e Sua Excelência, que injustiça, sem acreditar em mim, eu que teria feito o mesmo à
velha se a trombose infelizmente não se antecipasse impedindo-me a vingança de
contemplá-la a pedalar de cólicas no tapete de ráfia chamando pelo gregório e ora aí
temos o exemplo de um espetáculo que não me repugnaria por inteiro, a criatura que
me detestava a babar-se, a gaguejar sílabas sem nexo, a transformar a casa numa
desarrumação de traços sobre a boca desmobilada, com a dentadura, feliz, livre das
gengivas, mordendo com apetite o travesseiro, às vezes desprendia-se apesar da
perseguição da língua, desejosa de emigrar ao encontro de outra proprietária e outras
ementas, uns caldinhos fáceis, bifes picados que não exigissem energia, um peixe tenro
sem espinhas e portanto sem necessidade de lhe pescarem uma aresta com a rede de
mar alto do polegar e do indicador e exibi-la em torno
- Queria arranjar-me um abcesso na gengiva o estafermo
os outros oficiais para o meu pai - Vais ficar mesmo com o miúdo tu?
no interior do círculo de arame farpado com dúzias de homens verdes e barracas e
areia, a chana de um rio lá em baixo onde luzes dispersas, em torno do arame cubatas
habitadas por pretos como eu, comigo surpreendido de não estar com eles, cada vez
menos pretos dado que fugiam para a mata, olhando não as coisas, através das coisas,
magros, de pés enormes que continuavam terra abaixo, muito para além deles até ao
centro do mundo, vinham pedir comida estendendo latas ferrugentas e os milhafres a
planarem-lhes por cima, o soba de uniforme desbotado cheio de fitas e estrelas de
metal sentado diante de uma máquina de costura cosendo-se a si mesmo em lugar da
roupa que não tinha, julguei que Sua Excelência a sair do posto de enfermagem,
levantei-me e afinal outra mulher, mais nova, com um cãozito pela trela, um desses
bichos satisfeitos consigo mesmos que desovam logo no passeio num desembaraço
proprietário em lugar de marcharem taciturnos, meditabundos, farejando a solução da
quadratura do círculo nas árvores e nos pneus, o meu pai em África para mim - Rapaz
a maior parte das vezes sem me olhar e quase nunca me tocando, não me ralaria que
me tocasse - Rapaz
de modo que o conhecia melhor de costas que de frente no arame sem espingarda
alguma, sem pistola, tão fácil de matar com uma faca no pescoço ou no peito e
abandoná-lo nas ervas, quieto, de olhos fechados debaixo do sol, dos relâmpagos, da
chuva, se eu tivesse uma faca, se ele me desse uma faca, eu daqui para acolá e os
soldados - Garoto
sem me fazerem mal, o capitão para o meu pai - Você quer o pirralho para quê?
e o meu pai - Vai para Lisboa comigo
quando eu mal compreendia o português mas disso recordo-me - Vai para Lisboa comigo