CHARLOTTE

(Casulo21 Produções) #1

Assim, Bernadete connuava caminhando solitária pelo quarto, sem rumo,
devagar, ainda senndo a dor do corte, ainda senndo a dor do susto. Acabara de
se tornar mãe pela segunda vez, uma sensação mágica que ela explica com uma
lição aprendida na infância, durante as aulas de religião: só os pequeninos
pertencem ao reino do meu pai. "Quando tu tens um filho, e em outras grandes
circunstâncias, tu te tornas uma pequena criancinha. A alegria é tanta, o misto de
emoções é tamanho, que tu choras de alegria, tu choras de tristeza porque
alguma coisa saiu de dentro de , não vai mais estar ali. Tu te sentes uma criança."
Como uma criança, diante daquela situação, Bernadete voltou a uma
longínqua cena gravada na memória. Uma grande decepção, como a que estava
senndo agora, vivida aos cinco anos de idade, numa noite de Natal. A família
toda estava em volta da árvore para abrir os presentes e a boneca que a menina
tanto queria chegou. Ela abriu a caixa e a boneca estava quebrada.
Tantos anos depois, a Bernadete mãe ainda não sabia ao certo o que havia
acontecido com sua boneca viva. As horas passavam e ninguém aparecia para lhe
dar um diagnósco. Os médicos fugiam. Nem mesmo eles teriam todas as
respostas que ela certamente exigiria. E ela queria saber. Enquanto aguardava, os
pensamentos embaralhados começavam a formular explicações. “Por que não
abriu os olhos? É cega? Acho que é cega..." Sua mente tentava camuflar a situação
sobre aquela criança que, na realidade, podia enxergar tudo. A mãe adulta queria
tapear a criancinha que estava se dando conta do cruel momento.
A busca pelo obstetra e pelo pediatra foi incessante e inúl. Todos se diziam
ocupados, atendendo a outros pacientes. E as horas se arrastavam. A menina já
viera para o quarto decorado para sua chegada, todo em amarelo. Só que, ao ser
colocada no colo materno, tratava com absoluta indiferença o abundante leite
oferecido. Charloe não nha forças para sugar o alimento do seio da mãe por
causa da debilidade nos músculos bucais. Prontamente, Bernadete pediu à

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