e carícias lentas descendo a barriga, dedos nas suas coxas, no seu ventre, a nespereira
ora a entrar ora a sair pela janela, as couves por regar, o homem da oficina para mim
- Beija-me mais
não, o homem da oficina para mim coçando o peito - Se não houver destes pneus tem que se encomendar na cidade conte com dois ou
três dias
e eu a responder como os tropas - Mata mata
enquanto o homem da oficina para o meu pai - Quase de certeza que foram os ciganos
que logicamente são sempre os culpados de tudo e portanto degolar-lhes as mulas,
queimar-lhes as carroças, cortar as mãos das mulheres, aquelas mãos compridas,
aquelas tranças escuras, aqueles cães cabisbaixos, de passinho curto, que as seguem,
Sua Excelência de dentes subitamente enormes na almofada, lacerando os lençóis com
os calcanhares - Ai querida
enquanto o irmão do meu pai para o meu pai, a luzinha da gasolina apagada, o motor
mais ou menos, o homem da oficina - Até aqui chegamos nós vamos ver agora do pneu
o irmão do meu pai para o meu pai, divertido, muito mais elegante do que ele,
apertando-lhe a nuca com a palma - Onde arranjaste um filho preto maroto?
comigo a pensar na minha mãe que a essa hora devia olhar o quarto sem pensar em
nada nem sequer no cansaço, nem sequer nas dores, nem sequer nos gestos que lhe era
difícil completar, sentia os tornozelos ao fundo, lado a lado, inalcançáveis - Serão meus ainda?
e a certeza que não pertenciam a ninguém, esta respiração que sai da minha boca e
só às vezes é minha, estes dois dedos de que pessoa avaliando-me a cara tropeçando
nos ossos, descobrindo a secura da pele, surpreendendo-se com rugas novas, tão
fundas, não sou assim, não sou isto, o badalo de uma ovelha na travessa mas como se
já não existem rebanhos, na época dos meus sogros a aldeia ainda viva, mulheres com
bilhas equilibradas na cabeça, a minha filha a jogar pedaços de tijolo a uma lagartixa
sem lhe acertar nunca, o filho que o meu marido trouxe de Angola e não tive que pari-
lo, recebi-o apenas, uma criança que não me fugia nem me procurava, via-o ali como
parado noutro lugar, noutro espaço como eu agora, se alguém da minha família me
chamasse não sei se respondia, se por exemplo o meu pai - Menina
talvez o não escutasse ocupada a espreitar o rio da janela, o meu marido a sossegar-
me coitado - Vais curar-te das pedras descansa
eu ainda capaz de sorrir-lhe - Claro que vou curar-me
apertando-lhe um bocadinho o braço - Estou bem