Talvez este momento, após pelo menos 25 anos da retomada da contação de
histórias como prática cotidiana em teatros, escolas e comunidades, com a
realização de muitas conversas, seminários, publicações de artigos e livros, é
possível que os contadores possam se olhar, se identificar e se reconhecer como
iguais, porém com processos e propósitos diferentes.
O perfil do novo contador invariavelmente não foi construído pela força da
coletividade ou pelo hábito de ouvir histórias de pais, avós ou mestres do saber de
sua aldeia. Comumente, ele descobre-se por um impulso criativo, uma afinidade,
uma análise vocacional. Busca aperfeiçoamento, estudo, sente necessidade de dar
base teórica ao seu fazer. E na construção de seu repertório tem como fonte principal
os livros. Em páginas escritas, além dos textos autorais criados para serem
literatura, estão os registros de narrativas advindas da oralidade, recolhidas,
recontadas e que, ao serem eleitas pelos contadores retornam ao seu estado original,
que é a palavra dita.
O contador contemporâneo não sai pelo mundo a ouvir e memorizar
histórias, e tampouco é representado por aquele que conta sua comunidade, sua
cultura, seu lugar, como ilustrou Walter Benjamin usando as figuras do marinheiro
e do camponês. Na sociedade da imagem e do espetáculo o contador é o freguês de
biblioteca, sebo, livraria.
O processo que ocorre entre a seleção do conto e sua narração ao público é
elaborado conscientemente, calcado em técnicas, com respeito à via dupla existente
nesse contato. De um lado tem-se o texto e seus elementos, lavrado pela rigidez
física da palavra escrita, e tudo o que ele propõe. De outro há a vivência do narrador,
sua criação, interpretação. Ou seja: existe o algodão recém-colhido e a mão do
fiandeiro. O que varia entre os fios que serão produzidos depende da habilidade do
artesão, suas escolhas e as condições técnicas para aquele trabalho.
O novelo – resultado de um processo em constante desenvolvimento – é a
performance. Nela está a união de conteúdo (o que se conta) e forma (como se
conta). Na busca por uma expressão em língua portuguesa que designe a contação
de histórias praticada desta forma, tem-se usado o termo “narração artística”.
Usando técnicas recorrentes de outras artes, como a música, o teatro de
bonecos, a projeção de imagens ou a dança, a contação de histórias firma-se como