desfilavam no cais, as marchas militares enquanto o barco se afastava, a chuva sobre a
água cinzenta do Tejo, tanta chuva sobre a água cinzenta do Tejo, Lisboa mais pequena,
o cais minúsculo, o meu pai e dois camaradas de porta fechada e a cortina do camarote
corrida a fim de não ouvirem os gritos das pessoas que se despediam, mais os gritos das
gaivotas, mais os gritos do tenente a mandá-los correr durante a instrução
- Esses bracinhos bem ao alto esses bracinhos bem ao alto
mais árvores, mais chuva, mais pássaros, mais o mulato para o meu pai - Não dispara nosso alferes?
um pedido debaixo dele a sorrir-lhe - Não dispara nosso alferes?
enquanto o porco continuava a comer, continuava a comer, continuava a comer, o
porco perguntando - Não dispara nosso alferes?
com a boca cheia de lavadura, e cascas, e restos, o meu pai entregou-lhe a gê três
não de cano voltado para o mulato, de cano para cima e tornou a contar - Um
enquanto se observavam um ao outro, tornou a contar - Dois
e ao contar - Três
no momento em que se voltava para sair com o pelotão a caminho do arame
ocupando o seu lugar na fila sem nunca se voltar para trás o tiro com que o mulato a
repetir - Três
fez desaparecer metade da sua própria cabeça.