CHARLOTTE

(Casulo21 Produções) #1

Foram três anos frequentando o Jardim de Infância do Sesi. O trabalho de
reorganização neurológica connuava paralelamente, acompanhado pela equipe
do Dr. Veras, no Rio de Janeiro.
Charloe já nha avançado muito. Andava de bicicleta, brincava no parque,
dançava. Fazia pracamente tudo como as outras crianças. Só não falava ainda.
O atraso na aquisição da fala é um dos maiores problemas das crianças
nascidas com síndrome de Down. A hipotonia muscular causa desequilíbrio nas
forças dos músculos orais e faciais, alterando a arcada dentária e o maxilar e
fazendo com que a língua assuma uma posição inadequada. A respiração
incorreta, feita pela boca, além de deixar a criança exposta a infecções, altera o
palato e dificulta a arculação dos sons. O retardo mental complica a
memorização da sequência de sons e a linguagem.
Comumente, um portador da síndrome de Down começa a falar por volta
dos dois anos de idade. Charloe demorou muito mais, falou aos sete anos. A
primeira palavra emida não poderia ter sido outra: mamãe.
Quando Bernadete ouviu o som que, para ela, soou como a oitava sinfonia
de Beethoven, a filha já estudava a primeira série do primário.
O ingresso em outro colégio, longe de casa, aconteceu por sugestão do Dr.
Veras. Para ele, o Sesi já era um lar onde Charloe nha regalias, estava
superprotegida. Todos os funcionários a conheciam, cuidavam dela. Lá ela não era
tratada como uma criança normal.
O colégio Honório Miranda era um mundo totalmente estranho. O caminho
diário até lá era feito a pé, acompanhada pelo irmão. Charloe não entendia por
que precisava andar, carregando a mochila nas costas, até em dias chuvosos,

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