alheada, alheada é injusto e daí será injusto, a luzita da gasolina deixou de piscar para
se tornar fixa, arremelgada de medo, Sua Excelência a reparar por fim na luz
- O que é isto?
algures entre a apreensão e o receio como se houvesse descoberto um inseto dos
que picam ou um resto de baton desconhecido no meu colarinho, eu para Sua Excelência - Conheces alguma bomba por aqui antes que o carro pare?
e como ia conhecer se nunca conduz, senta-se no banco do pendura contribuindo
com o vestido curto e as coxas que pelo menos dessas ela cuida bem, para colorir a
viagem e é tudo, em quantos automóveis estiveste não mintas, com quem te
encontraste na parteira, em torno de nós somente campos e plátanos no negrume da
lua nova, que quilômetros nos faltarão para chegar, três, cinco, sete, oito, uma casa
isolada muito ao longe, não, um armazém, não, um celeiro, aposto que bezerros por aí,
cães a ladrarem, se calhar um acampamento de ciganos, baloiçamos numa passagem de
nível sem guarda a que faltavam tábuas e onde Sua Excelência, quase de cocuruto no
teto - Estás louco?
ela que em geral - Estás louco ou quê?
agora apenas - Estás louco?
a espreitar-me de soslaio como se tivesse medo de mim e não me desagradava a
hipótese de ter medo de mim, era da maneira que à noite, na cama, se lhe ordenasse - Chega aqui
ela vinha que nem ginjas, o mal foi não lhe ter posto rédea curta desde o princípio
que uma mulher deixada à vontade mais tarde ou mais cedo abusa que é a tendência
delas, rédea curta e açaime e embora a rédea para cavalos, mulas, burros e até as renas
dos pisa papéis do Pai Natal que a gente vira ao contrário, torna a endireitar e assiste a
espirais atrás de espirais de palhetas a fingirem neve, embora, dizia eu, a rédea curta
para os cavalos
(abreviemos omitindo os outros bichos)
e o açaime para os cães tenho a certeza que compreendem onde quero chegar, o
problema é que agora tarde porque Sua Excelência tomou o freio nos dentes e já não há
quem a pare, palavra de honra, é que já não há quem a pare e aí temos o exemplo de
uma coisa a ensinar aos filhos antes que se torne um conhecimento inútil como é o meu
triste caso, meditem nele, a desgraça de um homem de quem a mulher faz gato sapato
o pobre, enfim, íamos na passagem de nível sem guarda acho eu, não, já no outro lado
da passagem de nível sem guarda e começava
(tenho estes instintos, sou preto, não refletimos, adivinhamos, safei-me por uma
unha negra de imitar o sujeito que garantia eu não procuro, encontro)
a sentir o cheiro da casa na aldeia para além do cheiro dos meus pais e da minha irmã
(alguma vantagem há de existir em ser preto e não é preciso estender-me que vocês
veem a coisa)
isto na banda oposta à passagem de nível que nem Pare Escute Olhe recomendava,
sugiro que andemos todos com esse nobre conselho no bolso que nos poupará maçada