aos outros e por instantes, sem que eu esperasse, tive pena dele e só me apercebi que
tinha pena pela forma como o meu filho, de repente, me olhou, já com as socas e o
avental de borracha, ao recomeçarmos a andar senti o relento da água e vi o rio
aparecer, em África a água nunca azul, castanha, com marcas de passos no lodo, põem-
se duas pastilhas no cantil antes de o encher de modo que além de saber a pó um gosto
de medicamento igualmente, às vezes ao beber água do jarro, à mesa, ainda o sinto na
língua, a minha mulher
- Que caretas são essas?
e só então percebo que eu não de camuflado, em mangas de camisa sem ter tirado a
gravata, se lhe perguntasse - Lembras-te da mina?
não me olhava sequer ou respondia - Come
isto é come bisnagas, leite condensado, uma bola de queijo, pastilhas de sal, a minha
filha fora da adega, sentada num caixote sem cumprimentar ninguém, a tocar com um
pauzito numa lesma no chão enquanto suava, suava, sinais de botas junto ao rio, uma
lata de conservas russa amolgada, tanto suor na cara, uma cápsula de calache, pássaros
mas a medo, não poisando ainda, o porco já na adega, deitado, de patas amarradas,
pronto a morder quem passava, o guia para mim, a apontar sinais de pessoa descalça - Tem turra na sanzala
não uma, duas pessoas descalças, um homem também de socas principiou a limpar
o bicho com um esfregão depois de o molhar com a mangueira, com Sua Excelência, de
palmas achatadas na boca, a vê-lo, eu na horta um momento, sem falar com ninguém,
até mandar trazer a cadeira de braços da sala para que a minha mulher assistisse
enquanto um bando de rolas bravas atravessava a janela, na serra ginetos, acho que vi
um há anos mas não tenho a certeza, aqueles orelhas triangulares, aquela forma de
trotar, mais almofadados que os gatos e de súbito só unhas no caso de uma lebre por
perto, se a minha mulher morrer como me governo depois, há uma viúva, no prédio a
seguir ao nosso, que encontro às vezes no café, com o carrinho das compras encostado
à perna de modo a sentir-lhe a falta se o tentarem roubar, uma tarde bati-lhe à porta
para entregar uma encomenda que veio errada para mim e defrontei-me com um olho
tremendo, entre o batente e a parede, que graças a Deus tirou os óculos para decifrar
melhor o remetente, curioso como as lentes e as rugas da atenção nos tornam mais
profundos, mais seguros, o capitão mandou vir o soba do quimbo junto ao arame
farpado e lançou-o contra o pau da bandeira com uma bofetada - Quem são os turras aqui?
o soba de mão enorme na bochecha, dúzias de rolas bravas junto ao rio, a reunir-se
nos seus trapos - Não tem turras nosso capitão
uma segunda bofetada, uma terceira, o homem, tão miserável, a estender-nos um
baldezito, a seguir ao jantar, numa esperança de comida, o capitão a levantá-lo pelos
farrapos do peito - Bandalho