National Geographic - Portugal - Edição 229 (2020-04)

(Antfer) #1
Lições a aprender
Um estudante universitário com
uma máscara de gás “cheira”
uma magnólia em Nova Iorque
durante a manifestação de 22
de Abril de 1970, o primeiro Dia
da Terra. Eventos locais foram
organizados para informar e
consciencializar a população à
medida que esta se preocupava
mais com questões ambientais
como a poluição e a eliminação
de resíduos químicos. Segundo
um inquérito da Casa Branca
realizado um ano mais tarde,
25% do público norte-ameri-
cano defendeu que a protecção
do ambiente era um objectivo
importante. Em 1969, o número
fora perto de zero.
AP PHOTO

NacidadedeNovaIorque,arrastarampeixesmortos pelas ruas. Em Bos-
ton,encenaramum“localdemorte”noAeroporto Internacional de Logan.
EmFiladélfia,assinaramuma“DeclaraçãodaIndependência” gigante, com
todasasespéciesincluídas.
“ODiadaTerrafezexactamenteaquiloqueeuesperava”, diria mais tarde
Nelson,umdemocratadoWisconsin.“Foiumamaravilhosa e genuína ex-
plosãodopoderpopular.”
Souumprodutodaquelemomento“singular”,com os seus locais de morte
encenadaedeclarações.Passeiadécadade 1970 a manifestar-me à chuva,
tentandoconvencerosmeuscolegasdeescolaareciclarem as latas de refri-
gerantes,avestircalçasàbocadesinocomfloresroxas gigantes estampadas
eapreocupar-mecomofuturodoplaneta.
Emadulta,tornei-mejornalistaespecializadaem ambiente. De certa for-
ma,transformeiasminhaspreocupaçõesdejuventude numa profissão. Visi-
teiaAmazóniaparaacompanharadesflorestação,a Nova Zelândia para ver
o impacte das espécies invasoras e a Gronelândia para acompanhar perfu-
rações científicas em camadas de gelo em fusão. Também tive filhos. Senti
orgulho quando os vi entrar para o clube ambiental da escola e contei-lhes,
talvez demasiadas vezes, as minhas memórias de tirar artigos recicláveis dos
caixotes do lixo na cantina da escola.
Hoje, vivo em Nova Inglaterra, onde o 22 de Abril pode ser um dia glorioso.
No Dia da Terra, todos os anos, esforço-me por dar um passeio na floresta
perto de minha casa. Procuro girinos e admiro a beleza efémera da Primave-
ra. E todos os anos fico mais preocupada com o futuro do planeta.

SE, NO PRIMEIRO DIA DA TERRA, em vez de ver Walter Cronkite na CBS, tivesse
visto a NBC, teria ouvido um dos jornalistas desse canal, Frank Blair, transmi-
tir uma mensagem curiosa. No final da sua cobertura das celebrações, Blair
comentou que um cientista chamado J. Murray Mitchell lançara um “aviso
impressionante sobre o Dia da Terra”. Blair resumiu o aviso da seguinte forma:
se não fizéssemos algo para reduzir a poluição atmosférica, esta “criaria um
efeito de estufa” que aqueceria todo o planeta. Por fim, o efeito seria suficiente
para derreter a calota polar do Árctico e inundar “grandes áreas do mundo”.
Provavelmente, muitos espectadores não faziam a mais pequena ideia do
que Blair estava a dizer. Em 1970, a expressão “aquecimento global” ainda
não fora cunhada. Os cientistas sabiam que alguns gases, incluindo o dióxido
de carbono, retêm o calor junto da superfície da Ter-
ra. É um facto conhecido desde a época victoriana.
No entanto, poucos tinham tentado calcular o im-
pacte da queima de combustíveis fósseis. A mode-
lação climática dava então os seus primeiros passos.
A partir de então, os modelos tornaram-se mui-
to mais sofisticados. E embora muitos americanos
ainda se recusem a aceitar a ciência das altera-
ções climáticas, agora todos estamos a viver com
essas consequências.
A camada permanente de gelo do Árctico (o gelo
marinho que persiste ao longo do Inverno e do Ve-
rão) está a desaparecer. Ao longo do último meio sé-
culo, encolheu mais de três milhões de quilómetros
quadrados. Os níveis do mar estão a aumentar cada
vez mais depressa, em grande parte devido ao degelo
acelerado da Gronelândia e da Antárctida.

PÁGINAS ANTERIORES:
O trabalho da artista californiana
Shane Grammer decora
as ruínas da Igreja Adventista
do Sétimo Dia em Paradise,
na Califórnia. O incêndio de
Novembro de 2018
destruiu quase toda a cidade.
À medida que o clima muda,
as temperaturas mais quentes,
a diminuição da queda de neve
e o degelo antecipado na
Primavera criam estações secas
mais longas, que perturbam
as plantas e as árvores.
As florestas e as matas secas
contribuem para incêndios de
maiores dimensões, tornando
mais vulneráveis as comunida-
des que habitam regiões
propensas a incêndios.
STUART PALLEY

GUIA DO PESSIMISTA (^) | ONDE ESTAREMOS EM 2070?

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