Revista Agilize

(Gabriel AmorimjpWIKH) #1

O Coletivo Wakonã, forma-
do por jovens da comunidade
Serra do Capela, Xukuru Kariri,
de Palmeira dos Índios, está
perto de lançar seu primeiro
longa-metragem documental.
O coletivo existe há pouco
mais de dois anos, mas as ativi-
dades estão em polvorosa, so-
bretudo, no investimento de
fotografias e videografia. Nas
palavras de Jaracinã Wakonã,
líder do coletivo, ele foi criado
para dar visibilidade a própria
história da comunidade, que so-
fria com ao ter seu protagonis-
mo deixado de lado.
“A partir de nossos jovens,
principalmente, nossa missão é
fazer registros de nossas histó-
rias. A princípio, a partir do
conhecimento de nossos mais
velhos. E também falar da im-
portância da comunidade como
um todo – o turismo, o artesa-
nato, a agricultura, nossa luta
diária e tudo o que envolve o
nosso cotidiano", disse.
Jaracinã Celestino Gomes da
Silva, de 38 anos, natural e resi-
dente de Palmeira dos Índios, é
professora da educação básica,
formada em Ciências Sociais, e
diz que foi na universidade que
despertou para a relevância de
um trabalho em sua comuni-
dade, onde os próprios indíge-
nas poderiam, finalmente, as-
sumir os papéis de protagonistas
das novas produções cinemato-
gráficas.


Isso porque as pessoas da co-
munidade se dizem cansadas de
serem objetos de pesquisas de
não indígenas e sequer terem
acesso ao trabalho elaborado
sobre suas vivências, especial-
mente, sobre a captação de ima-
gens, sejam em fotografias ou
vídeos. Quando precisavam de
registros, quase não havia acervo
à disposição. E, contraditoria-
mente, cediam esses registros
para pessoas que não pertencem
à sua comunidade.
Ela afirma que foi através do
olhar acadêmico que modificou
seu olhar sobre a própria identi-
dade. Assim, surgiu o desejo em
promover algo que expandisse
essa percepção a outras pessoas:
um olhar de reconhecimento de
seus valores, de que são elas pró-
prias transmissoras de seus
saberes. "É essencial não deixar
que ou-tros venham para contar
a nossa própria história", com-
plementa.
Há vários projetos, dois espe-
cificamente já estão próximos de
serem lançados, mas a diretora
disse que ainda preferiria manter
o sigilo. Ambos já fechados, mas
aguardando submissão em edi-
tais.
O Coletivo Wakonã investe
em produções fílmicas, onde são
trabalhadas no formato de ofici-
nas de audiovisual para os jovens
da própria comunidade e tem na
fotografia seu carro-chefe – em
breve, sairá uma exposição.

Os Wakonãs

Os registros das primeiras ma-
nifestações do audiovisual em
Alagoas datam da segunda
década do século 20, sob a in-
fluência do imigrante italiano
Guilherme Rogato.

Somente na década seguinte,
com a produção cinematográ-
fica Um Bravo do Nordeste, é
que se registra oficialmente o
primeiro longa do gênero no
estado - curiosamente, por um
pernambucano. E foi só anos
depois, em 1967, que um dire-
tor genuinamente alagoano,
José Wanderley Lopes, produ-
ziu um filme. No setor audiovi-
sual a presença dos povos ori-
ginários se deu tardiamente.

Em 1986, o projeto Vídeos nas
Aldeias marca o início da pro-
dução audiovisual indígena no
Brasil, com mais de oito mil
horas de filmagens, incluindo
mais de 40 povos originários.
Esse importante projeto foi
assinado pelo documentarista
Vincent Carelli e sua esposa, a
antropóloga Virgínia Valadão.

Com a chegada das imagens
em movimento, momentos de-
pois na história, o indígena
passou a ser retratado como
figura exótica, mesmo que es-
tereotipado. Assim, inicia-se,
ainda que lentamente, um pro-
cesso de visibilidade que vinha
sendo negado até então.

Um pouco de história
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