café através da janela. Rae acendeu uma luminária de chão perto da lareira, o
que banhou as cadeiras de couro com luz castanho-avermelhada. Ela pôs lenha
na lareira e a acendeu. Quando Rae e Kelsey se sentaram nas cadeiras, as toras
resistiam às chamas com ruídos sonoros de rachadura.
— Bem, se não é um homem, por que você não consegue dormir, Kelsey?
— Porque Becca Eckersley está me mantendo acordada à noite.
— Sério? Isso é arrepiante.
— Sou desse jeito. Uma vez que um caso me fisga, só consigo pensar nele. E
as coisas que descobri sobre esse caso estão fazendo minha mente viajar a
duzentos quilômetros por hora. E não consigo parar...
— Parar o quê?
— Não sei... Parar de pensar a respeito de vida e morte e como tudo pode ser
tirado de nós tão rápido.
Rae encarou Kelsey, lendo sua expressão.
— Esse caso a fez pensar em tudo isso?
— Fez.
— Me diga o que está acontecendo com você.
Kelsey fez uma cara engraçada.
— Pare — Rae pediu. — Li tudo que você já escreveu. Seus dois livros e
todos os seus artigos, que incluem muitos homicídios. No ano passado, você
escreveu sobre o desaparecimento de um menino de seis anos, que acabou muito
mal. E também sobre o maluco da Flórida que fez a filha cheirar clorofórmio, a
matou acidentalmente de overdose e, depois, a enterrou a um quilômetro de
distância de casa. Assim, não venha me dizer que você não consegue lidar com o
fato de vir a uma cidadezinha e escrever a respeito da morte de uma estudante de
direito. Isso não me convence. Então, o que há? Por que está tão incomodada
com esse caso?
Kelsey tomou um gole de café. Era estranho como as pessoas podiam
conhecê-la tão bem por meio de seus textos.
— Você já pensou em ser psicóloga?
— Nunca. Fale.
Kelsey não tinha certeza de por que queria falar para aquela garota das coisas
que a estavam incomodando. Ou por que, apesar de mal conhecê-la, sentia que
podia confiar nela. Não era capaz de explicar o motivo pelo qual se achava
prestes a revelar para aquela jovem algo que se recusara a revelar para o
psicólogo. Mas havia algo em relação a Rae... Um carisma que fazia Kelsey se
sentir à vontade. Assim, respirou fundo.
— Fui até a palafita ontem.
— A dos Eckersley? — Rae apontou o lago pela janela.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1