Lieza é mulher de trama. De rede, tela e teia. Quem a conhece de perto sabe que está
sempre pronta para tecer, unir, remendar. Em seu enredo, as ideias não fazem nós. Pelo
contrário, Lieza os desata de forma sutil, poética, alegre e sagaz. Na teia da “mulher-
aranha”, quem “cai”, repousa. Ali, embrenhadas, vamos nos envolvendo e nos deixando
levar com suas histórias, seu olhar, voz e semblante penetrantes. Lieza é da cor, da rima,
da dança, do som, do riso, do olho no olho, da ação, da perspicácia, do agora. E é justo
agora que Lieza nos presenteia com este livro. Nele, a contadora de histórias revela com
grande generosidade seus processos de concepção e criação, bem como traz reflexões
sobre a performance do contador de histórias contemporâneo. Enquanto artista e
contadora de histórias, partilho das mesmas opiniões de Lieza no que se refere ao modo
de preparar minhas narrações e de encarar nosso ofício. É de extrema importância que
nós, contadores de histórias, estejamos juntos e em concordância. Nesse sentido, Lieza
nos dá abertura para, ao ler este livro, pensar junto, alinhavando fios variados, de todas as
cores e texturas. Precisamos tecer mais sobre a narração de histórias enquanto arte
performática, que muitas vezes exige preparo, leitura, ensaio, experimentação, repetição,
troca. A palavra viva borda muitas histórias. E enquanto essas histórias (que também
podem ser as histórias das histórias) forem partilhadas, teremos muito “pano pra manga”.
Na troca de experiências é que nos fortalecemos enquanto coletivo, bando, aldeia,
família. Lieza é da alcateia. Por isso nos presenteia com este livro e nos convida a sentar,
passar o café, colocar a broa de milho no forno, tecer, relaxar e partilhar. Lieza é mulher
da trama, da partilha e da matilha.
Aline Maciel, contadora de histórias