e na estrada em baixo ninguém, não trouxe o meu filho de África por causa da mãe
ou do pai dele, trouxe-o julgo eu porque me sentia só, porque, que estupidez falar, a
minha prima
- Queres ver o porco?
mais nova do que eu dez anos, em criança tinha um olho torto, a mãe dela fez uma
promessa e passou-lhe, não quero ver o porco agora, posso afeiçoar-me, só no domingo
quando o trouxerem desconfiado, a fungar, há pessoas a jurarem que os porcos mas não
vamos entrar por aí, há pessoas a jurarem que os porcos são iguaizinhos à gente só que
não vejo em quê, amarram-se-lhes as patas de trás, amarram-se-lhes as patas da frente,
penduram-se do gancho, entregam-nos a faca, descobrimos a artéria e começa-se sem
nenhum rádio por perto - Manda mosca manda mosca
nem nenhuma segurança no capim, começa-se e o porco - Avé Maria cheia de Graça
não berros apenas, torções, sopros - Quando o meu avô souber mata-se quando o meu avô souber mata-se
e quem não se mata no poço, quem não mata o vizinho à sacholada, quem não mata
a mulher por causa do padre, a minha com aquela sobrancelha que bem conheço - O que se passa contigo?
passa-se que tento expulsar-me de mim e não consigo, estou na aldeia e não estou,
ando sem descanso de um lado para o outro nos meus miolos, não sou capaz de parar,
olha um corvo nos choupos, não vejo o largo daqui nem os velhos de boné nem o soba
com eles a estenderem latas vazias para a gente - Muata muata
na esperança de restos e sobravam algumas couves da sopa, algumas batatas, ossos
com um restito de gordura, a minha mulher - Queres que me sente contigo naquele caixote acolá?
e posso imaginar que sou porco, imaginar por um momento que sou porco, talvez me
pendurem no gancho mas quem trará a faca e faz o obséquio de ma espetar na garganta,
qual soldado ressentido comigo, a minha mulher numa pontinha do caixote a dar-me
espaço, que é feito da rapariga que conheci sob tantos anos e tanto duplo queixo, que
é da tua energia, ao primeiro beijo uns meses antes da tropa tu de olhos abertos, de
olhos aliás sempre abertos, a ajeitares a blusa - E agora?
com receio dos teus pais, com receio de ti mesma, há quantos séculos nós não porque
não penso nisso, porque não me apetece, porque não sei lá, acho que não viste que às
vezes, adiante, que não viste mesmo que às vezes, o braço morno que ainda treme
palavra, ainda treme, a aliança, o anel da tua mãe, a pulseirita com um coração de oiro
que te ofereci quando a nossa filha nasceu, gosto de ti, não sei se gosto, vamos fazer
como se gostasse de ti só não me obrigues a falar dado que no caso de falar não me calo
mais e não sei se aguentava, os meus olhos esquisitos, sombras turvas, o gato que
dormia comigo na minha cama de criança não na cozinha, na almofada desbotada dele
que trazia para o meu quarto e cheirava a almofada com pouco recheio e a comida
azeda, a minha mulher não estendida no chão, não sem orelha, a espiar-me à socapa