir-me ao porco - Não lhe toques
a exibir-me a Sua Excelência - Não lhe toque
apesar da porta do quarto fechada, um antigo cubículo de arrumos a meio do
corredor com uma cadeira de baloiço de palhinha rasgada, uma máquina de costura a
necessitar de outra agulha, uma vassoura calva incapaz de varrer, a cama de quando eu
era pequeno e na qual dormíamos os dois aqui na casa da aldeia, desconfortáveis,
encolhidos, com metade do corpo suspenso do vazio, a nespereira a ramalhar contra o