Sexta-feira,3deabrilde2020 |Valor| 21
Técnicoem pesquisas
como SARS-Cov-2,
na Universidadede
HongKong: cientistas
aindatentam
entenderpor que o
vírusque causaa
doençacovid-19 é tão
eficaz
uma memória imunológicacapaz de comba-
ter o invasor em um eventualsegundo round
—ouseja,emumanovacontaminação.“Essas
‘memórias’podem variarbastante”, observa
Cabral,doIncor.“Éporissoqueasvacinastêm
diferentesprazosde validade.”Aagravanteé
que,somente essa etapa do processo,ade
criação da “lembrança viral”, podedemorar
entreseismesesecincoanos.
Mas estes não são tempos normais. Há
umaguerra globalem curso contrauma
pandemia. O tempo é um fator determinante
nas batalhas—edefinea quantidade de bai-
xas que elas provocam.Não por acaso, a Or-
ganizaçãoMundial da Saúde(OMS)estima
que existamdezenas de estudos de imuni-
zantes contrao novocoronavírusem anda-
mento no mundo. Só alista das açõesmais
promissoras inclui perto de 40 nomes de em-
presas einstitutosdepesquisa. Ealgumas
dessas alternativas soamformidáveis. A Mo-
derna,uma empresacom sede em Cambrid-
ge, Massachusetts, nos EstadosUnidos, ea
CanSino Biologics, de Tianjin,no Nordeste
da China,oferecem exemplosdesse tipo.
Em um ritmosem precedentes, ambasini-
ciaramtestesem sereshumanosde uma vaci-
na contraacovid-19háduas semanas. Consi-
dere que o início desse tipode procedimento
demorou20 mesesno caso da Sars. Jennifer
Haller, de 43 anos, de Seattle, foi aprimeira
voluntária americana a receber uma dose do
experimento. Na ocasião,ela afirmouestar
“orgulhosa” e“grata” por participarda inicia-
tiva. Jennifer,funcionária de umapequena
empresade tecnologia, soubedo estudo por
meio de umapostagem no Facebook.Nos
EUA,45 pessoas (de 18 a 55 anos)receberão
duas doses do protótipo. Na China,serão ava-
liados108indivíduos(de18a60anos).
Tanto a Modernacomoa CanSino que-
braramrecordes de velocidadeporqueen-
veredaram por atalhostecnológicos.AMo-
dernautilizao ácidoribonucleicomensa-
geiro(mRNA)comobasedo processode
imunização. “Na prática,essa plataforma
faz com que a maquinariada própriacélula
produzaa proteína que combateráo inva-
sor”, explicaCabral,do Incor. A CanSino
adotaumaestratégia baseadano adenoví-
rus humanotipo 5 (que causainfecções res-
piratóriasepneumonia).Éelequecriaares-
postaimunológicacontraoSARS-Cov-2.
Para ganhartempo, aModernanemse-
quer usouum fragmentofísico do víruspa-
ra criar seu protótipo, oque seriao normal.
Ela fez tudoapenas com base na sequência
genéticade partedo novocoronavírus,en-
quantoele aindaproliferava em Wuhan, na
China.Apartir daí, em 42 dias,aempresa
enviou as primeirasamostras de testespara
oInstituto Nacional de Saúde(NIH,na sigla
em inglês),a agênciagovernamentalde
pesquisabiomédicadosEUA.
Comoa companhiajá havia feito pelo me-
nos novevacinas experimentais dessamanei-
ra contraoutras doenças,ela também adap-
tou oprocesso de fabricação ànova ameaça.
Comose diz, somente substituiu osoftware
em um computador já existente. “Ela trocou a
informação”, afirma Astray, do Butantan.
“Nãoprecisoufazerumnovohardware.”
Os pesquisadores observamque tudoisso
dá segurança epotencial ao modelo, masas
expectativas devemser moderadas.Embora
as duas companhiastenham largadona fren-
te,nãohágarantiasdequecruzarãoalinhade
chegada.Nenhumavacinaqueempregaatec-
nologiade mRNA, por exemplo, está no mer-
cado.Sua eficiêncianuncafoicomprovada.
Aindaassim,as ações da empresa americana
valorizaram quase30% na Nasdaq,abolsa de
empresasde tecnologia,em NovaYork, em fe-
vereiro. No início destasemana, o governo
TrumpanunciouqueinvestiráUS$1bilhãona
Moderna enaJohnson&Johnson, uma entre
as gigantes globais que participada corrida
para desenvolver um sistemade imunização
contraacovid-19.
No Brasil,a equipedo Incortambémem-
pregaumasoluçãoinovadoraparadesen-
volversua versãoda vacina.O modeloestá
baseadoem partículas semelhantesa vírus
(VLPs,na siglaem inglês).Elas são estrutu-
ras multiproteicascom característicassimi-
laresàs do vírusagressor.Por isso, são reco-
nhecidascomoinimigaspelascélulasdo
sistemaimunológico. “A vantageméque as
VLPssãosegurasenãoprovocamefeitosco-
laterais”, afirmaGustavo Cabral, um dos lí-
deresdo projeto. Os testesem animaisde-
vemcomeçarnospróximosmeses.
A premênciade tempofez com que a ciên-
ciaapostassepesadoemumasegundagrande
rota para tiraromundo da crise.Nesse caso,
trata-se da tentativade encontrarmedica-
mentosquepossamcombater—ouaomenos
PAULYEUNG/BLOOMBERG
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