National Geographic - Portugal - Edição 229 (2020-04)

(Antfer) #1
OCAMINHOPARA 2070 11

sorte, o preço por watt da energia solar atingiria
30 cêntimos em 2030. Esse preço será atingido
em 2020. “Estávamos completamente errados”,
afirmou Keith recentemente. “A energia solar ba-
rata é real. É impressionante.”
À despedida de Ben New, pensei na rapidez
com que a mudança tecnológica poderá ser al-
cançada nos EUA, lembrando o progresso dos
telefones inteligentes e das redes sociais e a
recente expansão, num punhado de anos, dos
substitutos vegetais da carne nos estabeleci-
mentos de hambúrgueres deste país de consu-
midores de carne de vaca.
Nessa noite, eu e David entrámos no Mojave
Air and Space Port, uma unidade de ensaios
situada nas imediações do local onde o piloto
Chuck Yeager quebrou pela primeira vez a bar-
reira do som, em 1947.
Esta unidade atraiu-nos porque
foi das primeiras na região a instalar
postos de abastecimento para veícu-
los eléctricos. Deixámos o automóvel
a carregar e uma mensagem surgiu
no ecrã: o abastecimento demoraria
quase seis horas. Deixando lá o carro
durante a noite, partimos a pé, de ca-
beças protegidas contra o vento frio,
caminhando cerca de dois quilóme-
tros até ao motel mais próximo.


O ROMANCE DOS EUA com o automóvel
começou com uma aposta. Em 1903,
antes das estradas interestaduais e dos
postos de abastecimento de combustí-
vel, um cliente de um clube privado da
Califórnia apostou 50 dólares em como
o médico Horatio Jackson não seria capaz de via-
jar de automóvel até à Costa Leste. Quatro dias
mais tarde, segundo o livro “Horatio’s Drive: Ame-
rica’s First Road Trip”, da autoria de Dayton Dun-
can e Ken Burns, Jackson e um mecânico partiram
de São Francisco aos solavancos, num veículo a
motor de 20 cavalos da marca Winton. Adoptaram
um buldogue chamado Bud e puseram-lhe óculos
para lhe protegerem os olhos da poeira. Transpu-
seram passagens montanhosas em estradas não
asfaltadas, com o motor a roncar, chapinharam
em ribeiros, tiveram avarias e foram rebocados
por cavalos. Esperaram também que lhes trouxes-
sem peças suplentes por comboio. Horatio Jack-
son chegou a Nova Iorque 63 dias mais tarde,
completando a primeira travessia de automó-
vel do país.


A viagem de automóvel está hoje enraizada na
mente dos norte-americanos como uma opor-
tunidade de descoberta, de recordar, esquecer,
ultrapassar um acontecimento da vida ou de
nos perdermos. Eu e David, ambos do Midwest
já tínhamos feito as nossas viagens de automóvel
pelo país quando éramos novos.
De momento, uma travessia do país num auto-
móvel eléctrico exige um ajuste das expectativas.
O carregamento completo da bateria pode demo-
rar uma hora ou 24 horas, dependendo da bateria
e do carregador. Com excepção dos mais de 750
postos de supercarga exclusivos da Tesla, há pou-
cos lugares nos EUA onde abastecer depressa, ao
passo que ainda existem quase 150 mil postos de
abastecimento de gasolina. Mas a maior parte dos
veículos eléctricos pode ser carregada durante a

noite, em casa. E a Tesla, dona da rede mais ro-
busta de abastecimento rápido do país, também
possui 3.800 postos de abastecimento mais lento.
Deixando Mojave para trás, atravessámos ra-
pidamente as planícies salgadas e entrámos no
estreito vale de Panamint. Em condições ideais,
o nosso Kauai conseguia percorrer 415 quilóme-
tros com uma única carga. No entanto, tínhamos
de subir passagens montanhosas e de utilizar o
ar condicionado contra os ventos quentes que
faziam abanar as portas. Eu lera que opções
dessas podem reduzir a autonomia da bateria,
o que desencadeou em nós o primeiro de vários
acessos de “ansiedade de distância”. O trajecto
chegou ao fim, sem incidentes, no vale da Morte,
onde encontrámos uma estalagem sumptuosa
com um posto de carregamento.

CONSEGUIRÁ A ENERGIA SOLAR
DISSEMINAR-SE COM RAPIDEZ
SUFICIENTE? OS PERITOS
SUBESTIMARAM O SEU POTENCIAL NO
PASSADO E A TECNOLOGIA PODE
PROPORCIONAR UMA MUDANÇA RÁPIDA.
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