CHARLOTTE

(Casulo21 Produções) #1

eu te peço perdão por não entender esse tempo que pra mim é tão pouco mas
talvez pra seja tão grandioso".
As noites eram tranquilas. Charloe dormia num bercinho ao lado da cama
da mãe. Não chorava. Produzia de quando em vez um miado agudo, fraco, quase
mudo.
Bernadete, ao contrário da maioria das mães de recém-nascidos, não
acordava de madrugada. Ela nem dormia. O medo era o causador da insônia. A
menina nha frequentes crises de apneia, uma suspensão da respiração, causada
pela falta de mobilidade sica. Os pulmões não nham forças para levar energia
ao cérebro. O coração também dava paradas durante a noite e a mãe, num gesto
desesperado, segurava a criança de cabeça para baixo, ávida, procurando a vida:
"O amor era tanto que me dava a sensação de que podia salvá-la, mas era a vida
se manifestando e me dando possibilidades de entender essa manifestação. Eu
nha a pretensão de achar que era eu que trazia ela de volta".
A intuição dessa mulher estava novamente certa. Segurando a filha naquela
posição, fazendo o sangue chegar à cabeça, ela proporcionava melhor irrigação
para o pequeno cérebro deficiente.
Outros esmulos foram feitos com base nas lições de anatomia, das
quando a jovem sonhadora se preparava para ser massoterapeuta, profissão
abandonada desde o nascimento de Charloe. A razão agora dominava suas
ideias. Se aquele rim, aquele coração, e os ossos estavam com dificuldade, e se
aquele corpo começasse a mover-se, seria óbvio que essa mobilidade sica iria
ajudar os rins, a grande circulação, as arculações.
Mas era preciso fazer mais, buscar especialistas.
Os portadores da síndrome de Down apresentam, além das caracteríscas
sicas evidentes, problemas nos órgãos e sistemas do organismo. O retardamento
mental é a principal delas e ocorre porque, provavelmente, há uma interferência

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