Aero Magazine - Edição 310 (2020-03)

(Antfer) #1
80 | MAGAZINE^310

entre 1981 e 1987, incentivado
diretamente por seu chefe, abriu
as portas da US Navy para os
estúdios americanos. Seu objetivo
era reapresentar a força naval ao
grande público daquele país. O
custo das tomadas em voo não foi
trivial, mas, segundo ele, tudo foi
arcado com fundos da produtora.
Dois porta-aviões nucleares
dos Estados Unidos participaram
da gravação das cenas no convoo,
o que naturalmente seria algo
muito caro de se fazer sem o apoio
ativo da Marinha. Os principais
atores tiveram a oportunidade de
fazer voos de orientação para que
eles entendessem o que exata-
mente um tripulante sente ao voar
em um caça a jato de altíssima
performance como o F-14. As
realistas e visualmente impressio-
nantes cenas de combate aéreo,
tanto as simuladas como as “reais”,
além dos pousos e decolagens no
porta-aviões, dirigidas milime-
tricamente pelo diretor Tony
Scott, recriaram o paradigma
do tradicional “filme de avião
militar”, tornando-se épicas e
profundamente marcantes.
“O sucesso seguido ao lan-
çamento do filme foi incrível”,
escreveu Lehman em sua auto-
biografia. “O interesse do público
americano pelo treinamento de

voo naval explodiu. As inscrições
rapidamente superaram em 300%
as vagas disponíveis”.

TOP GUN REAL
O atual United States Navy Strike
Fighter Tactics Instructor Program
(SFTI), popularmente conhecido
como Top Gun, ensina táticas e
técnicas de caça e ataque para um
grupo seleto de aviadores que, ao
retornar às suas unidades, passam
a multiplicar seus conhecimen-
tos. O início do Top Gun se deu
na forma da United States Navy
Fighter Weapons School, fundada
em 3 de março de 1969, ainda na
Base Aeronaval californiana de
Miramar, 23 quilômetros ao norte
de San Diego.
No início dos anos 1960, o
entendimento geral nas forças
armadas americanas era de que
seus pilotos deveriam se preparar
para um confronto decisivo contra
os pilotos soviéticos. Os caças da
USAF haveriam de interceptar
bombardeiros nucleares da então
União Soviética (URSS) sobre o
Círculo Polar Ártico e os pilotos
navais defenderiam seus navios-
-aeródromo de bombardeiros de
longo alcance armados com mis-
seis antinavio pesados. O combate
aproximado entre caças armados
de canhões era considerado algo

encerrado nos céus da Coreia,
meia década antes. O futuro
pertencia aos mísseis com alcance
e letalidade cada vez maiores.
A Rolling Thunder – uma
campanha de bombardeio contra
alvos no Vietnã do Norte reali-
zada entre 1965 e 1968 – mos-
trou que essas expectativas não
correspondiam aos fatos. O Top
Gun original da US Navy foi fruto
direto da constatação da perda
de capacidade de combate ar-ar
dos seus pilotos. Nesse período, a
Força Aérea Popular do Vietnã do
Norte, empregando caças conside-
rados inferiores pelos americanos,
conseguiu derrubar um substan-
cial número de caças da Marinha
e da Força Aérea dos EUA.
A premissa por trás do
novo programa sustentava que
os jovens pilotos americanos
experimentassem seus primeiros
combates contra um “inimigo”
realista, operando sob um rígido
controle de interceptação em
terra, ainda que em um cenário
totalmente seguro. Essa experiên-
cia seria representativa do que eles
viriam a experimentar quando
chegassem ao teatro de guerra no
sudeste asiático, aumentando suas
chances de sobreviver e derrotar
os pilotos vietnamitas.
Os bombardeios americanos
ao Vietnã do Norte só foram reto-
mados com a operação Linebacker
II, em 1972. Naquela ocasião, os
pilotos da US Navy obtiveram
um resultado muito superior no
combate ar-ar em comparação
com os pilotos da USAF, que não
cursaram um programa seme-
lhante ao Top Gun. A partir de
1996, a escola foi fundida com
o Naval Strike and Air Warfare
Center, localizado na Naval Air
Station Fallon, em Nevada.

Por questões de
segurança, grande
parte das cenas de
combate foi feita
em computação
gráfica, um recurso
que praticamente
não existia em 1986

Free download pdf