O Estado de São Paulo (2020-04-05)

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B2 Economia DOMINGO, 5 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


O pagamento de quase
R$ 100 bilhões em be-
nefícios previdenciá-
rios e de mais de R$ 50
bilhões a título de pes-
soal e encargos sociais
dominou as contas do
Tesouro Nacional no primeiro bimes-
tre, pesando 70% na despesa total de


R$ 216 bilhões excluídos os juros. Hou-
ve, no período, um superávit primário
de R$ 18,3 bilhões, com saldo positivo
de R$ 51,9 bilhões do Tesouro e do Ban-
co Central (BC) e déficit de R$ 33,
bilhões da Previdência Social (Regime
Geral da Previdência Social – RGPS).
Em 12 meses, até fevereiro, o dese-
quilíbrio do RGPS somado ao da Pre-
vidência dos servidores civis e milita-
res atingiu, apenas no governo cen-
tral (ou seja, excluídos Estados e mu-
nicípios), nada menos de R$ 323,6 bi-
lhões ou 4,4% do Produto Interno Bru-
to (PIB), segundo a publicação Relató-

rio do Tesouro Nacional.
Em razão da fraqueza do emprego
formal, a arrecadação previdenciária
do bimestre – de R$ 65,8 bilhões – foi
inferior em 1,3%, em termos reais, à
de igual período do ano passado. Que-
da mais acentuada foi verificada na
chamada Previdência Urbana (-1,5%),
indicando que a situação do emprego
nas cidades pouco melhorou. Ao mes-
mo tempo, os benefícios previdenciá-
rios em geral cresceram 2,8% e os ur-
banos aumentaram 3,2% reais. Os da-
dos mostram como são lentos os efei-
tos da reforma previdenciária aprova-

da em 2019.
A partir de março de 2020, começa-
rão a ser percebidos os efeitos da epi-
demia do coronavírus. Aprovado o
estado de calamidade pública, o go-
verno foi dispensado de atingir a me-
ta fiscal definida na Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) até o fim do
período de calamidade. Mas isso, aler-
tam os responsáveis pelo Tesouro,
não afasta a necessidade de “evitar os
erros cometidos em 2009”, quando o
uso de políticas anticíclicas “foi am-
pliado no pós-crise e estas se torna-
ram políticas permanentes de conces-

são de subsídios e de maior interven-
ção do Estado na economia”. A expan-
são do gasto público federal terá de
estar circunscrita aos programas de
transferência de renda direcionados
aos trabalhadores informais e de bai-
xa renda.
No plano positivo, o pagamento
dos benefícios será um elemento im-
portante de preservação do consumo
e, portanto, da atividade econômica.
Lamentavelmente, há enorme limita-
ção ao corte de outras despesas públi-
cas, ao contrário do que ocorre no
setor privado.

Alto Escalão


Editorial Econômico


Previdência limita


os bons números


das contas fiscais


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D


epois de popularizar o trabalho de agentes autônomos, a XP Inves-
timentos lançará esta semana uma plataforma voltada a gestores
de carteiras. Desenvolvida desde o início do ano passado, a ferra-
menta estreia com 40 gestores, incluindo grandes family offices, que a es-
tão usando desde o segundo semestre. Segundo o diretor executivo da XP
Inc., Gabriel Leal, a tendência é que a plataforma reduza a barreira de en-
trada de novos profissionais a esse mercado e permita o crescimento do
número de gestores. A investida da XP se inspira em seu próprio histórico


- ela foi responsável por levar a categoria de agentes autônomos no Brasil
a outro patamar. Com a novidade, Leal afirma que a XP se transformará
em um “hub” para todo ecossistema de investimentos.


O


índice de inflação que será di-
vulgado no próximo dia 9 virá
com certas distorções, porque
a pandemia e o confinamento das famí-
lias produziram importantes mudan-
ças na estrutura de consumo.
Itens como refeições fora de casa, ser-
viços pessoais (barbeiro, manicure) e
condução, que têm peso importante na
cesta de consumo, caíram a níveis resi-
duais. Subiram outros, como farmacêu-
ticos e despesas com supermercado,
mas não na proporção inversa da queda
de consumo dos itens anteriores. Há
fortes alterações tanto na estrutura do
consumo de mercadorias e serviços
que compõem a cesta média das famí-
lias como, também, nos preços. Gasoli-
na e etanol passaram a ser consumidos
muito menos do que antes e tiveram
expressiva redução de preços.
Os institutos que aferem as mudan-
ças no custo de vida trabalham com
uma estrutura de consumo, levantada
a partir de longas e minuciosas pesqui-
sas. Essa estrutura varia relativamente
pouco nos levantamentos ordinários
feitos de um mês para o outro.
Como atesta Guilherme Moreira,
coordenador do Índice de Preços ao
Consumidor da Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), mu-
danças de curto prazo nos custos de con-
sumo são impraticáveis, porque esses
são levantados com base na Pesquisa de
Orçamento Familiar (POF), realizada a
cada dez anos pelo IBGE com o objetivo
de compor uma fotografia pormenoriza-
da dos hábitos de consumo das famílias.
A última edição da POF é de 2019,
com dados coletados em 70 mil lares
brasileiros, em 2017 e 2018. A pesquisa
contabilizou então despesas que antes
não existiam, como as feitas com Net-
flix e Uber. A partir desse levantamen-
to, o IBGE pôde definir a cesta média
pela qual calcula mês a mês a variação
do Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA). A mudança ocorreu em
fevereiro. (Veja na tabela algumas das
ponderações da cesta de consumo.)
Como aponta Moreira, em princípio,
não devem ser levados em considera-
ção choques repentinos de preços que
logo vão embora e reconduzem a vida à
normalidade. O problema é que o atual
deve durar mais do que durou, por
exemplo, a greve dos caminhoneiros,
que paralisou o País em maio de 2018 e
que, na ocasião, desestabilizou o merca-
do de combustíveis. Nesse caso, argu-
menta ele, “não houve mudança de
hábito de consumo, apenas uma restri-
ção temporária de oferta”.
Parece remota a hipótese de que, des-
ta vez, em dois ou três meses, tudo vol-
te ao normal. André Braz, coordenador

do índice do Ibre-FGV, explica que, por
ser essencial, a alimentação continuará
tendo prioridade no orçamento, mes-
mo se, por exemplo, o preço do leite
subir muito, já que é item essencial para
famílias com crianças. “Se antes havia
parte do orçamento familiar voltado pa-
ra compras no mercado e comida fora
de casa, agora ele é todo voltado para a
alimentação caseira. Houve de fato
uma quebra abrupta nos hábitos.”
Outra distorção prejudicou a exati-
dão dos levantamentos em março e,
provavelmente, continuará prejudi-
cando em abril e maio. Trata-se da cole-
ta de preços feitas diretamente nos es-
tabelecimentos comerciais, que em
sua grande maioria permaneceram fe-
chados. Produtos com grande aumen-
to de procura não permitiram levanta-
mento adequado de preços. O caso do
álcool em gel, aponta Moreira, é um
pouco diferente. Embora os estabeleci-
mentos comerciais (farmácias) onde é
mais vendido tivessem permanecido
abertos, os preços não puderam ser afe-
ridos porque os pesquisadores não o
encontraram nas prateleiras.
Para cálculo do deflator implícito
nas Contas Nacionais (números do
PIB), fator que permite conhecer a evo-
lução real da renda (descontada a infla-
ção), o IBGE terá outros recursos técni-
cos para chegar a conclusão mais exa-
ta. Mas para a definição da variação do
IPCA e de outros índices de preços de
um mês para outro, fortes escapadas
de curva parecem inevitáveis.
Pergunta: como o Banco Central terá
condições de cuidar da calibragem fina
da sua política de juros, se tanto a varia-
ção do IPCA, régua que serve para confe-
rir a meta de inflação, como a do chama-
do núcleo de inflação, sofrerão tão for-
tes desvios? / COM GUILHERME GUERRA

»Nova área. Agora, a expectativa é
que profissionais que estejam, por
exemplo, no segmento private dos
grandes bancos, migrem para a XP.
Sem precisarem se preocupar com
questões tecnológicas, a facilidade
para a mudança aumenta.


»Vem pra cá. Ao ampliar o serviço
aos gestores, a XP responde a uma
demanda do mercado diante do no-
vo ambiente de juros baixos. Foi o
motivo de a plataforma manter o
lançamento, a despeito da crise tra-
zida pela pandemia. A leitura é de
que a busca por serviço profissional
na hora de investir vai crescer. A
atenção está nos R$ 4 trilhões que
os brasileiros ainda têm investidos
nos grandes bancos – concentração
que a XP trabalha para diminuir.
Com agentes de mercado começan-
do a projetar Selic no fim do ano
em 1,5%, a busca por novos investi-
mentos com ajuda profissional, vai
crescer, de acordo com Leal.


»Sem crise. O Grupo Protege regis-
trou crescimento de 63% em março,
na comparação com o mesmo mês
de 2019, no segmento de transporte
de cargas. Feito com caminhões
blindados e quatro vigilantes arma-
dos dentro do veículo, o serviço Car-
ga Segura tem atendido a empresas


de eletrônicos, principalmente tele-
comunicações, que usavam trans-
porte aéreo. As rotas aéreas do-
mésticas encolheram em mais de
70% com a crise do coronavírus, es-
pecialmente na ponte aérea Rio-SP
e na rota São Paulo-Espírito Santo.

»Pandemia judicial. Diante das me-
didas que determinaram o fecha-
mento do comércio e shopping cen-
ters, a dona das marcas Cia. do Ter-
no e Les Chemises foi à Justiça pa-
ra tentar minimizar gastos com alu-
guel e condomínio de suas 173 lojas,
enquanto durarem as restrições im-
postas pela pandemia. O escritório
Lacerda Diniz e Sena, que represen-
ta a rede, já distribuiu nada menos
que 139 ações cautelares em 22 Esta-
dos, contra proprietários que não
aceitaram negociação extrajudicial.
A maior parte das ações está con-
centrada em Minas Gerais (29), São
Paulo (19) e Rio (16).

»Guerra de liminares. Até agora o
grupo teve quatro ações indeferidas,
três deferidas e quatro parcialmente
deferidas. Outros 78 pedidos de limi-
nares estão em análise nos tribunais
e 50 processos estão encaminhados
para acordo com os proprietários
dos imóveis. A maior dificuldade es-
tá sendo com os grandes shoppings.

»Cada um de um jeito. O diferente
teor das decisões indica que pode
haver no horizonte um vale-tudo
judicial. Em Campinas, a Cia. do Ter-
no obteve liminar 100% favorável,
com suspensão total da exigibilida-
de dos pagamentos por força maior.
No Rio, o pedido referente à loja do
Top Shopping foi negado. Em Brasí-
lia, o juiz optou por um meio termo,
suspendendo parte do contrato de
locação, mas mantendo o pagamen-
to de encargos condominiais e alu-
guel porcentual sobre o faturamen-
to. Segundo o magistrado, não pode
prevalecer a lógica do “salve-se
quem puder”.

»Porta de girar. O Itaú Unibanco
vai fechar temporariamente em tor-
no de 400 agências físicas, em meio
à crise gerada pelo coronavírus. O
movimento começou na sexta. A jus-
tificativa é de que essas agências são
pequenas e a decisão de encerrar o
atendimento é temporária, por con-
ta do momento atual, para evitar
aglomerações.

»Reação. O efeito esperado por es-
pecialistas do setor bancário é que o
maior uso dos canais digitais, incen-
tivado com o isolamento social, de-
sencadeie um novo movimento de
fechamento de agências, além do
iniciado no ano passado. Somente o
Itaú encerrou 436 unidades em
2019, sendo 200 no quarto trimes-
tre.

»Com a palavra. Procurado, o Itaú
Unibanco confirmou que, devido ao
cenário de pandemia e visando à pro-
teção de clientes e funcionários, op-
tou por fazer temporariamente algu-
mas alterações no atendimento pres-
tado na rede física de agências.

FERNANDA GUIMARÃES, ALINE BRONZATI,
CRISTIANE BARBIERI E MARIANA DURÃO

CELSO


MING


Novo presidente na CVC


Leonel Andrade é o novo pre-
sidente, ele que traz no currí-
culo Smiles, Credicard e Lo-
sango. O cargo estava com
Luiz Fernando Fogaça.


»Raízen Energia. Após renún-
cia de Luis Henrique Guima-
rães ao cargo de diretor presi-
dente da companhia, foi esco-
lhido Ricardo Dell Aquila Mus-


sa, antes diretor executivo.

»IBM. Mauro Segura deixou
o posto de diretor de marke-
ting por decisão pessoal.
Seu sucessor será nomeado
em breve.

»Nissan. Antes nos EUA, on-
de era diretor de comerciais
leves, Tiago Castro volta ao
Brasil como diretor sênior de
Marketing e Vendas.

»BB Seguridade. Erik da Cos-
ta Breyer será o novo diretor
de Finanças, Relações com In-
vestidores e Gestão das Parti-
cipações, vindo do BB, onde
era diretor de Mercado de
Capitais e Infraestrutura.

»Thyssenkrupp Elevadores.
Antes diretor de operações
(COO), Paulo Manfroi torna-
se CEO para a América Lati-
na, após aposentadoria de Al-

ceu Paz de Albuquerque.

»Movile. Patrick Hruby é o
novo CEO do Grupo Movile
no lugar de Fabricio Bloisi,
cofundador, que passa a
presidente do conselho
enquanto mantém a posição
de CEO do iFood.

»Alfresco. Ex-country mana-
ger da Symantec, Márcio Le-
brão está como diretor regio-

nal para América Latina.

»Vivara. No lugar de Josemir
da Silva, assume interinamen-
te a diretoria financeira o
diretor de Relações com
Investidores Otavio Chacon
do Amaral Lyra.

»Ouro Verde. Manuel Silva,
ex-CEO da Fleet (Grupo
Volkswagen), chega como
diretor executivo Comercial.

lPeso mensal da cesta do IPCA

O cálculo da inflação,


outra vítima do vírus


| LUANA PAVANI | E-MAIL: [email protected]

coluna do


Após agentes autônomos,


XP quer conquistar gestores


E-MAIL: [email protected]

JOSÉ PROENÇA

MATHEUS LOMBARDI/XP

Em porcentagem
Alimentação e bebidas 19,
Em domicílio 13,
Fora de casa 5,
Habitação 15,
Vestuário 4,
Transportes 20,
Transporte público 3,
Veículo próprio 11,
Combustíveis (veículos) 6,
Saúde e cuidados pessoais 13,
Serviços de saúde 5,
Cuidados pessoais 3,
Despesas pessoais 10,
Serviços pessoais 6,
Recreação e fumo 3,
Educação 6,
Comunicação 5,
Plano de telefonia móvel 1,
TV por assinatura 0,
Acesso à internet 0,
Aparelho telefônico 1,
Serviços de streaming 0,
Outros 3,
FONTE: IBGE
SERGIO MORAES/REUTERS–6/9/

PRISCILA BURES

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