A cidade era enorme. O apartamento que dividia com uma a, irmã de seu
pai, minúsculo. A mãe, que ficara em Brusque com outros nove filhos - sendo
apenas um do primeiro casamento - antes da par da aconselhou a primogênita:
"A par r desse dia tu terás que ser o teu pai, a tua mãe e a tua melhor amiga. Vai
com Deus, minha filha."
A vida agora era cinza. Muita disciplina, muita responsabilidade. Antes de a
a morrer a mocinha já estava empregada numa livraria, durante o período da
tarde, quando não ia ao colégio. Mãos desajeitadas embrulhavam os livros.
Depois, em ateliês de costureiros famosos, Bernadete atendia às clientes,
servia café, oferecia sorrisos. Vez ou outra se pegava a admirar as finas mãos das
madames. As suas, maltratadas, ainda traziam as marcas dos anos de dura lida.
Antes dos vinte anos, já sem a a, morando em outro apartamento,
dividindo o aluguel com meninas que, como ela, nham vindo a São Paulo para
vencer na vida, a garota sen a-se responsável pelo futuro e bem-estar dos irmãos.
Precisava ganhar mais.
Começou a trabalhar na Pró-Mater, conceituada maternidade da Avenida
Paulista, levando bebês do berçário para o quarto de suas mães. Depois foi para a
Santa Casa de Misericórdia. As contas do armazém eram sempre altas e vinham
mensalmente para ela pagar. Jamais se esquecia da mãe e dos irmãos.
Foi nessa época, já estudando esté ca, que descobriu o poder de suas
mãos. Foram seis anos de curso desvendando os mistérios do corpo humano, cada
osso, cada órgão. Mesmo antes de formada, Bernadete já atendia na casa das
pessoas: "Fazia massagem capilar nos homens ricos que não queriam ficar calvos.
Eu jurava que ia nascer cabelo. Jurava que podia rar celulite. Mágica! E por isso
eu peço muito perdão ao universo..."
casulo21 produções
(Casulo21 Produções)
#1