CHARLOTTE

(Casulo21 Produções) #1

O primeiro inverno de Charloe chegara ao fim. As mãos de sua mãe
recebiam de uma cliente recém-chegada de São Paulo outro livro que faria a
grande mudança: O Mongolismo, escrito pelo cirurgião-oalmologista Raymundo
Véras.
Naquela manhã Bernadete desmarcara todas as clientes. Não trabalhara o
corpinho da filha. Devorara vorazmente todas as páginas. "Vi que era possível. O
livro dizia que a boa mobilidade aliada à boa visão, audição, linguagem
verbalizada e ao desenvolvimento da inteligência do tato levava à competência
manual, o suprassumo da inteligência humana. A minha filha poderia um dia
segurar um lápis e escrever! Decidi, então: Vamos para o Rio de Janeiro."
O método, na verdade, vinha da Filadélfia, Estados Unidos, e chegara ao
Brasil através do Dr. Véras. O filho dele, José Carlos, nha passado da condição de
tetraplégico para paraplégico depois do tratamento na cidade norte-americana.
Fora um menino normal até os catorze anos quando, num fadico mergulho ao
mar, perdeu os movimentos do pescoço para baixo. Seu pai foi buscar soluções
nos Estados Unidos. Encontrou o Centro de Reabilitação de Filadélfia.
O ano é 1957 e, ao internar o filho na instuição americana, Raymundo
Véras conhece Temple Fay, considerado o decano dos neurocirurgiões e
respeitado como gênio. Toda a sua pesquisa, muitas vezes causadora de
controvérsias no meio médico, se embasava numa descoberta sobre lesão
medular. Segundo ele, a medula espinhal, responsável pelos movimentos do
corpo, quase nunca fica totalmente cortada, ou seja, raramente os paralícos são
completamente destuídos de sensações.

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