National Geographic - Portugal - Edição 229 (2020-04)

(Antfer) #1
OCAMINHOPARA 2070 19

que os projectos eólicos no ventoso Oeste do Texas
pudessem vender a energia às cidades do Leste,
como Dallas. Os resultados foram espectaculares.
Em 2017, o Estado da Estrela Solitária já produzia
um quarto da energia eólica do país.
Ao mesmo tempo, porém, a Bacia Pérmica, no
Oeste do Texas e no Novo México, transformava-
-se numa das maiores zonas de extracção petro-
lífera do mundo, graças aos progressos de frac-
turação hidráulica, ou fracking. O Texas produz
actualmente mais do dobro do que o Alasca pro-
duzia no seu auge, em 1988. Só o excedente de gás
natural que as empresas queimam ou libertam,
por não disporem de gasodutos para o vender, ul-
trapassa 22,5 milhões de metros cúbicos diários,
segundo a Rystad Energy. É o suficiente para sa-
tisfazer o consumo de todo o estado de Washin-
gton, onde eu vivo. O gás queimado li-
berta CO 2. O gás natural libertado é, na
sua maior parte, metano, que aquece o
planeta com mais intensidade.
Em Sage Draw, os surtos de cresci-
mento da energia eólica e do petróleo
do Texas encontram-se. A ExxonMobil
planeia aumentar os seus empreendi-
mentos petrolíferos na Bacia Pérmica
em 80% nos próximos quatro anos.
Para iniciar as operações, a empresa
petrolífera assinou um acordo de aqui-
sição da maior parte da electricidade
renovável produzida em Sage Draw e
num parque eólico próximo, ambos
pertencentes à empresa Ørsted, sedia-
da na Dinamarca. Frank Sullivan, res-
ponsável pelo negócio petrolífero ter-
restre da Ørsted nos EUA, classificou o
acordo como um “indicador importante” da nova
competitividade da energia limpa. Também é um
indicador dos estranhos tempos em que vivemos.
No Texas, a energia limpa está a contribuir para
a extracção de mais combustíveis fósseis quando,
na verdade, precisa de os substituir por completo.


COMO É EVIDENTE, grande parte dos cidadãos ainda
compram aquilo que a ExxonMobil vende. E, ao
atravessarmos este país dividido, tornou-se claro
que alguns norte-americanos não se mostram dese-
josos de mudança. Em Tucumcari, no Novo México,
os condutores podem encontrar uma pequena uni-
dade de carregamento para veículos eléctricos num
antigo posto de abastecimento da Conoco. No dia
em que chegámos, alguém o bloqueara com uma
carrinha de caixa aberta Ford F-250.


EM 2007, UM TORNADO DESTRUIU
GREENSBURG, NO KANSAS.
A CIDADE RECONSTRUÍDA FUNCIONA
AGORA COM ENERGIA RENOVÁVEL.
É UM REGRESSO À AUTO-SUFICIÊNCIA
DOS PIONEIROS DA PRADARIA.

No Kansas, um camião que transportava uma
turbina eólica gigante completou mal uma cur-
va, bloqueando o trânsito. Enquanto os veículos
recuavam, uma carrinha acelerou a fundo e deu
a volta, expelindo fumo negro. O condutor frus-
trado estava a “cuspir carvão”. Modificara o seu
motor a gasóleo para emitir mais fumos de esca-
pe carregando num botão. Foi como um protes-
to antiambientalista também conhecido como
“empoeirar Prius”.
Apesar disso, as atitudes estão a mudar: os
norte-americanos aderem à transição energética
quando esta lhes é benéfica. Enquanto circula-
va pelos clarões luminosos de Las Vegas, com as
suas fontes de néon e holofotes a varrer o céu, fi-
quei boquiaberto com o desperdício de energia.
No entanto, uma nova lei exige que metade da

electricidade do estado seja produzida a partir
de renováveis até 2030. Na porta ao lado, no tam-
bém soalheiro vizinho Arizona, uma empresa
pública de energia investiu 33 milhões de euros
para derrotar uma proposta de lei desenvolvida
com os mesmos objectivos. Este ano, contudo,
mudou de rumo, anunciando como objectivo
tornar-se 100% renovável até 2050.
No Colorado, encontrámos o engenheiro de
software Kevin Li, enquanto ele carregava o seu
Tesla Model 3 de 2018. Tinha acabado de ir bus-
cá-lo à Califórnia e conduzia-o de regresso a casa,
na Carolina do Norte. Quando lhe perguntei que
influência tinham tido as alterações climáticas na
sua escolha, Kevin pareceu confuso. Repeti-lhe a
pergunta: comprou um Tesla por se sentir muito
preocupado com o aquecimento global?

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