Aero Magazine - Edição 310 (2020-03)

(Antfer) #1

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I


magine-se saindo para um
compromisso importante do
outro lado da cidade. Ao en-
trar em seu carro, percebe que
o marcador de combustível
está defeituoso. O que você faz?
Leva o carro na oficina e cancela
o compromisso? Ou passa em
um posto, enche o tanque e, com
a certeza de que terá autonomia
suficiente, cumpre o que havia pla-
nejado? Se for esse o caso, quantos
dias você vai aguardar antes de
consertar o item com problema?
Agora, e se, em vez do marcador
de combustível, a peça defeituosa
fosse, por exemplo, um farol e
você tivesse de fazer uma viagem
em estrada sem iluminação à
noite? Você iria?
As aeronaves modernas são
projetadas com um alto grau de
confiabilidade e redundância. O

certificado de homologação de
tipo estabelece que todos (sim,
todos) os equipamentos instala-
dos devem estar operando. No
entanto, falhas podem ocorrer
durante a operação normal de
uma aeronave. Atrasar ou cancelar
um voo por conta de um defeito
em algum equipamento represen-
ta um prejuízo considerável para
uma empresa e seus clientes. Por
outro lado, operar uma aeronave
sem que ela esteja em perfeitas
condições de segurança é algo
absolutamente inadmissível.

MANUAIS
Encontrar uma solução que aten-
da aos interesses da empresa sem
prejudicar a segurança é a função
de manuais conhecidos como
MEL (Minimum Equipment List),
CDL (Configuration Deviation
List) e NEF (Non Essential and
Furnishings). Baseado nesses do-
cumentos, o piloto em comando
de uma aeronave irá determinar
se a aeronave está capacitada a
fazer um determinado voo.
Durante a homologação de
uma aeronave, o fabricante ela-
bora a MMEL (Master Minimum
Equipment List), na qual são
listados todos os itens que podem
estar inoperantes, danificados e/ou
ausentes. Nele constam também
os procedimentos operacionais/
limitações e o tempo máximo
de retificação em caso de falhas.
Ao confeccionar a MMEL, o
fabricante leva em consideração
a redundância de um sistema e o
impacto que uma determinada
falha terá na segurança do voo, na
carga de trabalho da tripulação e
na performance da aeronave, bem
como analisa as consequências da
combinação de falhas múltiplas

e/ou críticas. A interação entre
os diversos sistemas da aeronave
é levada em conta de modo a
assegurar que múltiplas falhas não
degradarão a segurança do voo.
A partir disso, um item pode ser
classificado em três tipos:

GO: Permitido o despacho sem
que haja condição ou restrição
para a condução do voo em
segurança.
Exemplo: A aeronave possui
dois conjuntos independentes
de luzes de navegação. Pode ser
despachada caso um deles esteja
inoperante.

GO-IF: Permitido o despacho,
desde que algumas condições
específicas sejam atendidas.
Exemplo: A aeronave pode
ser despachada com ambos os
conjuntos de luzes de navegação
inoperantes desde que esteja
restrita a voos diurnos.

NO-GO: Não é permitido o despacho
da aeronave até que seja
retificada a falha.
Exemplo: falha em um dos
canais do FADEC (Full Authority
Digital Engine Control), que é
o computador que controla a
operação do motor.

Finalmente, uma equipe de pi-
lotos de teste do fabricante analisa
em simulador e na aeronave real o
despacho com o item inoperante.
Em alguns casos, o despacho da
aeronave só será permitido como
”non-revenue”, ou seja, um voo de
traslado ou teste, sem passageiros
pagantes ou transporte remunera-
do de carga a bordo.
A MMEL costuma ser dividida
em quatro ou cinco seções:
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