CHARLOTTE

(Casulo21 Produções) #1

As semanas de Charloe começaram a ficar cheias. Sete dias pareciam não
ser o bastante para tanto trabalho: três idas ao consultório de fisioterapia, outras
três ao de fonoaudiologia, terapia ocupacional em Itajaí por duas manhãs,
incluindo sábados e domingos.
Elaine Przysiezny, a fisioterapeuta, jamais nha do contato com uma
criança portadora da síndrome de Down. Para ela também tudo era novidade: "Só
posso mexer nela com o respaldo do ortopedista. Preciso que ele me autorize."



  • Eu sou a mãe, eu estou te autorizando.

  • Não, só com exame ortopédico.
    Bernadete dava-se conta de que não estava sozinha: "Éramos um batalhão
    de soldados medrosos , por falta de uma abertura chamada coração. O mais
    importante era ter coragem para admir, como fez a Dra. Elaine, me dizendo que
    não sabia o que fazer. Eu falei pra ela que íamos aprender juntas".
    Charloe estava sobrevivendo às primeiras semanas. Lentamente
    desenvolvia suas percepções. Qualquer pequeno avanço era uma grande vitória:
    "Para se conseguir algo é preciso ser como os militares. Eles têm disciplina." A
    mãe-general jamais descansava.
    A sala de espera nunca era lugar de esperar. Enquanto não entrava no
    consultório, ficava sentada, conversando com outro paciente ou lendo uma
    revista, segurando a filha pelas pernas, de cabeça para baixo. Quando não fazia
    irrigação no cérebro, Bernadete esmulava a visão ou o tato do bebê, ou aplicava
    uma técnica chamada reflexologia, que consiste em massagens nos meridianos da
    planta do pé correspondentes a todas as partes do corpo, principalmente o
    cérebro e a coluna.

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