Aquele era mais um dia de sol. Eu estava na escola, esperando a chegada de
Bernadete e sua filha. Até o momento nha conversado poucas vezes com
Charlo e. Conhecia sua vida e mal a conhecia.
Fiquei olhando fotos. Um álbum trazia a menina em vários ângulos, fazendo
caras e bocas, posando de modelo. Em outro revelava-se o mo vo pelo qual
Charlo e envia cartas todos os meses para Porto Alegre: um namorado. O nome
dele é Guilherme e tem em comum com ela o sen mento de carinho e a síndrome
de Down.
Interrompendo meu deleite o telefone tocou. Bernadete pedia que a
acompanhasse, junto com Charlo e, à cabeleireira. Fora convidada, às pressas,
para ministrar uma palestra naquela tarde e a vaidade a levava naquele momento
a retocar o dourado dos cabelos.
O encontro aconteceu perto dali, entre a escola e a casa delas,
pra camente em frente ao Sesi. O salão de beleza frequentado há anos ficava a
duas quadras e, por isso, prosseguimos a pé. Charlo e ia na frente, pedalando.
Nós duas seguíamos logo atrás a conversar. De repente a observação: "Já viu
alguém com síndrome de Down andar de bicicleta?"
Respondi que, realmente, nunca, o que talvez fosse falta de atenção minha.
"Não é por isso. É que eles não andam de bicicleta, ou melhor, dizem que eles não
andam de bicicleta". Mesmo com esta vitória, conseguida após longos
treinamentos, Charlo e tem de estar acompanhada por alguém ao fazer essa
a vidade. Bernadete me explicou que o campo de visão de portadores da
trissomia do 21 é reduzido, eles só veem com clareza o que está a pelo menos
cinco metros de distância.
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(Casulo21 Produções)
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