O Estado de São Paulo (2020-04-05)

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H8 Especial DOMINGO, 5 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


PERGUNTAS & RESPOSTAS


1. Como montar um cro-
nograma de estudos
realista?

Uma boa dica é dividir
os estudos ao longo do
dia em blocos de mi-
croaulas, afirma Giselle
Santos, especialista em
Inovação e Tecnologias
Educacionais e Google
Innovator. “Nenhum aluno
deve ultrapassar quatro horas
de aula por dia – quanto mais
novo, menor será o tempo. Os
blocos podem durar entre 15
minutos e 45 minutos.” A pro-
fessora de pós-graduação da
Faculdade de Educação da
USP Silvia Gasparian Colello
explica que é necessário agir
de forma realista. “Os projetos
educativos das escolas presen-
ciais não podem ser transplan-
tados de uma hora para outra
para uma situação a distância.”
2. Como fazer com crianças
e adolescentes que já preci-
savam de reforço escolar?

Giselle Santos afirma que é im-
portante entender quais são as
necessidades da criança e mon-
tar uma rede de apoio. “Pode
ser um professor particular, a
família ou colegas”, diz. Os
pais precisam ter claro que não
dá para se transformar em pro-
fessor, diz Silvia Gasparian Co-
lello, da USP. “Considerando o
ensino que vem da escola, é
impossível criar um sistema
individualizado. O que sobra
como alternativa é valorizar
momentos de aprendizagem.”
3. Como saber se meu filho
está acompanhando o ritmo
dos outros alunos?

Comparar desempenho de
crianças em atividades online
que estão acontecendo em um
movimento provisório e transi-
tório não é o caso, diz Silvia
Gasparian Colello, da USP. “É
muitas vezes um exagero do
pai. Precisamos fazer, neste
momento, o que é possível,
sem estabelecer altos níveis de
expectativa ou de comparação
entre o desempenho das crian-
ças.” Estêvão Zilioli, consultor
de inovação e tecnologia educa-
cional, lembra que os alunos
têm ritmos diferentes e a ideia
de “acompanhar os outros”
pode ser irreal.
4. Como saber se o progra-
ma online passado pela es-
cola está adequado?

Converse com o seu filho, per-
gunte o que está ou não funcio-
nando. “É preciso entender as
dificuldades não com o conteú-
do, mas com a entrega. Depois
disso, converse com a escola”,


explica a especialista em inova-
ção e tecnologias educacionais
e Google Innovator Giselle
Santos. Silvia Gasparian Colel-
lo, da USP, lembra que é preci-
so entender o momento atual.
“A avaliação da escola pela fa-
mília é um processo a longo
prazo. Os pais precisam ter
confiança no projeto pedagógi-
co da escola, no currículo e nas
propostas.”

5. Devo passar exercícios
extras?

A resposta é unanimidade en-
tre especialistas: não é o mo-
mento de exercícios extras.
“Está sendo difícil para todos,
as crianças já se sentem oprimi-
das pela situação e a aula parti-
cular dada por um pai só vai
sobrecarregá-las”, explica Sil-
via Gasparian Colello.
6. As escolas devem fazer
provas nesse período de con-
finamento?

Muito mais do que ensinar e
aplicar prova, a função do pro-
fessor é ajudar o aluno a supe-
rar essa fase complexa, diz
Francisco Tupy, professor de
Tecnologia Educacional. “Acre-
dito que mais do que a avalia-
ção do que foi aprendido, é ter
a noção de quanto foi apreendi-
do”, afirma.
7. O isolamento está afetan-
do o rendimento escolar do
meu filho, o que fazer?

As perdas pedagógicas e as de-
fasagens de conteúdo são inevi-
táveis e é preciso ter isso como
uma realidade. “Os pais preci-
sam pensar que as escolas vão
se organizar para recuperar
esse tempo perdido no seu pró-
prio desenvolvimento poste-
rior”, afirma professora de
pós-graduação da Faculdade
de Educação da USP Silvia Gas-
parian Colello. Francisco
Tupy, professor de Tecnologia
Educacional, avalia que talvez
não seja a questão de pensar
no rendimento escolar, mas no
bem-estar das crianças, com
questões que vão além da esco-
la. “A vida está cobrando uma
série de habilidades e conheci-
mentos que talvez o conteúdo
não venha em primeiro lugar.”
8. O que é melhor agora:


uma rotina rígida, como se
ele estivesse na escola, ou
mais relaxada?
Procure um meio-termo.
“É preciso, sim, criar roti-
nas. Mas elas devem
ser mais leves, estrutu-
radas e flexíveis”, diz
Giselle Santos.

9. Grupos de estudo
online são bons?

“Não pode funcionar como
uma sobrecarga para quem já
tem tarefas escolares. É preci-
so ver como o grupo de estudo
vai ser conciliado com as tare-
fas escolares e a natureza des-
sa proposta”, diz a professora
de pós-graduação da Faculda-
de de Educação da USP Silvia
Gasparian Colello.
10. Meu filho está vendo au-
las e tentando fazer exercí-
cios e tem muitas dúvidas.
Ensino online de fato funcio-
na para todos?

Não dá para ter uma resposta
sobre se o ensino online funcio-
na ou não, diz Silvia Gasparian
Colello. “Mas é a única alterna-
tiva que temos no momento.”
11. O quanto devo ajudar um
filho adolescente?

O diálogo entre os pais e filhos
adolescentes é saudável e ne-
cessário. Mas é preciso manter
o jovem com autonomia, sem
que os pais assumam questões
por eles. “Uma coisa é ajudar,
outra é fazer pelo adolescente.
É preciso ter essa noção, por-
que o excesso de ajuda atrapa-
lha”, afirma Francisco Tupy.
12. O que a escola deveria
estar propiciando para o
meu filho agora?


Segundo especialistas, uma
rede de suporte acadêmico é
fundamental para o momento,
além de um canal em que os
pais conversem com as institui-
ções sobre as demandas do mo-
mento e as mudanças que eles
acreditem necessárias.

13. Meu filho está na alfabeti-
zação. Vai fazer muita dife-
rença para o processo de
leitura dele este tempo sem
aulas?

O ideal é que os pais criem
uma estrutura de leitura para a
criança. Giselle Santos sugere
um exemplo simples de exercí-
cio: descubra em casa tudo o
que tem a letra do seu nome,
esconda a letra e faça uma caça
ao tesouro. Mas a escola preci-
sa entender que o conteúdo de
alfabetização deve chegar ao
aluno.
14. Aprendi de forma diferen-
te a fazer exercícios e a mi-
nha forma de raciocinar é
diferente da que está sendo
ensinada hoje. Ensino do
meu jeito?
É possível conciliar o conteú-
do dos pais e da escola. Para o
aluno, é interessante que ele
saiba as diferentes maneiras de


chegar a um mesmo resultado
e adotar a fórmula que é mais
fácil para ele.

15. Acho os livros atuais mui-
to confusos. Às vezes, o con-
teúdo está espalhado em
livros de várias disciplinas.
Como faço para explicar as
matérias?

Os pais devem entender o obje-
tivo de aprendizagem a ser ex-
plorado e saber o que pretende
passar de conteúdo para o fi-
lho. A internet é um bom cami-
nho para explicar o conteúdo
de uma forma que pareça inte-
ressante para ele.
16. Como encontrar fontes
confiáveis para ajudar o
meu filho?

Há sites oficiais, mídia especia-
lizada com planos de aula e
ideias de educação, para alu-


nos e pais. O ideal é o pai fazer
essa busca e verificar se a pági-
na traz os conhecimentos e ha-
bilidades que o filho precisa
desenvolver. Estêvão Zilioli,
consultor de inovação e tecno-
logia, indica o YouTube Edu e
o Google Acadêmico.

17. Meu filho iria fazer inter-
câmbio neste ano. E agora?

Francisco Tupy afirma que é
hora de repensar a estratégia.
“Um intercâmbio frente ao
que acontece no mundo é algo
que não cabe na realidade.” Ele
sugere que, se o objetivo do
intercâmbio for o desenvolvi-
mento de uma língua estrangei-
ra, é possível buscar outras for-
mas de aprender. Se o objetivo
é entrar em contato com ou-
tras culturas, existem sites e
aplicativos para trocar conheci-
mento.
18. Neste ano, meu filho iria
prestar o SAT, teste das fa-
culdades americanas. Ele
será muito prejudicado com
a falta de aulas? É possível
compensar de algum jeito?

Converse com as instituições
que aplicam a prova, veja se
haverá mudanças e como tudo
vai acontecer. “Seu filho não é
a única pessoa que está passan-
do por isso. Ler e estudar o pro-
grama e contatar um professor
online é algo que ele pode fa-
zer”, diz Francisco Tupy.
19. O que fazer para que a
criança não perca a inti-
midade com novos idio-
mas?

Procure expor seus filhos a
esse idioma. Assistindo fil-
mes e vídeos com legendas e
músicas com traduções, de for-
ma que ele possa aprender se
divertindo.
20. Se não consigo ajudar
meu filho com as aulas, de-
vo contratar um professor
online ou procurar a escola?

Francisco Tupy, professor de
tecnologia educacional, diz
que a escola precisa saber o
que está acontecendo. “Tenha
um diálogo com a escola para
saber por que seu filho não es-
tá prestando atenção. Contra-
tar um professor é algo que po-
deria funcionar. Mas a escola
tem de saber para tentar revi-
sar o método.”


Bianca Gomes


Com a suspensão das aulas pre-
senciais, estudantes têm encon-
trado em canais do YouTube
uma opção para manter a rotina
de estudos. A maior demanda
durante a pandemia fez profes-
sores mudarem o conteúdo tra-
balhado nos vídeos e investi-
rem em pacotes promocionais
para atrair um novo público.
O estudante Vinícius Costa,
de 19 anos, cancelou sua matrí-
cula no cursinho presencial de
R$ 1.200 e assinou o online por
R$ 19,90. A mudança, segundo
ele, se deu por causa da pande-
mia. “Não compensa pagar esse
valor por um cursinho que não
me daria uma plataforma com-
pleta como os online, que já es-
tão nesse mercado.”


Ele conta que se adaptou bem
ao método a distância, que an-
tes criticava. “Agora posso fa-
zer meu próprio horário de estu-
do e ver a matéria específica a
qualquer momento e quantas
vezes quiser.”
Dono de um canal de 1,8 mi-
lhão de inscritos e do site Biolo-
gia Total, o professor Paulo Ju-
bilut viu crescer em 100% as vi-
sualizações de sua plataforma
após o início da pandemia. Ele
aumentou em 20% o número de
vídeos semanais e acrescentou
ao portfólio conteúdos sobre
coronavírus. O último, lançado
há três dias, acumula quase 150
mil visualizações.
“Notamos uma migração de
quem está cancelando matrícu-
la em cursinho presencial e in-
do para a categoria online”, afir-

ma o professor. As assinaturas
do site também cresceram na
comparação com o ano passa-
do. “Se antes da crise tínhamos
uma média entre 600 e 800 alu-
nos simultaneamente na plata-
forma, agora temos de 3 mil a 4
mil pessoas usando o site ao
mesmo tempo.”
Na plataforma do canal Se Li-
ga!, estudantes estão mais ati-
vos. As duas últimas semanas
superaram em 20% as redações
enviadas para a correção dos
professores.
Além disso, os estudantes
têm se conectado mais vezes
por dia no site e aumentado o
tempo de visualizações de ví-
deos. “Notamos que a média de
alunos por semana teve um in-
cremento de aproximadamen-
te 50% em relação ao mesmo pe-

ríodo do ano passado”, afirma
Ana Paula Dibbern, porta-voz
do cursinho online.
Disciplinas como História,
Geografia e redação têm tido
mais perguntas de alunos du-
rante os plantões de dúvidas.

Exemplo. O cenário de estu-
dantes experimentando o ensi-
no a distância é uma oportuni-
dade de captar novos clientes,
muitos que talvez nem cogitas-
sem a modalidade, segundo Ju-
bilut. Para isso, o canal ofere-
ceu a assinatura por preço me-
nor, com liberação de parte dos

conteúdos pagos.
Com o Se Liga! não foi dife-
rente. “É o maior desconto que
a gente já deu em todos os anos,
inclusive durante a Black Fri-
day”, diz Ana Paula.
Além da plataforma e do ca-
nal no YouTube, a professora
de história Débora Aladim apos-
ta no Instagram como canal de
comunicação com os estudan-
tes. O conteúdo, porém, não é o
mesmo. “No Instagram as pes-
soas não estão focadas em estu-
dar, mas em consumir outras in-
formações, como dicas de estu-
dos e planejamento.”

O professor de Português
Noeslen Borges decidiu inves-
tir em uma série sobre coronaví-
rus e em lives semanais. Ama-
nhã, ele receberá em seu canal
os professores Débora Aladim,
Jubilut, Rafael Procópio e Cari-
na Fragozo para falar sobre as-
pectos diferentes do vírus, cada
um dentro de sua disciplina.
Apesar de as visualizações te-
rem se mantido em seu canal do
YouTube, onde acumula 2,76
milhões de inscritos, Noeslen
afirma que as vendas cresce-
ram, principalmente em cursos
mais curtos, de três meses.

FONTES
lTECNOLOGIAS EDUCACIONAIS E GOOGLE INNOVATOR GISELLE SANTOS, ESPECIALISTA EM INOVAÇÃO E
l FRANCISCO TUPY, PROFESSOR DE TECNOLOGIA EDUCA-
CIONAL
lDUAÇÃO DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA USP SILVIA GASPARIAN COLELLO, PROFESSORA DA PÓS-GRA-
l ESTÊVÃO ZILIOLI, CONSULTOR DE INOVAÇÃO E TECNO-
LOGIA EDUCACIONAL

ILUSTRAÇÃO MARCOS MÜLLER/ESTADÃO

Filhos em casa*


CANAIS DE AULAS


NO YOUTUBE


BATEM RECORDE DE VISUALIZAÇÕES


DIVULGAÇÃO

Vídeos online ajudam a complementar conteúdo escolar ou


até substituem a modalidade presencial neste momento


Impacto. Com pandemia, público online do professor Paulo Jubilut cresceu 100%

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