National Geographic - Portugal - Edição 229 (2020-04)

(Antfer) #1

24 NATIONALGEOGRAPHIC


QUANDO ESTUDAVA no Instituto Tecnológico de
Massachusetts, Robert “RJ” Scaringe instalou esten-
dais de roupa no seu apartamento e teve outros
gestos “demorados e desafiadores” para minimizar
a sua pegada de carbono. Ele achava que não bas-
tava persuadir os outros a prescindir das comodi-
dades da vida moderna. “É demasiado difícil”, disse.
Hoje em dia, Robert dirige a empresa tecnológica
Rivian, que fabrica veículos eléctricos e planeia lan-
çar um modelo desportivo utilitário e uma carrinha
ainda em 2020. Celebrou também um acordo com
a gigante retalhista Amazon para construir 100 mil
camiões de entregas eléctricos até 2030.
Aquilo que é válido para as renováveis também
se aplica aos veículos eléctricos: a situação está a
mudar rapidamente, mas não com rapidez sufi-
ciente. A nível mundial, existem cinco milhões de
automóveis eléctricos, um aumento de aproxima-
damente dois milhões num ano. Só a Volkswagen
tem planos para construir mais 26 milhões no es-
paço de dez anos. Mas isso acontece num mundo
onde há cerca de 1.500 milhões de automóveis e
camiões. Os veículos eléctricos representam ape-
nas 2% do mercado dos EUA.
A Tesla não é a única empresa a esforçar-se
por tornar os veículos eléctricos mais atraentes.
A Ford apresentou um Mustang eléctrico e a Har-
ley-Davidson uma moto eléctrica. No entanto, os
condutores de todo o mundo estão a mostrar pre-
ferência por SUV mais pesados e mais poluentes:
existem agora mais de duzentos milhões na estra-
da, seis vezes mais do que em 2010. Robert Scarin-
ge tem esse mercado como alvo.
Na unidade de engenharia e design da Rivian,
em Plymouth, no Michigan, Robert concentra-se
em veículos para estilos de vida activos. Junta-
mente com os seus sócios, planeia construir pos-
tos de carregamento de alta velocidade em lugares
com menos tráfego automóvel, perto dos “limites
dos trilhos”. Embora os adolescentes nem sequer
consigam imaginar como era a vida antes das re-
des sociais, Robert tem esperança de que os seus
próprios filhos (todos com menos de 5 anos) nun-
ca venham a conhecer um mundo “onde o carre-
gamento não seja omnipresente”.


NOS DIAS SEGUINTES, eu e David apressámo-nos a
chegar ao nosso destino: a cidade de Washington.
Parámos no Ohio para uma visita guiada à First
Solar, o maior fabricante norte-americano de pai-
néis solares. Na Pensilvânia, passámos de carro pela
central nuclear de Three Mile Island. Quarenta anos
depois do célebre acidente que fez encerrar o seu


primeiro reactor, o outro também foi encerrado pois
as operações já eram demasiado caras. Sete outras
centrais nucleares dos EUA fecharam desde 2013,
estando previsto o encerramento de mais sete até


  1. Grande parte da sua electricidade isenta de
    carbono será substituída por gás natural, rico em
    emissões. O debate acerca do futuro da energia
    nuclear é complicado e cada vez mais ideológico.
    O mesmo se aplica ao debate sobre as alterações
    climáticas. “Infelizmente, por razões difíceis de
    compreender, a sustentabilidade tornou-se uma
    questão altamente política”, dissera-me Robert
    Scaringe. Contudo, serão necessárias mudanças
    nas políticas públicas a todos os níveis da gover-
    nação para acelerar a transição para uma energia
    limpa. Será possível reunir um país polarizado em
    torno de soluções?
    Dias antes do início da nossa viagem, visitei um
    homem que se candidatara à presidência para
    concretizar esse projecto. Conduzi um Nissan
    Leaf desde a minha casa em Seattle até Olympia,
    a capital estadual, para falar com o governador de
    Washington, Jay Inslee. O meu interlocutor deli-
    neara planos para tudo, desde uma política nacio-
    nal de energias renováveis para as empresas públi-
    cas até uma norma de construção zero-carbono.
    Mas a sua campanha presidencial nunca arrancou
    e ele acabara de desistir quando o entrevistei.
    Aparentemente sem se deixar vergar, con-
    tou-me uma história sobre a capacidade do país
    para se mover depressa quando existe vontade.
    Em 1940, o exército dos EUA pediu aos fabrican-
    tes de automóveis que projectassem um veículo
    “ligeiro de reconhecimento” novo em folha. No
    final da Segunda Guerra Mundial, cinco anos
    mais tarde, já tinham sido construídos quase
    645 mil jipes. “Estamos num filme do qual ainda
    não vimos o final”, afirmou. “E temos capacida-
    de para chegar a um final feliz.”
    Um mês depois de partirmos de Santa Mónica,
    eu e David chegámos a Washington. Numa visi-
    ta rápida ao Museu Nacional de História Ameri-
    cana, vi o Winton vermelho de Horatio Jackson,
    com uma réplica do buldogue Bud, de óculos no
    focinho. A exposição sobre viagens de carro ame-
    ricanas também abordava uma árdua travessia
    do país, em 1919, por uma caravana de viaturas
    militares que incluíra um jovem tenente-coronel,
    chamado Dwight Eisenhower. Mais tarde, en-
    quanto presidente, Eisenhower seria o paladino
    do sistema de estradas interestaduais.
    Uma vitrine contava a história de como estas
    estradas se tinham tornado necessárias. Um

Free download pdf