Linhas e Tramas

(Casulo21 Produções) #1

balaio de linhas


No princípio era o nada. Depois veio o verbo e, com ele, tudo o que existe
e que é imaginado. A palavra que conta, que aquece, que provoca e aguça os
sentidos. Instrumento de trabalho para professores, pesquisadores, jornalistas,
historiadores e artistas, ou seja, contadores de histórias, a matéria-palavra vira
registro ou som e pode ser moldada de infinitas formas.
Existe ainda uma intersecção entre palavra escrita e falada, onde bebe o
contador de histórias moderno que busca incansavelmente a dose certa, a que se
adequa ao seu perfil, a que atinge melhor o público.
Tradicionalmente nascida e preservada na oralidade, a atividade de narrar
contos nos dias de hoje quase sempre se relaciona com os registros literários. Há
escassez de possibilidades de se assistir alguém contando histórias ao vivo, olho no
olho. Nas casas e comunidades – locais que sempre foram redutos de troca de
histórias, principalmente dos mais velhos aos jovens, como manutenção de
tradições e difusão de ensinamentos – predominam hábitos da era globalizada,
reunindo as famílias em frente aos televisores ou segregando-as em aparelhos
individuais de comunicação e entretenimento.
Na contramão estão algumas iniciativas recentes que procuram resgatar a
tradição milenar da contação de histórias e ao mesmo tempo construir uma nova
linguagem artística, tão peculiar em especificidades, que tem merecido estudos e
vem abrindo caminhos próprios. Desse hibridismo nasce a base de formação do que
tem-se chamado de “novo contador” ou “contador contemporâneo”. Este,
reverencia e perpetua a ação da tradição, mas a recria em busca de uma categoria
que, pela gama de opções de técnicas e suportes, torna-se múltipla. Assim,
aparecem inúmeras formas de contar histórias.
Este tempo que abarca simultaneamente a atuação dos contadores
tradicionais e dos contemporâneos leva, por parte de ambos quando se conhecem,
a indagações sobre sua identidade. Sempre parece que o fazer do outro é mais
genuíno, rico. Se por um lado os narradores artísticos buscam a apropriação que o
tradicional possui com naturalidade, os tradicionais almejam a desenvoltura e
beleza artística dos que encenam as histórias.

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