A garota do lago

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Uma ideia. — Kelsey sorriu.
— Você tem cinco minutos, e não toque em nada. — O delegado Ferguson
sentou-se num banco da cozinha, tamborilando os dedos no granito.
Sabendo que a cozinha era a principal cena do crime, e que todas as provas
teriam sido cuidadosamente coletadas dali, Kelsey seguiu por um corredor e
chegou a uma sala de lazer. O lugar era constituído por uma mesa, uma cadeira e
uma parede com estantes de livros. Ao contrário da cozinha e da sala, aquele
recinto estava imaculado e intocado. Contra as ordens, ela, em silêncio, abriu
gavetas e manuseou o conteúdo das estantes.
Em seguida, no andar superior, Kelsey entrou em cada um dos três quartos.
Passou o maior tempo no aposento de Becca. Primeiro, verificou a mesa de
cabeceira e, em seguida, olhou debaixo do colchão. Encontrou o closet quase
vazio, com o armário sem nada de valor. Passados cinco minutos, ela afastou
uma mecha de cabelo do rosto e percorreu com o olhar o ambiente. O quarto
silencioso de uma garota morta, que jamais voltaria a usar nada das coisas
situadas na penteadeira, nas gavetas ou nas prateleiras. Finalmente, Kelsey
voltou para o andar inferior.
— Achou o que procurava? — o delegado Ferguson perguntou quando ela se
aproximou.
— Não.
— Bagunçou as gavetas e os armários que eu disse para você não tocar?
— Também não.
— Vamos embora antes que eu perca meu emprego.
Os dois saíram, e o delegado Ferguson trancou a casa. Eles começaram a
caminhar pelo cais.
— Muito bem, mocinha, qual é a novidade que você tem para me contar?
— Eu sei o segredo de Becca — Kelsey disse, sem parar de andar.
O delegado voltou a tragar seu cigarro, fazendo certo ar de espanto. Tirou o
cigarro da boca e disse:
— Qual é?
— Ela fugiu para se casar. Casou-se sem que seus pais soubessem.
Refletindo a respeito, o delegado deu outra tragada. Olhou para as montanhas,
e Kelsey percebeu que a mente dele trabalhava. Aquele era um detetive que tinha
um caso não solucionado, que o atormentava sem cessar, pedindo uma solução.
Quando ele tirou o cigarro da boca, a fumaça escapou pelo lábio superior e
entrou pelas narinas. Kelsey achou que aquilo podia ser uma nova definição para
fumante passivo, e sentiu vontade de dizer ao grande detetive que, se a primeira
inalação não matava, a segunda talvez conseguisse. Em vez disso, ela afastou a
fumaça fedorenta do rosto com um gesto de mão.

Free download pdf