de picar dado que as berliês são oiro, uma berliê três mil contos, um soldado
quatrocentos e portanto os homens tão mais baratos, que piquem, claro que se gasta
um bocado de combustível para as evacuações e umas tantas compressas mas a
diferença compensa, guarda a pica aí num ângulo do quarto e não penses mais nisso, se
for preciso digo-te
- Amor
a sério que te digo - Amor
como se fosse verdade e não cobro mais por isso, tão fácil dizer - Amor
tão simples dizer - Amor
sobretudo quando não se sente nada, pensando bem o - Amor
ainda mais sincero quando não se sente nada, não se encrava na garganta, não
tropeça, não nos envergonha, não nos faz pensar - E agora?
não custa a sair, come o amor porco, come as cascas e a lavadura dos beijos, come
essa coisa estranha que nos assusta tanto, olha o alferes, palavra de honra, quase
sereno, contente, a prometer-me uma camisa de rendas se o meu braço no ombro dele,
se a minha palma na sua nuca, se os quimbos pararem de arder, se os pretos sem orelhas
nem mãos de novo inteiros, vivos, quase pessoas afinal, não como nós, é claro, mas, até
certo ponto, olha-se melhor e parecidos, também andam, quase falam, há momentos
em que chegam, se tomarmos atenção, a dar ideia que pessoas, pelo menos assim de
repente assemelham-se, claro que se observarmos melhor notamos diferenças a
mãozinha sempre estendida - Nosso arfere nosso arfere
o mal acabado das feições, as porcarias de que se alimentam, a magreza, a
submissão, o não compreenderem a linguagem, respondem - Nosso arfere
seja ao que for, se queremos dormir-lhes com as mulheres dormimos com as
mulheres, elas quietas, sérias, não - Amor
é evidente, vai-se a ver e talvez tenham razão, o que significa - Amor
afinal ou - Meu querido
ou - Não me deixes
ou - Promete que não me deixas
ou mentiras assim, nunca vi um cão mentir ou uma cabra aldrabar, vão durando e é
tudo, afastam-se para morrer, não incomodam ninguém, se não os enterramos há
sempre outros cães ou outras cabras ou esses pássaros deles, grandes, ferozes, que os