CHARLOTTE

(Casulo21 Produções) #1

circo. Era gente entrando a todo o momento, pais de crianças nascidas diferentes,
que ouviram falar dessa mulher que fazia coisas estranhas com o corpo de sua
filha. E que estavam dando certo.
Além dos esforços dos médicos, Charloe podia contar com o auxílio,
mesmo inconsciente, de um primo de mesma idade. Tiago era deixado na casa de
Bernadete, a pedido dela, para servir de espelho à filha. O choro e o riso do
menino eram gravados e serviam de acalanto na espera do sono. As mãozinhas
dele eram colocadas junto às dela e, à medida que a mão normal se movia, a de
Charloe também fazia menção de movimento. As arculações tentavam copiar
os mesmos desenhos no ar feitos pelo priminho.
A companhia de uma criança da mesma idade, com desenvolvimento sico
e mental normal, contribui muito na evolução da criança especial. Sabendo disso,
Bernadete, logo na semana seguinte ao nascimento de Charloe, desejou
engravidar novamente. Chamaram-na de louca. O único impedimento, o que a
obrigou a mudar de ideia, foi o fato de ter feito, durante a cesariana, uma
laqueadura. Arrependeu-se. Quis ser mãe novamente um ano, dez meses, dez
anos depois. "Se eu não vesse laqueado teria um filho até mesmo hoje, com
mais de 50 anos. Se eu engravidasse agora, sendo mãe da Charloe, eu não raria
o bebê, viesse do jeito que fosse."
Mas, naqueles dias, os comentários na cidade connuavam e a falta de
informação ainda era um grande vácuo para a diminuição do preconceito. No
jardim de infância, Rudy ouvia a professora explicar, com pouco jeito, o que era
uma criança especial. Ele já compreendia o que havia acontecido em casa. Era Dia
do Excepcional e o assunto foi comentado na sala de aula. Em meio às cores de giz
de cera espalhadas nos desenhos da parede, Rudy levantou-se, subiu numa
cadeirinha e disse: "Eu pedi uma irmãzinha e ganhei. O nome dela é Charloe e

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