A garota do lago

(Carla ScalaEjcveS) #1

— De verdade desta vez.
— Sem dúvida.
— Eles vão ter um treco.
— Ah, vão sim! Eles têm o direito de ter um treco. Fomos idiotas. Mas sabe o
quê? Eles vão superar isso, porque em poucos meses ganharão um neto que vão
amar. E, depois de algum tempo, todos nós iremos nos esquecer de como
lidamos com isso. Deixe-me falar com Ward e eu ligo para você de volta. Não
diga nada aos seus pais sem mim.
— Tudo bem.
— Prometa — Jack pediu.
Becca permaneceu em silêncio.
— Prometa que não dirá nada aos seus pais até nos vermos.
— Prometo, Jack — Becca finalmente disse. — Não falarei com meus pais.
— Eu te amo.
— Também te amo, Jack.
Ela desligou o celular, imaginando-se sentada na sala de estar dos Eckersley,
contando-lhes que se casou em segredo, que eles logo seriam avós e que ela
talvez não terminasse a pós-graduação.
Fez um gesto negativo com a cabeça e enxugou as lágrimas do rosto. Depois
que o motor do carro esquentou, Becca partiu para seu apartamento em Foggy
Bottom.
Com uma bolsa avantajada pendurada no ombro e um saco de batatas fritas na
mão, ela saiu do carro. Eram quase seis da tarde, e, nos dias de inverno, a
escuridão tomava conta da cidade antes das cinco. Becca andou rápido pelo
estacionamento, sob a incandescência amarelada da luz, enfrentando um vento
contrário muito incômodo. Teve dificuldade de enfiar a chave na fechadura por
causa dos dedos congelados. A maneira frenética como se afastou do automóvel
e, naquele momento, brigava com a fechadura despertou nela um senso de
urgência e medo.
Também havia outra coisa: uma sensação estranha da presença de outra
pessoa. Tudo isso passou pela mente de Becca no instante que foi necessário
para ela conseguir abrir a porta. Por fim, conseguiu e, às pressas, fechou-a atrás
de si, trancando-a imediatamente.
Becca deixou cair a bolsa no piso da cozinha e jogou o pacote de batatas fritas
na mesa, passando a mão pelo rosto congelado e enxugando as lágrimas que a
noite fria trouxe aos seus olhos. Suas mãos estavam trêmulas por causa do
pânico relativo à abertura da porta do apartamento.
— Você está perdendo o controle — Becca disse para si, em voz alta.
Ela observou através do olho mágico e viu a noite escura.

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